Ganhando com crédito podre | Jive e Starboard levantam mais de R$...

Edição 303

 

Crescimento dos ativos problemáticos (em pdf)

Com o objetivo de investir em ativos estressados do mercado brasileiro, resultantes dos anos recentes de recessão econômica, a gestora Jive Investments acaba de concluir a captação de um fundo de R$ 1,2 bilhão, enquanto a Starboard Restructuring Partners levantou até o momento R$ 900 milhões, com a intenção de obter outros R$ 300 milhões nos próximos meses. A Jive vai focar sua atuação na compra de carteiras de crédito inadimplentes, imóveis tomados pelos bancos de devedores e também em precatórios, enquanto no menu da Starboard estão empresas com dificuldades financeiras com potencial de crescimento mas que precisam passar por um processo de reestruturação.
A Jive encerrou em meados de março a captação de seu segundo fundo, de R$ 1,2 bilhão, que foi distribuído em uma oferta 476 com esforços restritos pelo Credit Suisse Hedging-Griffo junto à sua base de investidores private e familys offices, além de R$ 100 milhões vindo de estrangeiros. A gestora prepara uma segunda rodada de captação para o fundo, que será voltada apenas para estrangeiros e que pode alcançar R$ 800 milhões. “Alguns fundos de pensão e endowments de universidades já demonstraram interesse”, diz o diretor da Jive, Guilherme Ferreira. As fundações locais, que segundo ele ainda tem certo receio para atuar com FIDCs-NP devido à legislação estabelecida pela Previc, não entraram no fundo.
Após o encerramento da captação a Jive já realizou uma operação, com a aquisição de uma carteira de R$ 800 milhões em valor de face de um banco europeu com atuação no país. “Como entre o encerramento do período de investimento do primeiro fundo e a abertura do segundo tivemos um intervalo de alguns meses, se acumularam algumas oportunidades no nosso radar”, pontua Ferreira.
Pelos cálculos do diretor da asset, com o volume captado a Jive deve adquirir até R$ 10 bilhões em valor de face de créditos inadimplentes de grandes bancos, além de R$ 2 bilhões em precatórios. Ferreira diz ainda que outro nicho no qual a gestora irá atuar, com um montante de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão, será no de imóveis tomados dos devedores pelos bancos durante a crise. De acordo com o especialista, em 2014 os cinco grandes bancos tinham R$ 4,5 bilhões em imóveis, montante que saltou agora para R$ 13,5 bilhões.
Segundo o diretor da Jive, não está descartada a atuação da asset junto aos fundos de pensão interessados em se desfazer de ativos que apresentaram problemas nos últimos anos. “No entanto, com esse público as negociações ainda são mais difíceis de avançar na hora de precificar o valor do ativo em carteira”. A Jive chegou a ser contratada pelo Postalis no ano passado para trabalhar na recuperação de ativos da entidade por meio de FIDCs-NP. A Previc, contudo, entendeu que os valores pelos quais os ativos foram contabilizados não eram condizentes com sua real situação e desfez os fundos. Agora, a Jive está em tratativas para prestar serviços diretamente ao Postalis, trabalhando na recuperação dos ativos na própria carteira do fundo de pensão, sem que sejam estruturados novos fundos.

Timing – O diretor da Jive explica que o momento para o lançamento do fundo levou em conta o encerramento do primeiro fundo, em janeiro de 2018, e também o ambiente econômico do país. “Momentos em que o país está saindo da recessão são melhores para a negociação de créditos inadimplentes do que durante a crise propriamente”, afirma Ferreira. O executivo diz que durante a crise os bancos preferem manter ativos inadimplentes em carteira, às vezes renegociando com os devedores e estendendo o prazo de pagamento, a vendê-los pois isso resulta no reconhecimento da perda em seu balanço, com possível impacto no índice de Basiléia.
Ele acrescenta que, quando o fim da crise se aproxima alguns devedores voltam a pagar mas outros não, e com isso o banco consegue separar o joio do trigo e começa a ter um incentivo maior para vender algumas das carteiras inadimplentes. “Percebemos esse movimento de maneira clara no fim de 2017 e acreditamos que é um processo que deve continuar em 2018”.
Dados apontados pelo especialista indicam que o percentual de créditos inadimplentes de grandes empresas nos cinco grandes bancos do país, que era de 0,3% em 2013 subiu para 1,8% em 2017, crescimento de seis vezes. “Esse movimento ocorreu em todas as categorias de crédito, seja contra grandes, médias e pequenas empresas ou pessoa física”, pontua o diretor da Jive.

Empresas – Já a Starboard Restructuring Partners está no momento em processo de captação de seu segundo fundo, que também deve alcançar a marca de R$ 1,2 bilhão. Até o momento já foram captados cerca de R$ 900 milhões, conta o diretor executivo da Starboard, Meton Morais, que se juntou à companhia no final do ano passado após passagens como CEO da GP Investimentos na Suíça e no Pátria.
“Com os recursos captados devemos fechar a primeira operação do fundo no curto prazo”, diz Morais. O executivo ressalta que a Starboard atua somente na compra de empresas em dificuldades financeiras que precisam passar por um processo de reestruturação, sem operar na aquisição de carteiras de crédito inadimplentes.
O primeiro fundo da Starboard, de R$ 125 milhões, teve quatro operações, enquanto o segundo deve ter de cinco a sete investimentos no portfólio, com um aporte em cada um entre R$ 100 milhões a R$ 200 milhões. Sobre as oportunidades a serem exploradas pelo segundo fundo, Morais pondera que não há nenhum setor específico no radar da gestora. “Temos no pipeline entre 10 a 15 oportunidades bem diversificadas, em vários setores. Procuramos empresas em dificuldades financeiras em nichos de mercado que foram dizimados pelo que aconteceu no Brasil nos últimos anos”.
Entre os investimentos do primeiro fundo da Starboard estão empresas dos setores de mineração, varejo e indústria, além de um estaleiro. Um case público de investimento do primeiro fundo da gestora, no setor de mineração, foi na empresa atualmente denominada Ero Copper, que atua na exploração de cobre. “Se tratava de um excelente ativo na nossa visão, porém em uma situação muito difícil, em recuperação judicial após um alagamento em sua principal mina subterrânea de cobre na Bahia”, afirma o diretor da asset. A Starboard aportou recursos na empresa e promoveu um trabalho de reestruturação da dívida, o que permitiu que ela voltasse às suas operações regulares. Dentro do processo de desinvestimento a Ero Copper foi listada na bolsa de Toronto, com capitalização de mercado superior a R$ 1 bilhão. “Conseguimos obter um retorno muito positivo com o investimento”.

Parceria – Em fevereiro de 2018 a Starboard anunciou uma parceria com a Apollo Global Management, gestora americana que atua no segmento de ativos estressados com US$ 249 bilhões em ativos sob gestão, e que recentemente encerrou a captação de um dos maiores fundos globais de private equity, de aproximadamente US$ 25 bilhões.
Pela parceria a Apollo adquiriu 20% e dois assentos no conselho da Starboard, e comprometeu US$ 250 milhões a serem utilizados em coinvestimentos junto com a gestora brasileira em oportunidades no país. “A Apollo já estava procurando atuar no Brasil há bastante tempo e decidiu investir na região através de um parceiro após um processo razoavelmente longo de conversas entre as partes”, afirma Morais.