Mercado em franca expansão | O mercado de crédito privado no Bras...

Edição 244

 

O cenário não poderia ser mais favorável: bolsa com forte volatilidade e afetada pelos mercados externos e queda acelerada das taxas oferecidas pelos títulos públicos. Alguns dos resultados que mais chamam a atenção são os recordes de emissões de debêntures, cada vez mais diversificadas em termos de emissores e setores, ampla expansão de papéis como Letras Financeiras e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) entre outros. Para 2013, os gestores e especialistas apostam na continuidade da expansão, verificada no ano passado, com destaque para um novo ativo que deve atrair a atenção dos fundos de pensão: as debêntures de infraestrutura.

“As debêntures de infraestrutura estão atraindo o interesse do institucional fundo de pensão pois permite o casamento do ativo com passivo com um risco associado a projetos de áreas como energia e transportes”, diz Eduardo Castro, superintendente da Santander Asset Management. O gestor acredita as papéis de infraestrutura são mais adequados para este tipo de investidor que as debêntures tradicionais devido ao nível de risco e o prazo oferecidos. A previsão do Santander é que em 2013 haverá emissões da ordem de R$ 5,3 bilhões desse tipo de debêntures, subindo para R$ 13,9 bilhões em 2014 e R$ 25,1 bilhões no ano seguinte.

Para o superintendente do Santander, os fundos de pensão terão que buscar cada vez mais alternativas para os títulos públicos e para os fundos IMA. “Acredito que os fundos da família IMA continuam ainda atraentes no começo de 2013, mas devem perder espaço para outros tipos de aplicações como o crédito privado indexado ao IPCA”, diz Castro. Apesar da expectativa de bom desempenho dos fundos IMA no início deste ano, a rentabilidade já não estará nos mesmos níveis de 2012 e a tendência é que já não atendam as necessidades dos investidores institucionais ao longo de 2013.

Com a queda das taxas dos títulos públicos e a previsão de manutenção nos níveis atuais, ou até mesmo mais baixos, os papéis de crédito privado ganham maior espaço na carteira dos institucionais. Uma pesquisa da Abrapp (Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar), em parceria com a Itajubá Investimentos, apontou que 55,7% dos gestores de planos de benefício definido pretendiam aumentar a exposição em crédito privado nos próximos 12 meses. Entre os gestores de planos de contribuição definida e variável a quantidade era ainda mais expressiva, 61,3%.

“O que era tendência antes agora virou necessidade. Os institucionais estão enxergando o crédito privado como uma das principais alternativas para gerar maior alfa, com resultados muitas vezes melhores que a renda variável e riscos compatíveis”, diz Castro.

Arturo Profili, sócio-diretor da Capitânia também aposta no maior interesse dos institucionais pelas debêntures de infraestrutura. “Em 2012 ainda verificamos poucas emissões de infraestrutura, mas foram amostras significativas. Para os próximos anos acredito que os institucionais devem apresentar forte demanda por este tipo de ativo que oferece prazos médios e longos indexados à inflação”, diz Profili. O gestor chama ainda a atenção para o crescimento do segmento de recebíveis imobiliários (CRIs) e de fundos imobiliários, que também passaram por forte expansão em 2012.

“O mercado de recebíveis imobiliários está crescendo e se diversificando em termos de tipos e subtipos de emissões. É um mercado que vem ganhando forte dinamismo englobando também projetos de incorporação de shoppings e galpões”, conta o sócio-diretor da Capitânia. Ele comenta que a asset vem verificando aumento da captação junto aos institucionais em seus fundos de investimentos que adotam estratégias de renda fixa estruturada, com a utilização de debêntures, CRIs, FII (fundos imobiliários) e FIDCs (fundos de direitos creditórios). Este último tipo de veículo enfrentou maior dificuldade por conta de mudanças na regulamentação pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

“A regulação da CVM tem contribuído para aperfeiçoar o arcabouço legal do segmento de crédito privado. Tem avançado muito no sentido de reduzir os conflitos de interesses entre gestores, administradores e custodiantes”, diz Profili. No caso dos FIDCs, ele acredita que as mudanças na regulamentação provocaram uma redução do ritmo de lançamento e captação de novos fundos, mas que em 2013, a demanda reprimida deve ser compensada por uma retomada do segmento.

A superintendente de investimentos da Votorantim Asset Management (VAM), Sandra Petrovsky, também ressalta o aumento da demanda dos institucionais pelos fundos que adotam estratégias de crédito privado. “Os destaques de captação em 2012 ficaram por conta de nossos fundos de debêntures e notas promissórias, além dos produtos de crédito imobiliário”, diz. Ela diz que a tendência é explicada pela necessidade de diversificação dentro da renda fixa, em função da redução dos patamares dos juros dos títulos públicos aos níveis dos principais mercados internacionais. Também ajudou a atrair os recursos dos institucionais o aumento das emissões indexadas ao IPCA.

Para atender a demanda dos investidores, o mercado de crédito corporativo passou por forte expansão nos últimos dois anos. “A estabilidade econômica e a queda dos juros está promovendo o amadurecimento do setor de crédito privado no Brasil”, diz Sandra. Para 2013, a superintendente da VAM aposta na continuidade do crescimento tanto da demanda quanto da oferta dos papéis e emissões. Porém, ela alerta para a tendência de fechamento dos spreads em algumas emissões e cita como exemplo o caso da Concessionária Raposo Tavares. A captação começou com teto de IPCA mais 8% ao ano e durante o processo de book building fechou para 5,40% ao ano. Os investidores também devem estar atentos para a maior volatilidade dos fundos de crédito privado, que serão afetados cada vez mais pelo desenvolvimento de um mercado secundário no país.

Debêntures e LFs – O ano de 2012 apresentou forte expansão no estoque de debêntures. O estoque atingiu em dezembro do ano passado a marca de R$ 505 bilhões na Cetip, que é a maior câmara depositária de ativos privados do país. A marca representa um crescimento de 26% em comparação com um ano atrás, quando o estoque estava em R$ 399 bilhões. “Houve crescimento em todos os sentidos, tanto de volume quanto de quantidade de emissores com a entrada de novas empresas”, diz Carlos Ratto, diretor executivo comercial e de produtos da Cetip. Ele ressalta emissões de empresas que colocaram debêntures pela primeira vez, como a Cosan, Embraer e Ogx. “Existe um potencial bem maior para 2013, pois mais de uma centena de empresas tem interesse em realizar emissões de debêntures”, diz Ratto. Na outra ponta, ele percebe o aumento do interesse dos institucionais pelos ativos de crédito privado por causa da queda das taxas dos títulos públicos.

Ainda no crédito privado, outro ativo que apresentou forte expansão em 2012 foram as Letras Financeiras. O estoque desses ativos saíram de R$ 123 bilhões no início do ano passado para R$ 171 bilhões até o mês de novembro. “As letras financeiras se consolidaram como instrumento de alongamento das dívidas e como veículo de funding para instituições financeiras”, explica Ratto. Ele acredita que a tendência de crescimento das emissões de LFs continuará forte ao longo de 2013.

Os bancos estão utilizando as LFs como forma de aumentar o funding e melhorar os índices de Basileia. Já os investidores institucionais se interessam pelos ativos na busca de taxas um pouco melhores e prazos maiores. As LFs também atraem os institucionais nas emissões que são realizadas com indexador IPCA.