Gestores apostam na volta dos multimercados | Queda da taxa bási...

Hadid: multiestratégias com resultados Edição 241

 

Em um cenário de juros mais baixos e maior volatilidade de bolsa, a expectativa dos gestores é que cresça a demanda dos clientes institucionais por fundos multimercados. A superação das metas atuariais das fundações, antes garantida por investimentos lastreados em títulos públicos federais, começa a exigir estratégias diversificadas e com maior  risco, que é justamente o perfil dos fundos multimercados.

Os multimercados atravessaram um período negro durante o ano passado e início deste ano, principalmente por conta da baixa rentabilidade que a maioria vinha apresentando em virtude da queda das bolsas e da volatilidade gerada pela crise europeia. As aplicações em renda fixa, ao contrário, cresceram. No acumulado de 2011, enquanto os multimercados perderam R$ 52 bilhões, a renda fixa engordou em R$ 70,2 bilhões. Essa tendência perdurou durante os primeiros meses do ano, mas começou a mudar.

“Uma série de títulos indexados irão vencer neste ano e no início do próximo. As entidades já estão se preparando para buscar os ganhos necessários para bater suas metas atuariais no novo cenário do mercado”, diz o executivo da área de relações com investidores da gestora JGP, Guilherme Bragança. Segundo ele, tem crescido o número de fundações interessadas em ativos de maior risco, incluindo os fundos multimercados mais agressivos. Esse movimento teria acontecido antes não fosse a aversão a riscos causada pela perspectiva de agravamento do cenário europeu. “A multiestratégia gera maior proteção, mesmo em épocas de crise e independente do mercado”, explica Bragança. “É uma excelente oportunidade de garantir rentabilidade”. Com R$ 5,8 bilhões sob gestão, a JGP tem desse volume 70% em multimercados e multiestratégia e 30% em fundos de ações.

De acordo com o sócio do banco Brasil Plural, Carlos Eduardo Rocha, a busca de maior rentabilidade nas fundações passará pela aceitação de produtos de maior risco, incluindo fundos de crédito privado e multimercados. “A renda fixa já não garante a superação das metas atuariais das fundações. Por isso, a inclusão de ativos de maior risco nas carteiras serão mais valorizados, principalmente a partir deste segundo semestre”, conta.

Com R$ 3,29 bilhões sob gestão ao final do primeiro semestre deste ano, o Brasil Plural é um gestor com foco em produtos estruturados. Do total sob gestão, 39% são provenientes de fundos de private equity, segundo a última edição do ranking Top Asset. O restante é proveniente de captações via fundos multimercados e de crédito privado, principalmente junto a cliente private que atualmente é o principal cliente da instituição.

Outra que aposta no crescimento dos multimercados é a superintendente de Investimentos da Votorantim Asset Management (Vam), Sandra Petrovsky. Segundo ela, a flexibilidade dos multimercados para operar em diferentes áreas e com variados ativos dão a eles um importante papel na composição dos portfólios dos institucionais. “Os multimercados terão destaque nesta nova fase de diversificação das carteiras das fundações. Elas conseguem operar tanto com arbitragem do câmbio quanto com juros futuros”.

Para Sandra, o desenvolvimento dos multimercados nos próximos anos dependerá do seu desempenho e do retorno dado para o investidor. Também dependerá da performance das bolsas. “Mesmo com um desempenho fraco nos últimos dois anos, a bolsa ainda abriga alguns setores e papéis que refletem os bons fundamentos da economia”, defende.

Mas as apostas nessas classes de ativos devem ser precedidas por análises mais rigorosas, para conhecer seu risco e ver se ele é bem suportado pelo investidor. Esse é o alerta do consultor da Aditus, Guilherme Benites, que acrescenta que além dos riscos dos produtos o investidor tem que analisar também o conhecimento e a experiência dos gestores. Para o consultor, é necessária uma pesquisa detalhada sobre o histórico dos gestores e dos seus fundos em diferentes cenários econômicos. “É preciso garimpar com calma, procurando os melhores gestores e produtos mais adequados”, recomenda.

Segundo o sócio da Advis Investimentos, Ronaldo Zanin, uma das vantagens dos fundos multimercados é a capacidade que possuem de entregar rentabilidade diferenciada sem, necessariamente, o investidor ter que correr risco de bolsa. De acordo com Zanin, é possível atingir retornos superiores aos benchmarks em horizontes de longo prazo.

Antecedentes – O presidente da BRZ Investimentos, Alan Hadid, relembra que houve duas etapas que marcaram negativamente o segmento dos multimercados na visão dos fundos de pensão. A primeira ocorreu até meados de 2011, quando o desempenho médio dos multimercados chamava pouca atenção dos institucionais por conta da baixa rentabilidade. Outro momento difícil foi o início do ciclo de corte nos juros, que prejudicou o desempenho de algumas classes de multimercados no segundo semestre de 2011.

Na visão do executivo, as dificuldades de performance dos multimercados ficaram para trás. Agora o segmento deve entregar resultados mais satisfatórios ao utilizar estratégias de valores relativos, isto é, explorando a utilização de instrumentos como arbitragem, fundos long and short, multiestratégias em ações, volatilidade, taxas de juros ou moeda.

 

“Os ganhos elevados com taxa de juros acabaram. As apostas estão mais arriscadas e o investidor irá buscar ganhos em mercados mais estruturados, que exigem uma análise especializada”, explica. Apesar da aversão à alta volatilidade e da dificuldade de previsão de cenários, os institucioais não têm outra opção senão migrar para carteiras de maior risco. “As fundações ficaram ressabiadas com os multimercados, mas não é mais possível concentrar o portfólio apenas na renda fixa. Por isso, a combinação de ativos como multimercados, ações, um pouco da própria renda fixa e private equity serão essenciais neste momento”, diz.