Incertezas nos multimercados | Gestores de fundos multimercados c...

Diante da persistente indefinição do quadro eleitoral há menos de dois meses da disputa, que tende a manter o mercado sob elevada volatilidade, gestores de fundos multimercados traçam suas estratégias para atravessar o período sem maiores sobressaltos. Enquanto os CEOs da Garde Asset e da Truxt Investimentos, respectivamente Marcelo Giufrida e José Tovar, vêem com bons olhos a busca de ativos globais para proteger a carteira, o CIO da Western Asset, Paulo Clini, alerta para um eventual conservadorismo excessivo que pode levar os investidores a perder boas oportunidades no mercado local. Diante da persistente indefinição do quadro eleitoral há menos de dois meses da disputa, que tende a manter o mercado sob elevada volatilidade, gestores de fundos multimercados traçam suas estratégias para atravessar o período sem maiores sobressaltos. Enquanto os CEOs da Garde Asset e da Truxt Investimentos, respectivamente Marcelo Giufrida e José Tovar, vêem com bons olhos a busca de ativos globais para proteger a carteira, o CIO da Western Asset, Paulo Clini, alerta para um eventual conservadorismo excessivo que pode levar os investidores a perder boas oportunidades no mercado local.
Segundo o CEO da Garde, Marcelo Giufrida, após a candidatura de Geraldo Alckmin do PSDB ganhar alguma força com o apoio dos partidos do chamado ‘Centrão’, fato que impulsionou a bolsa brasileira em julho, os preços dos ativos locais tornaram-se caros de modo geral. “Acredito que as bolsas globais tem mais potencial para andar do que a Bovespa”, pontua o executivo.
Ainda assim, Giufrida ressalta que embora o mercado internacional esteja mais atraente, ainda há ativos que representam boa oportunidade de entrada no país. O gestor aponta a curva de juros, em seus vértices mais curtos, como um ativo que pode trazer ganhos para os investidores até o fim do ano. “A curva tem embutida algumas altas de juros que entendemos que não são necessárias caso o próximo presidente adote um plano focado na parte fiscal”, diz Giufrida, acrescentando que, mesmo que o pleito eleitoral cause um forte estresse no mercado e leve o dólar, eventualmente, para R$ 4,20, ainda assim, dado o elevado grau de ociosidade na economia, a inflação seguirá dentro da meta em 2019.
Já o CEO da Truxt, José Tovar, afirma que nas últimas semanas sua equipe tem aumentado a exposição ao mercado americano, via juros e renda variável, que já é maior do que a mantida em ativos locais. De acordo com ele, essa estratégia visa proteger a carteira, tendo em vista que os fundamentos econômicos tem perdido espaço para especulações políticas no front doméstico.
Sobre os riscos de uma guerra comercial prejudicar os retornos oriundos dos Estados Unidos, o CEO da asset avalia que, embora isso possa representar de fato um risco para o crescimento global e também para as bolsas de valores, o presidente Trump saberá prosseguir com suas políticas internacionais sem prejudicar o crescimento americano. “Além disso, até agora o que temos visto é muito discurso e pouca ação. O Trump tem um estilo agressivo, mas não acredito que ele vá atrapalhar de maneira relevante a economia americana”.

Kit Brasil – Caso um candidato reformista passe a despontar na frente nas pesquisas das eleições brasileiras e venha a se confirmar vitorioso no pleito de outubro, Tovar acredita que as ações do chamado ‘kit Brasil’, formado por estatais que tiveram fortes ganhos no início do governo Temer, devem novamente ter um desempenho acima da média do mercado. Nesse cenário, o gestor não descarta uma bolsa operando ao redor dos 100 mil pontos, com o dólar recuando para patamares próximos dos R$ 3,00. “A redução do risco Brasil vai trazer o investidor estrangeiro de volta para nossa bolsa”, pondera o CEO da Truxt.
Por outro lado, se um candidato de perfil mais populista surgir como favorito, Tovar prevê uma reação adversa nos preços dos ativos domésticos. Nesse caso, prossegue, a tendência é que os gestores se voltem para posições que se beneficiam da deterioração macro do país, vendidos em bolsa e comprados em dólar contra o real, além das prováveis oportunidades com a abertura dos juros dos títulos públicos na renda fixa. 

Política – Para Giufrida, diante de um cenário eleitoral totalmente indefinido, com uma grande diversidade de propostas e de candidatos, o mercado tem trabalhado em compasso de espera, privilegiando operações táticas em detrimento às estruturais. “Nesse momento não é muito conveniente que os gestores adotem posições direcionais, uma vez que o desempenho futuro dos ativos está totalmente dependente das eleições”. 

México – Já o CIO da Western Asset no Brasil, Paulo Clini, ressalta que nas conversas com os clientes tem sempre insistido no ponto de que uma postura de excesso de conservadorismo diante do ambiente de incertezas à frente pode, assim como uma exposição elevada ao risco, também cobrar seu preço.
Clini tem usado as eleições no México e o mês de julho no mercado doméstico como exemplos para embasar sua tese de que o investidor não deve ficar apenas alocado em CDI ou outros ativos de curto prazo para proteger a carteira.
No caso mexicano, o especialista nota que, apesar do vencedor da disputa presidencial, Andrés Manuel López Obrador, ser de perfil populista, os preços dos ativos do mercado na região apresentaram bom desempenho no período recente. “Bastou o Obrador fazer um discurso um pouco mais amigável ao mercado, defendendo a disciplina fiscal e o respeito aos contratos, para os ativos apresentarem uma boa performance”, pontua Clini. 
Julho – Ainda segundo Clini, no mês de julho a bolsa subiu 8,8% sem que tenha ocorrido nenhuma mudança expressiva no ambiente interno ou externo. “As pesquisas eleitorais continuam mostrando os mesmos resultados, o aperto monetário do Fed segue no radar, e mesmo assim o mercado acionário teve valorização expressiva”, afirma. “Às vezes não é preciso acontecer o cenário ideal desejado pelo mercado para que os ativos andem, basta que não se materialize o pior cenário projetado”.
Para não adotar uma postura excessivamente conservadora, sem também enfrentar o período de elevada volatilidade de peito aberto, o CIO da Western tem recomendado aos clientes estratégias ativas, nas quais fatores microeconômicos específicos de determinadas empresas podem fazer com que elas se sobressaiam mesmo em um cenário no qual o mercado como um todo tenha um fraco desempenho.
“O trabalho de stock picking e de fundos long short, na bolsa, e ativos de crédito podem capturar um momento positivo de determinadas empresas”, pondera Clini. Ele lembra que no período de 2012 a 2016, quando a Bovespa não teve uma performance destacada, alguns papéis, como Lojas Renner, Cielo e Ambev conseguiram entregar resultados positivos aos investidores.
Clini diz ainda que, em momentos de incertezas, ações e títulos de crédito privado de empresas de qualidade, líderes em seus segmentos de atuação, com capacidade de estabelecer preços no mercado e com diretores reconhecidos por seu trabalho, tendem a performar acima da média.