Edição 263
A consultoria global Mercer começa a atuar no mercado brasileiro em uma área que já tem um forte desenvolvimento em outros países. É a área de gestão de recursos, mais especificamente, de seleção de gestores através de fundos de fundos. Através de uma parceria com a asset da Caixa Econômica, a Mercer participa pela primeira vez da elaboração de um produto nestes moldes com registro no mercado local, mas que visa o acesso a fundos no exterior.
Trata-se de um fundo no exterior do tipo feeder que terá a Caixa Econômica como administrador e gestor, mas quem fará a seleção dos gestores lá fora, será a Mercer. “Aqui no Brasil é preciso ter registro de gestor de recursos para lançar um fundo de fundos, por isso, estávamos procurando um parceiro para esta iniciativa. Acabamos encontrando a Caixa”, explica François Racicot, consultor sênior da Mercer. O especialista explica que a Mercer pretende entrar na área de gestão de recursos, mas não tem pretensão de fazer um registro formal como asset management. Por isso, foi necessário buscar um parceiro para concretizar o plano.
Outra asset contatada anteriormente pela consultoria foi a BB DTVM, mas as negociações não avançaram. A asset do Banco do Brasil já conta com uma parceria com quatro assets globais com atuação no mercado local na gestão de fundos de investimentos no exterior voltados para fundos de pensão. São elas BlackRock, Schroders, J.P. Morgan e a Franklin Templeton. Depois que a BB DTVM lançou os novos fundos no exterior no final do ano passado, a Mercer chegou a procurar a asset, mas as conversas não avançaram.
Como a Caixa também tinha planos de lançar um fundo no exterior voltado para institucionais, as iniciativas acabaram se encontrando. “Foi um pouco por acaso, o pessoal da Caixa veio para falar de um outro fundo de infraestrutura e acabaram comentando sobre a intenção de lançar um produto com acesso aos mercados internacionais”, diz Racicot. Ele comentou que a Mercer tinha o mesmo projeto, mas que não podia lançar diretamente o produto no Brasil, porque não tinha registro de asset. Então, as duas partes perceberam que poderia ser feita a parceria.
“A Caixa é uma asset com expertise local e com boa capacidade e forte equipe operacional. Vimos que era um parceiro de peso no mercado de institucionais”, diz o consultor da Mercer. O especialista explica que a Mercer está entrando com sua expertise internacional para compor a gestão do produto. Formalmente, a Mercer figura como um consultor de investimentos do fundo, mas na prática, é quem vai definir a seleção dos fundos e gestores lá fora.
A principal estratégia do fundo será a gestão passiva atrelada ao índice MSCI World, com uma pequena parcela de small caps, com objetivo de geração de alpha. Ainda terá outra parte menor de ações do tipo low volatility, para compensar a exposição às small caps. O portfólio do fundo deve se concentrar cerca de 50% dos ativos das bolsas americanas e outros 50% de mercados desenvolvidos (Europa, Japão e Oceania).
Além do trabalho coordenador pelo próprio François Racicot, outro consultor da Mercer também apoiará o trabalho de análise e seleção de gestores no exterior. É o brasileiro Thyrso Ferrato, que trabalha no escritório da Mercer de Nova York.
Segundo Sérgio Bini, superintendente nacional de distribuição da asset da Caixa Econômica, o lançamento do fundo está previsto para o final de setembro ou início de outubro. “É uma parceria que busca complementar a experiência das duas casas. A Mercer entra com o capital intelectual e a expertise de atuação nos mercados internacionais”, diz Bini. A taxa de administração deve ser dividida entre a Caixa e a Mercer, que vai ganhar de acordo com o nível de captação do fundo.
A Caixa Econômica avalia ainda a viabilidade de um aporte de seed money (capital próprio) para incentivar o início das captações do fundo. O aporte ainda não foi aprovado pela direção da Caixa. “Gostaríamos de contar com o seed money para facilitar a aplicações dos primeiros investidores fundos de pensão, mas ainda não temos uma decisão”, diz o superintendente da Caixa.
