Incertezas seguem em 2017 | Mesmo com bolsa se recuperando e juro...

Edição 288

 

Entre os dias 29 de novembro e 7 de dezembro, a revista Investidor Institucional realizou mais um ciclo de palestras do 15º Fórum Perspectivas de Investimentos, com especialistas que analisaram o cenário para 2017. O ciclo de palestras passou pelas cidades de São Paulo, Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro e Recife. Durante as apresentações e debates, especialistas consultores e gestores destacaram o cenário ainda incerto para o próximo ano.
O economista-chefe da Porto Seguro Investimentos, José Pena, destacou que não apenas o cenário doméstico é incerto, como também o externo, após a vitória de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, já que não se sabe ao certo se ele colocará em prática o discurso mais duro em relação ao comércio exterior. “A única certeza é que, com a tensão em relação às políticas que Trump vai adotar, a volatilidade aumentou”, disse Pena.
José Pena também avaliou o cenário local, com um possível enfraquecimento do governo de Michel Temer diante das delações da Operação Lava-Jato e crise nos ministérios. Para ele, a melhora do fiscal ainda é promessa.

Investimentos – Abrindo o ciclo em São Paulo, Edivar Queiroz Filho, diretor executivo da consultoria Luz Soluções Financeiras, analisou as possibilidades de investimentos para fundos de pensão de acordo com segmentos de alocação e retornos esperados para 2017. “As entidades precisam buscar estratégias mais específicas, com a mensuração adequada do retorno e do risco. A pergunta a se fazer é: qual o apetite a risco?”, questionou durante sua apresentação.
O consultor defendeu que para planos de benefício definido (BD), o conservadorismo se faz necessário para garantir rentabilidade sem risco. “Um plano deficitário não precisa tomar risco. A carteira conservadora, com títulos marcados na curva, é ideal para esse tipo de plano”, diz Edivar. Já nos planos de contribuição definida (CD), a restrição é dada de acordo com o risco da carteira. No de contribuição variável (CV), Edivar salienta que há dois riscos principais: o de rentabilidade dos investimentos para participantes em fase de acumulação, e o de déficit atuarial para participantes que optam por renda vitalícia.
O consultor defende que a gestão do risco de cada fase do plano CV deve ser feita de forma independente, com a segregação da gestão da carteira em parcela BD e CD. “Quando os ativos de um plano CV não possuem gestão separada, pode haver transferência de riqueza dos participantes em fase de acumulação para participantes aposentados. Pode-se ter a falsa certeza de que o plano é superavitário, quando, na verdade, a parcela BD está deficitária. Neste caso, os participantes ativos estão pagando o déficit dos demais. Além disso, a marcação na curva de ativos da parcela CD pode prejudicar participantes ativos”, complementa.

Retomada da bolsa – A recuperação da bolsa também foi um dos temas tratados durante o Fórum. Durante a apresentação de Luís Guedes, gestor de renda variável da Bram – Bradesco Asset Management, foi apontado que apesar da recuperação, os fundos de pensão reduziram ainda mais sua exposição no segmento. As entidades saíram de uma média de 28,5% do patrimônio em bolsa em 2012 para 18,5%, em média. Segundo Guedes, essa estratégia deve ser revista, já que o cenário aponta para queda da taxa de juros. “Haverá uma mudança estrutural. Empresas listadas em bolsa estão melhorando. Cabe aos gestores identificarem oportunidades e investirem nessas empresas”, disse.
Guedes analisou o cenário para 2017/2018 com aumento gradual de alocação no segmento de renda variável, no qual a gestão ativa deve voltar a ter melhor desempenho em relação à passiva. “Estratégias diversificadas asseguram uma melhor relação risco-retorno. Investimento no exterior também faz sentido”, enfatizou.

Renda fixa – O gestor de renda fixa da Riviera Investimentos, Luis Roberto Zaratin Soares, destacou em sua apresentação a importância de uma reforma fiscal para que a confiança dos investidores volte. O executivo alertou, contudo, que com a tendência da queda da taxa de juros, as oportunidades de investimentos estão cada vez menores, e os investidores precisam buscar alternativas de longo prazo. “Baixo risco não vai garantir meta”, destacou.
Zaratin analisou a volatilidade dos índices de renda fixa ao longo do tempo, destacando que em 10 anos, até o mês de novembro, o único índice que foi superior ao IPCA + 6%, que calcula a meta atuarial de muitos fundos de pensão, foi o IMA-B. “Se o investidor tiver um perfil agressivo, vale investir em IMA-B. Caso seja mais conservador, melhor aplicar em títulos pré-fixados”, disse o gestor.
Para o gestor da Riviera, contudo, o IFIX, índice dos fundos imobiliários, é ainda mais agressivo que outros índices, e tem gerado bons retornos, apresentando recuperação grande. “A volatilidade do IFIX é inferior ao IMA-B. Vale a pena investir em fundos imobiliários”, salientou.

Imobiliários – Os fundos de investimento imobiliário (FIIs) tiveram alta rentabilidade em 2016, com valorização do preço das cotas. No geral foram 230 novos fundos lançados este ano, sendo que os preços de ativos imobiliários, receitas de aluguel, níveis de vacância e inadimplência atuais permanecem inalterados. Esses foram os dados apresentados por Ricardo Pedro, diretor de administração de recursos da Finaxis.
O executivo avaliou que o segmento de FII de shopping centers teve bom desempenho no segundo trimestre, mostrando a recuperação de níveis mais deprimidos. Contudo, Ricardo avaliou que o risco de mercado tem se sobreposto aos demais tipos de risco. Para ele, investimento em cotas de FII que investem preponderantemente em certificados de recebíveis imobiliários – CRI são uma boa alternativa.
O investimento em CRI cresceu em 2016, e segundo Ricardo Pedro, continua sendo a melhor opção de financiamento imobiliário no mercado brasileiro. “Contudo, esse segmento é mais sensível à curva de juros, e ainda está carente de melhorias para ser fomentado”, destacou.

FIPs e infraestrutura – O executivo também destacou em sua apresentação as oportunidades de investimentos em fundos de investimentos em participações (FIPs) a partir da edição das Instruções da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) 578 e 579, que abrem , por exemplo, para investimentos no exterior. O executivo salientou que recentes eventos de fortes perdas nesse tipo de investimento fizeram com que investidores institucionais aprimorassem o processo de escolha de gestores. “O segmento ainda oferece enormes oportunidades de crescimento e de ganho, mas os investidores devem entender o produto e seus riscos, utilizando-o compativelmente em suas estratégias de alocação de carteira”, destacou.
Ricardo Pedro também enfatizou a importância dos investimentos em infraestrutura, salientando que toda a demanda que o Brasil sofre no segmento pode virar uma oportunidade para investidores institucionais. “Para isso, investidores precisam estar dispostos a correr um risco inicial. Projetos vão demandar abertura em bolsa para performar bem”, disse.

ETFs – Rodrigo Araújo, diretor comercial da BlackRock, ressaltou as oportunidades de investimentos em ETFs, destacando que essa indústria atualmente é de US$ 3,3 trilhões. O executivo analisou as possibilidade de gestão desses ativos, podendo ser uma gestão ativa, passiva ou uma gestão que combina os dois. “A escolha é basicamente sobre a disposição de pagar mais ou menos”, disse Araújo.
Para ele, uma alternativa para quem quer gerar alfa e não ter custos elevados é a utilização do smart beta. “O smart beta busca ter componentes de gestão passiva, com eficiência de custo, e trabalha com fatores. A estratégia busca um diferencial ao índice de mercado”, destacou.