Na busca de mais flexibilidade | Fundos multimercados com ativos ...

Raphael Santoro, da MercerJorge Simino, da FuncespEdição 257

 

O ano de 2013 será lembrado pela forte volatilidade que acometeu os mercados globais e provocou perdas generalizadas aos investidores brasileiros nos mais diversos segmentos. Com essa memória ainda muito recente na cabeça dos gestores, e com a expectativa de que movimentos abruptos nos preços dos ativos financeiros voltem a ocorrer em 2014, os fundos multimercados, pela maior flexibilidade e liberdade para trafegar pelos diferentes tipos de investimentos conforme se dão as alterações no cenário macroeconômico mundial, estão cada vez mais no radar das fundações.

“Quem perdeu um pouco de espaço foi a própria renda variável. Dentro da renda fixa as entidades também não estão investindo tanto, elas não estão desfazendo o que já tem da parcela indexada a inflação, mas não vi as entidades comprando. A gente tem visto as fundações abrindo espaço para os estruturados e aumentando o interesse pelos multimercados, que dão mais liberdade para o gestor buscar algum mercado que gere alfa”, afirma Raphael Santoro, consultor sênior da Mercer.
Pelas conversas que tem tido com os gestores, o especialista tem percebido que a maioria trabalha com um cenário de neutro para pessimista em 2014. “Sem novos investimentos nos segmentos mais tradicionais, os fundos de pensão tentam passar para o gestor a possibilidade de ir a outros mercados, trabalhar mais no câmbio, algumas estratégias de crédito, e isso acaba sendo dentro dos multimercados mesmo”, pondera Santoro. “Não espero um aumento significativo, mas vejo que as entidades que não utilizavam os multimercados, deixaram uma abertura na carteira, e vão começar a avaliar isso”, pontua o consultor da Mercer.
Além da volatilidade dos mercados em geral esperada para os meses subsequentes, o fraco desempenho da Bolsa brasileira em particular, em forte contraste com seus pares americanos em 2013, é um ponto que favorece a alocação em outros segmentos por parte das fundações, uma vez que no momento as entidades não se mostram inclinadas a aproveitar um possível ponto de entrada após a recente queda da renda variável doméstica.
“Realmente não vejo um movimento dos fundos de sair da Bolsa, mas todos estão operando abaixo do ponto médio, abaixo do target, e vão deixar assim, não vejo eles com intenção de recompor a posição que tinham anteriormente”, diz o consultor da Mercer. “As fundações estão bem mais conservadoras, não estão com uma visão de que o ano passado foi muito ruim e agora os ativos estão com os preços baratos”.
Na busca da diversificação – A Fundação Cesp (Funcesp) está dentro desse universo das entidades de previdência complementar que buscam nos multimercados uma maior diversificação dos riscos e retornos para suas carteiras. A entidade já conta com fundos multimercados em seu portfólio, mas que têm essencialmente ativos de renda fixa em sua composição. “Ele é mais restritivo em termos de operações, tanto que nossos atuais multimercados ficam classificados dentro da renda fixa. Queremos complementar com um multimercado estruturado, talvez diminuindo um pouco aqueles que estão como renda fixa. Estamos perto do fim do processo de avaliação, mas ainda faltam alguns detalhes para bater o martelo”, fala Jorge Simino, diretor de investimentos da Funcesp.
Ainda que não tão conservador como os atuais, a abertura para a renda variável nos novos multimercados da Funcesp não deve ficar desalinhado com a média do setor, que geralmente gira ao redor dos 15% para aplicação em ações. “A concentração maior vai ser na renda fixa mesmo, mas com um pouco mais de liberdade para operar outros ativos, eventualmente até o exterior”, comenta Simino. Dos 10% de estruturados permitidos na política de investimento da fundação, a ideia é que cerca de 4% fiquem com os multimercados. “Deve ficar entre R$ 100 milhões e R$ 200 milhões”, pontua o diretor. Os gestores desses fundos ainda estão em fase de seleção, e a previsão é de que até o final de março o processo seja concluído.
Para trazer mais diversificação para a carteira, além da sofisticação no segmento de estruturados, a Funcesp também iniciou o investimento no exterior, com um primeiro aporte de R$ 10 milhões no feeder da BB DTVM, que por sua vez aplicou esse capital nos fundos da BlackRock e da Schroders. “Se trata de uma curva de aprendizado, mas é importante para o futuro. Minha visão particular é de que em cinco anos os fundos de pensão vão ter tranquilamente pelo menos 5% da carteira aplicada no exterior”, prevê Simino. Caso a previsão se mostre correta, em 2019 a indústria de previdência complementar do Brasil terá aproximadamente R$ 32 bilhões em ativos fora do país. “Vai ser inevitável esse caminho”.
Multimercados internacionais – Entre as fundações que passaram a permitir em 2014 uma alocação nos multimercados, o retorno médio esperado por elas com esse tipo de produto fica próximo aos 120% do CDI, diz Cristiano Picollo Corrêa, portfolio specialist da Bradesco Asset Management (Bram), com base nos processos de concorrência que sua casa tem participado. “A busca é pelo retorno contra o CDI”, afirma Corrêa. O especialista acredita que, com as possibilidades de investimento dentro das próprias fronteiras com baixa atratividade, os multimercados com exposição ao exterior podem ter maior demanda dos institucionais.
Quando passamos para o cenário externo, quem então tende a ganhar espaço nos portfólios são ativos do Velho Continente, já que nos Estados Unidos as Bolsas tiveram valorizações expressivas em 2013 – o S&P 500 registrou alta de 29,5% no período. “A tendência é de que a economia americana continue se recuperando, só que esperar que a Bolsa deles tenha um ano de 2014 como o de 2013, acho que seria otimista demais. Por isso temos voltado os olhos para a Europa, diria que a Europa seria o próximo passo da recuperação no mundo. Eles acabaram de sair da recessão, estão iniciando um processo de recuperação econômica, por isso temos olhado com bastante carinho o continente europeu”, pontua Corrêa.
Com 10% de exposição ao exterior, o multimercado Tactical da Bram tem tido boa adesão das fundações. Em 2013 o fundo rendeu 124% do CDI, após os 137% em 2012, e conta com um patrimônio de R$ 370 milhões, dos quais cerca de 30% são de institucionais. Agora a Bram prepara o lançamento de um novo multimercado, mas que poderá estar enquadrado fora dos 10% que são permitidos aos estruturados, por seguir integralmente a Resolução 3792, diferentemente do Tactical, que faz alavancagem, day trade e assume níveis mais altos de risco. “Como ele é um fundo 100% enquadrado na 3792, não vai investir nos mercados globais; ele tem essa desvantagem. Não vou ter nesse fundo mais que 50% do PL em renda variável, porque hoje a relação risco retorno é muito mais favorável à renda fixa, dado o nível de juros que estamos vivendo”, fala o especialista da Bram.
Já para aquelas fundações mais interessadas em migrar parte de seu capital para outras praças financeiras, a Bram estrutura um Fundo de Investimento em Cotas (FIC) que irá comprar cotas de quatro fundos internacionais da casa, que aplicam na Europa, ‘Australásia’ (Ásia mais Austrália menos Japão), Estados Unidos e América Latina. “Esse fundo já foi iniciado, está na fase de construção do histórico, e a partir do segundo semestre começaremos a mostrar, mas já é possível aplicar”, diz Corrêa.