Novas assets no mercado | Desde novembro de 2017, cerca de 95 ins...

A área de gestão de recursos, a julgar pelo número de autorizações de funcionamento emitidos pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), vai muito bem, obrigado. O órgão regulador autorizou, entre novembro de 2017 e outubro deste ano, o funcionamento de cerca de 95 instituições, incluindo desde nomes de prestígio, como IRB e Ourinvest, até distribuidoras conhecidas por atuar em parceria com grandes plataformas digitais de investimento (ver reportagem anterior) e vários negócios de pequeno porte que, muitas vezes, nem chegam a sair do papel. “Ainda não acompanhamos de forma sistêmica o início efetivo das operações de novos gestores, muitos dos quais permanecem inativos, à espera de oportunidades. O levantamento preciso e conjunto terá início no próximo ano, com base no processamento dos formulários de referência que nos são enviados pelas instituições”, comenta Vera Lucia Simões, gerente de acompanhamento de investidores institucionais da CVM.
O maior destaque da nova Safra de players é, sem dúvida, a IRB Asset Management, braço de gestão do IRB Brasil RE, a 25ª maior resseguradora do planeta, segundo a revista britânica Reinsurance News. Privatizado em 2013 e com suas ações negociadas no Brasil, Bolsa, Balcão (B3) desde julho do último ano, o IRB constituiu a sua asset em 13 de dezembro de 2017 e obteve o sinal verde da CVM para colocá-la em operação em 12 de julho último. A equipe da gestora será composta por 11 profissionais, dirigidos por Fernando Passos, atual vice-presidente financeiro e de relações com investidores do IRB e que responderá pela direção geral, assessorado por Marcel Leal da Silva, com passagens pelo Banco Brascan, Brookfield Gestão de Ativos e Oren Investimentos, que responderá pela gestão de recursos, e Iury Steiner de Oliveira Bezerra, ex-Itaú BBA, que cuidará do compliance e gestão de riscos. “A asset deve iniciar as suas atividades nos próximos meses, talvez ainda neste ano”, adianta João Bosco Barros, diretor-superintendente da Fundação de Previdência dos Servidores do Instituto de Resseguros do Brasil, a Previrb.
O cardápio a ser oferecido pela nova asset prevê, além de carteiras administradas, uma ampla gama de fundos, indo desde renda fixa tradicional, inflação e crédito privado até renda variável multimercados e investimentos no exterior. O público alvo são as seguradoras de menor porte e outras resseguradoras, com as quais o IRB dilui riscos de sua carteira. De início, a gestora responderá pela gestão de R$ 6,1 bilhões de recursos do IRB e, provavelmente, um naco significativo dos R$ 2,3 bilhões da Previrb. “Estamos conversando a respeito. A criação da IRB Asset abre perspectivas de uma gestão mais otimizada das carteiras da fundação, que hoje administra por conta própria, com uma equipe de quatro profissionais, 90% da carteira”, comenta Barros.
Em atividade desde 1977, a Previrb administra dois planos de complementação de aposentadorias, um BD e outro CV, tendo ganho em abril último uma nova patrocinadora: a IRB Investimentos e Participações Imobiliárias.

Fim da quarentena – Também é grande a expectativa pelo retorno do Ourinvest ao segmento de gestão de recursos. Depois de vender, em 2011, a Brazilian Finance para o BTG Pactual e sua controlada Banco Pan, a Ourinvest teve que cumprir uma quarentena contratual que a impossibilitou de continuar operando no segmento de securitização imobiliária e fundos de real state, no qual era especialista. Terminada a quarentena, a casa do grupo paulista entrou com pedido na CVM e recebeu, em maio último, autorização para operar a Ourinvest Asset.
A nova gestora herdou da controladora três fundos de investimento imobiliários (FIIs) que já estavam em operação (RE I; Cyrela; e JPP), com ativos de R$ 200 milhões, além de um fundo exclusivo 100% concentrado em certificados de recebíveis imobiliários (CRIs), de R$ 35 milhões. Em fase de estruturação está um quarto FII, voltado a instalações logísticas, com captação prevista de R$ 100 milhões. “A asset já nasce com R$ 335 milhões em carteira e muitos planos”, conta o diretor executivo Rossano Nonino.
As atenções dos nove profissionais já contratados pela gestora, que deverão receber reforços nos próximos meses, estão voltadas a dois outros FIIs em processo de gestação. O primeiro, previsto para o início de 2019, será lastreado em cotas de fundos imobiliários listados na B3. A ideia, segundo Nonino, é apostar na recuperação dos principais indicadores de performance de imóveis comerciais e de escritórios, sobretudo no Rio de Janeiro e em São Paulo. “Como a oferta desses ativos se encontra estagnada e ainda tardará a reagir, uma recuperação moderada da economia doméstica será suficiente para reduzir a vacância, hoje ao redor de 20% nas principais cidades do país, e alavancar os aluguéis, que estão 50% abaixo dos valores praticados no fim da última década. Os FIIs têm, portanto, boas perspectivas de ganhos reais”, projeta ele.
Com uma proposta mais elaborada, o outro fundo, que terá investidores institucionais como público-alvo, pretende se aproveitar da forte e constante oferta de imóveis ao Ourinvest. Os recursos captados servirão para a aquisição à vista de propriedades comerciais, shopping centers e galpões industriais por valores até 20% menores do que os pretendidos por seus titulares. Trata-se, em síntese, do mesmo formato adotado pelo grupo para a constituição, em 2007, do BC Fund, depois repassado ao BTG Pactual, que o rebatizou como Corporate Office. “O BC Fund aplicou US$ 500 milhões em lajes corporativas no Rio e em São Paulo e realizou, em 2011, uma oferta pública de cotas que garantiu retorno de cerca de 140% aos cotistas originais. Seu modelo servirá de referência para o fundo a ser criado”, diz Nonino.

