Apetite por risco com viés de alta | A Bradesco Asset Management ...

Os ativos de risco, em particular as ações, reúnem grandes condições para merecer a preferência dos aplicadores de maior porte na temporada que se inicia. A avaliação é de Marcelo Nantes e Marcelo Toledo, respectivamente gestor de renda variável e economista-chefe da Bradesco Asset Management (Bram), a maior gestora privada do país. Sua leitura é calcada em um cenário marcado por inflação baixa e sob controle, a perspectiva de postergação de altas da taxa Selic para o fim do ano ou o início de 2020 e, sobretudo, a confiança do mercado em uma reforma da previdência digna desse nome a ser executada pela nova administração federal.
“Os investidores institucionais têm a mesma interpretação. Percebemos um consenso entre os fundos de pensão de que será necessário abrir mais espaço para a renda variável em suas carteiras”, comenta Nantes, que ocupa o posto desde maio, quando aceitou o convite formulado pelo então recém-empossado CEO da Bram, Ricardo Almeida. “No nosso caso, elevamos um pouco a exposição ao risco a partir do fim de outubro, após o fim da disputa eleitoral. Estamos, diria, com um apetite médio por essa classe de ativos, que poderá aumentar ao longo do ano.”
A preferência se concentra sobre empresas ligadas à economia doméstica, em detrimento das grandes exportadoras de commodities. Isso em razão da guerra comercial em curso entre as duas maiores economias globais, Estados Unidos e China, que poderá prejudicar fornecedores de matérias-primas, brasileiros e de outras nacionalidades, com negócios no mercado asiático. Nessa linha de raciocínio, dois setores vêm merecendo atenção especial da gestora. “Um é o varejo, no qual se destacam, entre outros nomes, Magazine Luiza e CVC”, diz Nantes. “O outro segmento é o bancário, cujos papéis têm bom potencial de valorização, considerando a provável retomada das operações de crédito, com o esperado aquecimento da economia local.”
A efetiva retomada do crescimento dependerá, claro, do encaminhamento a ser dado pelo Executivo federal a algumas reformas estruturais da economia – em particular a da previdência social. Para o mercado, opina Toledo, a melhor sinalização possível seria a aprovação de um projeto de fôlego na Câmara no fim do primeiro semestre e a sua ratificação pelo Senado em agosto, após o recesso parlamentar. “O tema terá de ser negociado no Congresso, o que poderá atrasar a tramitação. Acreditamos, no entanto, no sucesso da proposta”, observa.
Além da reforma da previdência, outros eventos na esfera federal serão atentamente acompanhados pelos agentes econômicos ao longo do ano. A lista inclui, em primeiro lugar, o cumprimento dos limites estabelecidos para o teto de gastos e o déficit primário. A seguir, aparecem a revisão da regra do salário, os reajustes do funcionalismo público e a revisão de algumas desonerações tributárias. “Se todos esses itens forem bem equacionados, dá para prever um cenário econômico melhor para os próximos quatro anos”, assinala Toledo.
As projeções da Bram para a temporada em curso já refletem, por sinal, esse otimismo. Além de um crescimento do PIB de 2,6%, a gestora aposta em uma variação do IPCA de 3,90%, 0,35 ponto percentual abaixo da meta, e um câmbio estável, com o dólar por volta de R$ 3,80 ao longo do ano. O que preocupa é o cenário externo, em razão dos sinais de desaceleração em várias regiões do planeta, que poderão provocar reduções dos investimentos estrangeiros nos chamados mercados emergentes. “A economia norte-americana, que cresceu por volta de 3% no último ano, puxa essa fila, apresentando sintomas de desaquecimento, depois da criação postos de trabalho acima do que seria compatível com o mercado”, diz Toledo.
A dúvida dos investidores locais e internacionais diz respeito à disposição do Federal Reserve (FED), o banco central dos Estados Unidos, de dar sequência à elevação dos juros. O processo teve início no primeiro semestre de 2017 e ganhou intensidade no ano passado, com quatro reajustes – o último deles para o intervalo de 2,25% a 2,5% ao ano, em 19 de dezembro. “O FED, acreditamos, deve fazer uma avaliação neste começo de ano e poderá voltar a elevar os juros, se ainda tiver dúvidas sobre o efetivo desaquecimento da economia”, avalia o economista.