Impacto nas independentes | Novas regras da ICVM 558 incentivam m...

Edição 273

 

Aentrada em vigor da ICVM 558, instrução da Comissão de Valores Mobiliários que permite entre outras coisas que gestores distribuam cotas de seus próprios fundos, já começa a impactar os mercados de assets independentes. Segundo o sócio diretor da Capitânia, Arturo Profili, a empresa está encerrando as atividades do braço que fazia a distribuição de seus fundos, a Capitânia Agentes Autônomos de Investimento, uma vez que ela não terá mais nenhuma função operacional ou regulatória. A tendência é que o novo ambiente afete principalmente as gestoras que não fazem parte de conglomerados, uma vez que as integradas já tem as atividades de distribuição e administração internalizadas no grupo.
A constituição de uma pessoa jurídica do tipo ‘agente autônomo de investimentos (AAI)’, regulada pela Ancord, era uma prática comum entre as gestoras antes da alteração na legislação, que ficava sob a posse dos próprios sócios da asset. A empresa era utilizada para fazer o marketing dos produtos. “A consequência natural da ICVM 558 será migrar as atividades de marketing e distribuição de cotas de fundos para dentro da gestora, com a criação do cargo estatutário de diretor de distribuição”, afirma Profili.
Carlos Simonetti, que já era o responsável pela equipe comercial da Capitânia, junto com Flavia Krauspenhar, assume o novo cargo. Ainda assim, a rede terceirizada de distribuição dos fundos da Capitânia, que conta com mais de 50 parceiros, entre distribuidores e outras assets, e de onde vem a maior parte da captação, prossegue da mesma forma.
Embora a instrução da CVM permita de fato uma aproximação maior entre gestores e clientes, essa interação tende a seguir relativamente limitada pela falta de capilaridade das assets, nota Regis Dall’Agnese, sócio responsável pela asset da RB Capital. “A atividade de gestão tem de continuar focada em seu principal negócio, que é de gerir ativos. Não sei se vai chegar ao ponto do gestor assumir o papel dos grandes bancos. É preciso acessar os mais diversos tipos de investidores, e não vejo os gestores conseguindo fazer esse trabalho de forma tão ampla e completa”.
O sócio-diretor da Empírica Investimentos, Leonardo Calixto, também entende que um aumento no leque de serviços das assets encontra barreiras no próprio tamanho dessas gestoras, e no negócio principal que elas se propõem a fazer. “A nossa especialidade é na estruturação e gestão. A preocupação maior é não perder o foco de atuação da empresa”. Ainda assim, o executivo não descarta explorar alguns novos caminhos que passaram a ser possíveis com a mudança da regulação. “Podemos criar estruturas para diferentes públicos, como uma equipe para distribuir para pessoas físicas, varejo, private. Se evoluirmos nisso, a tendência é mais para o private e varejo”, fala Calixto.

Administração – Por já contar com uma DTVM dentro do grupo, a distribuição da RB Capital não se altera por conta da ICVM 558. No entanto, Dall’Agnese ressalta que, devido à mudança do normativo, a RB Capital avalia começar a fazer a administração de seus próprios fundos. “Hoje quem tem o maior contato com o investidor, seja através da montagem das lâminas, ou das assembleias, acaba sendo o administrador”, pondera o executivo, que no momento considera os prós e contras da mudança. “Precisamos avaliar se essa nova atividade está em linha com os objetivos da companhia, e se vamos conseguir prestar um serviço de qualidade”, diz Dall´Agnese, que ressalta que a administração de fundos trata-se de um negócio de escala; é necessário um volume mínimo relevante para que o negócio se torne sustentável.
Pelo fato de a RB Capital ser uma gestora especializada em veículos estruturados, a administradora dos fundos também precisa de um grau de competência maior para atender as demandas que surgem, diz Marcelo Michaluá, sócio da RB Capital responsável pelo corporate e institucional. Hoje o Citi é o principal administrador dos fundos da RB Capital, que conta ainda com os serviços fiduciários da Oliveira Trust, Bradesco e Santander. “Pela complexidade do processo, e dado o grau de especialização, ser o administrador dos próprios fundos talvez seja uma possibilidade até mais realista para quem decidir fazer a administração de fundos com esse tipo de característica, mais especializados em ativos alternativos”, afirma Michaluá.
Para George Kerr, diretor da Aberdeen Asset Management no Brasil, a ICVM 558, à medida que permite uma aproximação maior do gestor com o investidor, vai fazer com que as assets passem a atuar de maneira mais efetiva na questão do ‘suitability’. “Teremos que observar uma série de obrigações que hoje estão no colo do distribuidor, mas por outro lado vamos poder falar com mais propriedade, e mais diretamente com o cliente final”, afirma Kerr.
Embora projete um contato maior com o investidor daqui em diante, o executivo destaca que o papel dos distribuidores continuará sendo relevante, até pela dimensão geográfica do país. “A ICVM 558 vem para somar, não para excluir. Tem muitos tipos diferentes de investidores, e cada distribuidor tem sua expertise, seu nicho. O Brasil é muito grande, e queremos aumentar esse trabalho, mas também vemos oportunidades de fazer a distribuição para alguns investidores de maneira direta”.

Menor espaço para distribuidores e agentes autônomos

Os distribuidores independentes e os agentes autônomos de investimento, que não contam com as estruturas dos grandes conglomerados, tendem a perder espaço no mercado com a nova Instrução. “O impacto principal e direto é nos distribuidores de fundos, uma vez que o gestor eventualmente vai fazer a distribuição do fundo sem eles”, afirma Sérgio Bini, gerente de investidores corporativos da Caixa.
Com a maior aproximação das assets menores com o investidor final, um caminho que pode ser buscado pelos agentes, prevê Cassius Pugliese, sócio da Brasprev AAI, que é focada em RPPS, será via os bancos de investimento. “O apoio dessas instituições seria uma oportunidade melhor para os agentes autônomos, e também para os bancos, que não contam com corpo próprio para isso, a não ser os grandes que fazem as captações nas agências”, fala Pugliese. “Elas podem criar estruturas para fazer essa captação. Senão os RPPS vão ficar na mão da BB e da Caixa, que tem agências em todos os lugares”, acrescenta.
Segundo o sócio da Brasprev, há alguns casos em que os RPPS têm em carteira um fundo de um dos grandes bancos públicos que não tem uma performance tão destacada quanto de outras casas, mas que é o qual eles têm acesso. “Muitos bancos estão de olho nesse mercado de institutos de previdência, que é um dinheiro de médio e longo prazo”. A Caixa e o BB detêm, juntos, quase R$ 80 bilhões em recursos dos RPPS. “Se os bancos privados conseguirem 10% desse mercado já são alguns bilhões, e percebemos eles mais presentes, participando mais dos eventos das associações para concorrer com os públicos”.