Herança – Outra que entra na área é a Rosenberg Gestão de Recursos, que obteve autorização da CVM para iniciar as operações em julho. A asset recebe da empresa mãe, a Rosenberg Investimentos, três fundos condominiais constituídos ao longo dos últimos três anos: o Master FI Renda Fixa Crédito Privado, com ativos de 160 milhões, o Edge Multimercado Crédito Privado (R$ 50 milhões) e o Rosenberg Macro FIC FIM (R$ 26,58 milhões). “A asset será totalmente voltada a fundos abertos, cujos cotistas, tradicionalmente, têm interesse muito maior em performance de investimentos, ao contrário dos aplicadores em fundos fechados, que valorizam, sobretudo, o atendimento”, explica o gestor Eric Hatisuka.
Com passagens por Itaú, Santander e Porto Seguro, o executivo, contratado em julho, comanda uma equipe de cinco profissionais. Sua meta inicial é expandir a massa de recursos dos três fundos da casa para algo próximo a R$ 500 milhões. Com esse intuito, a gestora mantém conversações com distribuidoras e plataformas de investimento. O passo seguinte, programado para 2020, será a criação de um fundo de ações. “É um projeto de médio prazo, que será tocado com calma. Teremos antes de crescer e consolidar nossa marca no segmento de fundos abertos”, observa Hatisuka.

Imobiliário – Ainda em processo de decolagem, pois aguarda a certificação pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro de Capitais (Anbima), prevista para este mês, a Habitat Capital Partners, de São Paulo, também já conta com um fundo de investimento à sua espera. É o FII Habitat I, atualmente sob gestão da goiana TG Core. Assim que sair a autorização da CVM esse fundo, que tem R$ 130 milhões já captados e investidos em CRIs originados pelos parceiros da Habitat, virá para a Habitat, informa o gestor Eduardo Malheiros.
A Habitat Capital Partners nasceu de uma associação entre a securitizadora Fortsec, do mesmo grupo que controla a TG Core, com a firma de private equity imobiliário Maxcap e a QMS Capital, do ex-Credit Suisse Marcelo Kayath. Segundo Malheiros, “a carteira do Habitat I contempla papéis de 18 operações de CRIs, que correspondem a mais de 20 mil imóveis”.
A segunda etapa de captação do Habitat I, no valor de R$ 70 milhões, deve começar nos próximos meses e será destinada à aplicação em projetos já sob análise. Concluído o processo, a intenção da asset é replicar o Habitat I, ainda no primeiro semestre de 2019, em um novo fundo com mesmo foco e inclusive mesmo PL. “Estamos analisando a possibilidade de recorrer a parceiros para reforçar a captação. A intenção é contar com um contingente de investidores bem superior aos cerca de 60 cotistas do Habitat I”, diz Malheiros.
Representante da novíssima geração de gestores, a paulista Hoa Asset Management conta com dois sócios e conselheiros de prestígio: Roberto Luis Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), e Antonio Carlos Castrucci, ex-presidente do Banco Paulista e do Banco Bandeirante. A dupla mostra o caminho das pedras para o administrador de empresas Otávio Gadelha, de 24 anos, e os engenheiros Carlos Augusto Castrucci, filho de Antonio Carlos, e João Pedro Pastore Arruda de Araújo, da mesma idade, que fizeram suas primeiras incursões nos pregões da B3 há dois anos. “Começamos a investir dos próprios bolsos e, pouco depois, assumimos a gestão de uma carteira de R$ 700 mil reforçada por nossas famílias. Decidimos, então, criar uma asset”, conta Araújo.

Amigo – Em operação desde o segundo semestre de 2017, a Hoa (amigo, no dialeto maori, da Nova Zelândia) administra carteiras de 22 clientes através das corretoras Guide, Genial e Coinvalores, além do Banco Sabadell, da Espanha. Carlos cuida de ações, Araújo de renda fixa e Gadelha pilota a área de riscos e compliance. A empresa conta com os serviços da consultoria Eleven Financial Research e dispõe ainda de uma ferramenta eletrônica própria. “É um sistema que realiza a ponderação de vários indicadores e orientações dos investidores e apresenta modelos de carteiras sob medida”, diz o engenheiro.
Com R$ 19,28 milhões sob gestão atualmente, a asset já faz grandes planos. Sua principal aposta se concentra nas negociações em curso para a contratação de um distribuidor com capacidade, na avaliação de Araújo, de trazer R$ 100 milhões para a casa. Além disso, a Hoa pretende, já a partir de 2019, lançar veículos de investimento mais sofisticados. “Vamos começar com fundos exclusivos Depois, pretendemos transformar um clube de investimentos administrado pela Hoa em fundo de renda variável” informa.