O lançamento do novo fundo faz parte da estratégia de diversificação dos produtos da asset da Caixa com a inclusão de fundos com exposição ao mercado internacional. Neste sentido, a Caixa havia lançado o fundo de BDRs no final do ano passado. O fundo começou em 2014 com cerca de R$ 15 milhões de ativos sob gestão e agora já conta com cerca de R$ 30 milhões. Cerca de 50% dos recursos são provenientes de fundos de pensão e regimes próprios de previdência e a outra metade, provém de investidores pessoa física.
Ranking global – A Mercer conta com um ranking realizados desde a década de 90, o Global Investment Managers Data Base (Gimd), que atualmente elenca cerca de 4,7 mil gestores e 23 mil estratégias de gestão. É uma ferramenta utilizada pelos principais investidores institucionais dos mercados americano, canadense e de outros países em que a consultoria tem atuação destacada, como o Reino Unido e a Austrália.
A empresa começou como uma consultoria tradicional de recursos humanos, mas foi na década de 90 que entrou na área de investimentos. Primeiramente, como consultoria de investimentos, mas depois acabou entrando mais diretamente na gestão de recursos. “A Mercer acabou entrando na área de gestão de ativos porque diversos conselhos de fundos de pensão estavam pedindo”, explica Racicot. A entrada da Mercer como gestora de fundo de fundos (FOFs em inglês – fund of funds) ocorreu há cerca de oito anos. Atualmente, a Mercer realiza a gestão de cerca de US$ 100 bilhões em ativos no mundo. A maior plataforma de fundos da Mercer está concentrada nos Estados Unidos, e a segunda maior quantidade de fundos, está registrada em Dublin, na Irlanda.
“O trabalho de gestão é realizado em geral para clientes que não tem porte suficiente para manter uma estrutura própria. Ou então, para clientes que querem aplicar em mercados específicos fora do local onde atuam”, diz o consultor da Mercer. Ele faz referência, por exemplo, aos fundos de pensão canadenses que querem aplicar nos EUA e recorrem à Mercer para seleção de gestores no mercado americano.
Como a Mercer atua também como consultoria de investimentos, existe a preocupação sobre eventuais conflitos de interesses no trabalho de gestão de recursos. “É certo que passamos a atuar com dois chapéus, mas não vejo problemas de conflitos de interesses”, defende Racicot. Ele explica que no trabalho de seleção de gestores, a Mercer busca oferecer as melhores opções disponíveis no mercado e não privilegia os fundos em que participa da gestão. “Aqui no Brasil vamos analisar e acompanhar todos os tipos de fundos no exterior e aconselhar com isenção nossos clientes fundos de pensão”, diz o consultor da Mercer.
Multipatrocinado – Outra área em que a Mercer tem procurado ampliar sua atuação no Brasil é a gestão de seu fundo multipatrocinado. O Mercerprev foi lançado no início do ano passado para administrar planos de benefícios principalmente de empresas que já contavam com fundo de pensão próprio. “Percebemos o aumento do interesse de empresas que querem migrar o fundo de pensão próprio para um multipatrocinado”, explica Racicot. Atualmente, o Mercerprev já conta com duas patrocinadoras, uma delas é a Zoetis, que veio de uma cisão do Pfizer Prev. A outra patrocinadora ainda está em fase de aprovação na Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar) e seu nome não foi revelado.
Os planos transferidos para o fundo da Mercer têm tamanhos entre R$ 40 milhões e R$ 60 milhões cada. A plataforma de gestão dos recursos oferecido pelo Mercerprev é aberta, ou seja, a patrocinadora pode escolher o gestor e os fundos de sua preferência no mercado.
Tanto a estreia na gestão de recursos quanto a administração do multipatrocinado fazem parte de uma estratégia da Mercer de ampliar as áreas de atuação no Brasil. “A previdência complementar não está crescendo no país, por isso, estamos buscando novos horizontes de atuação”, diz Racicot.