Edição 286
A incorporação do fundo HSBC Multipatrocinado à estrutura do Bradesco dá origem ao maior fundo de pensão do segmento. De longe, a junção do fundo de pensão do HSBC, que passa a se chamar Multibra, com a entidade que já existia no Bradesco, o Multipensions, confere o status de maior fundo multipatrocinado do mercado, bem a frente de seus principais concorrentes, o Multiprev e o Icatu. Apesar de não ocorrer a unificação formal das entidades, Multipensions e Multibra funcionarão debaixo de um mesmo guarda-chuva, dentro da estrutura da seguradora do Bradesco.
Para o grupo Bradesco, o principal ganho com a incorporação do fundo do HSBC virá com a sinergia de negócios. A estrutura incorporada, na verdade, é formada por dois fundos distintos, uma entidade de planos patrocinados, com patrimônio de R$ 6 bilhões, e outra, de planos instituídos, com R$ 500 milhões. São cerca de 300 patrocinadoras e instituidores de 156 planos e cerca de 80 mil participantes. Um dos pontos-chave para entender a sinergia é o potencial de oferta de cobertura de morte, invalidez e longevidade para as patrocinadoras e participantes do fundo incorporado.
“Estamos bastante motivados com a incorporação, percebemos uma oportunidade de complementaridade do negócio de previdência à nossa seguradora”, explica Jair Almeida Lacerda, diretor gerente de previdência da Bradesco Seguros e responsável pelos fundos multipatrocinados. O executivo comenta que a seguradora do Bradesco já vinha trabalhando com o projeto de buscar maior complementação na cobertura para os participantes de fundos de pensão. Com a incorporação do fundo do HSBC, essa proposta ganha mais viabilidade devido ao aumento de escala.
De imediato, a Bradesco Seguros deve oferecer planos para cobertura de benefícios para morte e invalidez para os participantes do Multibra. Em seguida, e com o avanço na regulamentação, a seguradora pretende entrar no negócio de transferência de risco de longevidade. “Agora temos maior escala para propor a cobertura de longevidade para fundos de pensão. Passamos a ter escala atuarial para realizar um trabalho conjunto do fundo de pensão com a seguradora”, diz Lacerda.
A Previc e a Susep vem trabalhando em conjunto para regulamentar mecanismos de transferência de risco de sobrevida de fundos fechados para o mercado segurador. E o Bradesco acredita contar com boas condições para entrar no negócio justamente após a incorporação do fundo do HSBC. É importante lembrar que o fundo incorporado é o mais antigo do Brasil na categoria de multipatrocinados. Foi criado na década de 80 pelo banco Brascan e passou por outras instituições financeiras, como Montreau, CCF, até chegar ao Bradesco.
Pela antiguidade, o fundo ainda mantém diversos participantes de planos da modalidade de benefício definido (BD). E os planos BD são considerados pelo mercado segurador como os principais candidatos para a transferência de risco de sobrevida, justamente devido ao alto risco de desequilíbrio que amedronta as patrocinadoras. O fundo que veio do HSBC tem cerca de 8 mil assistidos. Já o Multipensions tem 1,5 mil participantes assistidos. A nova estrutura deve alcançar em breve a marca de 10 mil participantes em fase de recebimento de benefícios.
A sinergia envolve ainda a oferta de outros produtos da seguradora para o público do fundo de pensão, como saúde e outros ramos elementares. E o aumento de escala também deve provocar redução de alguns custos administrativos, apesar da manutenção da equipe do fundo incorporado, pelo menos em um primeiro momento.
Estrutura e equipe – “Não vamos mudar a equipe neste momento, haverá a incorporação de todos os profissionais”, diz Lacerda. Ele explica que o fundo de pensão do HSBC continua funcionando normalmente, sem grandes mudanças na estrutura. Será mantida a estrutura que veio do HSBC que está sediada em Curitiba. A ideia é manter todo o back office do fundo de pensão na capital paranaense. E até algumas áreas da Bradesco Seguros devem aproveitar a estrutura de Curitiba para rodar sistemas e processos.
