Otimismo com a bolsa | Gestores se mostram otimistas com as persp...

Os gestores do mercado acionário local, principal foco de atenção dos fundos de pensão, preveem um 2019 com a bolsa ultrapassando a simbólica marca dos 100 mil pontos, impulsionada principalmente por ações das empresas que mais tendem a se beneficiar da retomada econômica, como consumo e indústria. Todos, no entanto, são unânimes em afirmar que as projeções estão condicionadas ao sucesso do novo governo em aprovar as reformas de ajuste fiscal, sendo a da previdência a mais importante.
O gestor da Verde Asset, Pedro Sales, se mostra bastante otimista em relação ao desempenho futuro da bolsa brasileira por conta da recuperação nos lucros das empresas, que já começou em 2018 e deve ganhar força em 2019.
Sales destaca que as empresas, de modo geral, ainda estão com elevados níveis de capacidade ociosa e têm, portanto, condições de elevar a receita sem aumentar os custos na mesma proporção, o que deve gerar importante incremento nas margens de rentabilidade. Isso, se confirmado, terá um impacto positivo no preço das suas ações. A expectativa do especialista é que os lucros corporativos tenham crescimento médio da ordem de 20% nas próximas divulgações de balanços trimestrais.
“Essa perspectiva de crescimento dos lucros nos leva a crer que existem várias empresas listadas em bolsa que, no momento atual, representam uma excelente oportunidade de investimento”, afirma o gestor da Verde.
Além disso, em termos macroeconô-
micos, os juros baixos e a inflação sob controle devem permanecer mesmo se confirmada a aceleração no ritmo da atividade econômica, uma vez que a ainda elevada capacidade ociosa é capaz de segurar os preços. Essa combinação de juros baixos e inflação sob controle aponta para uma retomada importante no consumo das famílias e nos investimentos por parte das empresas, nota Sales. Ele acrescenta que, tanto o nível de endividamento da população como a alavancagem das companhias, estão em patamares menores do que em anos anteriores, portanto com boas condições para voltar a crescer.
A mudança na postura dos bancos, que após terem reportado quedas expressivas nos níveis de inadimplência indicam uma volta no apetite para conceder empréstimos, é mais um fator citado pelo gestor da Verde como potencial propulsor do consumo em 2019.
Devido a essa expectativa, setores como turismo e shoppings devem entregar retornos positivos aos investidores no curto e médio prazo. Ele cita a CVC, da área de turismo, como uma empresa com boas perspectivas. No entanto, embora a tese de retomada do consumo guie a composição de parte do portfólio da Verde, ele cita o setor de energia elétrica como positivo, ressaltando o potencial do papel da Equatorial Energia, ativo que a asset carrega na carteira desde 2010.
Segundo o gestor da Verde, todos os cenários têm como condicionante a evolução das reformas de ajuste fiscal. “Se daqui um ano a percepção for de que não vai ter reforma da previdência, o cenário fiscal se torna insustentável e todo o crescimento cíclico que esperamos para os próximos anos deixa de existir”.

Até meados do ano – Já o gestor de renda variável da BB DTVM, Jorge Ricca, também espera por uma continuidade dos ganhos na bolsa, mas avalia que o período mais positivo deve ficar restrito ao primeiro semestre de 2019.
Inclusive, ele acredita que a alta potencial ao redor dos 20% prevista pela asset do BB para a bolsa brasileira em 2019, com base no crescimento esperado do lucro das empresas, deve se concentrar no primeiro semestre. “Se estivermos corretos, no primeiro semestre teremos a bolsa operando em níveis bem acima do atual, ao redor dos 110 mil pontos, podendo no segundo semestre sofrer uma realização”.
Segundo Ricca, a partir de julho devem começar a ganhar fôlego as discussões em torno de uma possível desaceleração no crescimento da economia americana e chinesa em 2020, com potencial impacto negativo nos preços dos ativos em economias emergentes como o Brasil.
Ainda de acordo com Ricca, por conta da deterioração do cenário externo o Brasil deve atravessar, no segundo semestre de 2019, um período de desvalorização do Real e uma consequente pressão inflacionária, além da necessidade de aumento dos juros pelo Banco Central (BC). O especialista projeta que o BC deve iniciar em meados do segundo semestre o processo de aperto monetário, que deve levar a Selic dos atuais 6,5% para 8,5%, reduzindo parte da atratividade da bolsa. Além disso, se as discussões em torno das reformas não tiverem avançado até meados de julho, o mercado, que tem dado o benefício da dúvida ao governo Bolsonaro até o momento, deve passar a adotar uma postura menos amigável, prevê Ricca.
“Esse contexto global esperado para o segundo semestre, somado ao ambiente interno com inflação e juros mais elevados, nos leva a crer que teremos um ambiente menos favorável no período”, diz o gestor da BB DTVM.

Posições – No radar para o primeiro semestre, o gestor da BB DTVM enxerga principalmente empresas que se beneficiam da retomada do consumo e representam uma oportunidade a ser capturada pelos investidores. Entre os ativos da Bovespa que mais tem despertado o interesse da asset do BB, destaque para os setores de concessões, bens de capital, varejo, siderurgia e construção civil.
Ricca pondera que em alguns dos segmentos acima citados as opções na bolsa brasileira ainda são relativamente restritas, sem ter como fugir de nomes como CCR, Ecorodovias e Rumo, na área de concessão, ou CSN, Usiminas e Gerdau em siderurgia. Na construção civil, o gestor diz que a preferência da casa atualmente é por companhias que atuem com público de alta renda, como a Cyrela. “Temos uma quantidade maior de ativos no varejo, onde nosso foco deve se voltar para empresas de e-commerce”.

Revisão de cenário – Na Apex Capital, as projeções para o Ibovespa ao final de 2019 foram revistas recentemente. No cenário otimista, a estimativa da asset aponta para o Ibovespa a 120 mil pontos em dezembro do ano que vem, contra os 110 mil previstos anteriormente, em outubro. Por outro lado, no cenário pessimista os cálculos da gestora indicam o benchmark ao redor dos 70 mil, ante os 65 mil de outubro. O gestor da Apex, Fábio Spinola, explica que pesou para a revisão nas projeções a vitória de Bolsonaro – a estimativa anterior ainda não tinha essa confirmação – e também os balanços trimestrais reportados pelas empresas no terceiro trimestre, que vieram um pouco acima do esperado.
Assim como seus pares de mercado, Spinola ressalta que a coordenação política do novo governo e sua habilidade em conseguir aprovar a reforma da previdência é o principal driver para o desempenho, positivo ou negativo, da bolsa nos próximos meses. “Se tivermos a reforma da previdência, que entendo ser o ponto central da agenda legislativa, haverá uma mudança fiscal estrutural e o mercado deve buscar a banda de cima da nossa projeção”. Spinola entende que temas subjacentes, como a cessão onerosa da Petrobras ou as privatizações que tem sido sinalizadas, podem ajudar na questão de ajuste fiscal, embora não tenham o mesmo peso estrutural de uma reforma previdenciária.
Diante do cenário de incertezas à frente, o gestor da Apex avalia que a análise micro deve ganhar relevância na composição da carteira, ainda que, a depender da evolução do cenário macro, mesmo empresas bem geridas podem acabar sofrendo se houver uma reversão muito pesada nas expectativas hoje positivas.