Já em São Paulo ficará sediada a equipe de relacionamento do fundo de pensão. A equipe tem experiência no segmento. Nomes como de José Marcos Ramos e de Mário Amigo devem continuar na área de previdência fechada do Bradesco. “Vamos buscar aproveitar sinergia da equipe também”, aponta o diretor gerente do Bradesco.
A administração dos planos de benefícios ficam sob responsabilidade da Kirton, uma prestadora de serviços ligado ao grupo Bradesco. A diretoria das entidades é formada por executivos da Kirton, entre eles, o próprio Jair de Almeida Lacerda.
Não há planos para a unificação de entidades. Ou seja, serão mantidos os fundos de pensão com registros segregados na Previc. “A unificação de entidades não implica em redução de custos de acordo com a legislação atual”, diz Lacerda. O executivo acredita que a legislação deveria mudar no sentido de permitir maior flexibilidade no custeio de planos para redução de custos. “As regras atuais dificultam a permanência de planos menores, alguns deles chegar a ficar inviabilizados”, diz. O problema apontado pelo executivo e também por profissionais de outros fundos multipatrocinados é a exigência de contabilização de custos para cada plano em separado.
Em todo caso, o executivo do Bradesco reafirma a intenção de manter os planos e toda estrutura do fundo adquirido. Diferente do controlador anterior, o HSBC, que tinha planos de redução da operação do fundo multipatrocinado, o Bradesco aponta para uma direção oposta. “Nós queremos manter a estrutura do multipatrocinado e aproveitar toda sinergia entre os negócios”, diz Lacerda. Ele explica que o negócio de previdência do Bradesco é uma das prioridades centrais do grupo, tanto no segmento aberto quanto fechado.
A ideia é continuar oferecendo tanto planos abertos quanto fechados para os clientes corporativos em um modelo chamado de full service. Neste sentido, as empresas que procuram a seguradora do Bradesco têm acesso a opções de planos abertos como PGBL e VGBL ou planos fechados no multipatrocinado. A novidade agora é a opção de planos instituídos, que podem ser criados por associações e entidades de classe. Além disso, o fundo multipatrocinado continua mirando para as possíveis migrações de fundos próprios.
Em momentos de crise econômica, como a que o país vem atravessando, explica Lacerda, o mercado de fundos multipatrocinados apresenta maior perspectiva de crescimento. Isso porque aumenta a tendência de migração de planos de fundos de pensão próprios para os multipatrocinados em busca de redução de riscos e custos. O negócio de vida e previdência do Bradesco tem atualmente uma carteira de R$ 170 bilhões e cerca de 2,5 milhões de vidas.
Gestão de recursos – Assim como o Bradesco está incorporando diversas áreas do HSBC, a gestora de recursos do grupo, a Bram, também está se unindo à asset do grupo adquirido. Neste sentido, a gestão de recursos do HSBC Multipatrocinado também está sendo incorporada pela Bram. “Há uma maior capacidade de gestão pela Bram, com uma equipe maior e mais capacitada”, explica Lacerda.
Com a incorporação dos fundos e equipe da asset do HSBC, também aumentam as possibilidades de diversificação e ganho de qualidade na gestão dos investimentos do Multibra e do Multipensions. Isso porque os diferentes planos e patrocinadoras terão maior leque de escolhas de fundos e estratégias na gestão dos recursos.
Ativos
Multibra patrocinado – R$ 6 bilhões
Multibra instituído – R$ 500 milhões
Multipensions – R$ 2,2 bilhões
Total patrimônio – R$ 8,7 bilhões
Fonte: Bradesco
Grandes números: Multipensions e Multibra
Total participantes ativos – 115 mil
Total de assistidos – 9,5 mil
Total de patrocinadoras – 384
Fonte: Bradesco