Fundações buscam opções em infraestrutura | Investimentos em infr...

 João Bosco Quadros Barros,  da PrevirbMatheus Garcez da Silva, da Fundação CEEEEdição 252

Após o complicado primeiro semestre de 2013 em termos de rentabilidade do patrimônio dos fundos de pensão, dado o aumento da Selic e seus efeitos na marcação a mercado na renda fixa, e o desempenho pífio da Bolsa brasileira na variável, as fundações não tiveram outra saída que não se mexer em direção a novos frontes. Para os fundos de pensão, principalmente de médio porte, uma das opções tem sido garimpar as oportunidades domésticas além da dicotomia renda fixa e renda variável, e um ponto em comum que está em análise entre algumas fundações é o financiamento da infraestrutura.
“O setor de infraestrutura está em estudos. Vemos a questão da estrada com bons olhos. A infraestrutura de portos também olhamos, não com tanta atenção como as estradas, mas estamos olhando também”, afirma Nilza Rodrigues de Morais, diretora financeira da Regius.
Por ter um patrimônio mais modesto na comparação com as grandes fundações do país, de R$ 1,4 bilhão, a executiva do fundo de pensão dos funcionários do Banco de Brasília (BRB) prevê que o investimento na infraestrutura deve ocorrer via compra das debêntures a serem emitidas pelas empresas que forem explorar a malha rodoviária nacional. “Os Fundos de Investimento em Participações (FIP), dependendendo do formato, têm a curva J, que é complicado se não for uma fundação grande que tenha tempo de administrar a curva. Temos um plano maduro, no qual a maior parte dos participantes vai se aposentar nos próximos seis anos, então os retornos devem ser mais imediatos”, explica Nilza.
Está previsto para ocorrer na segunda quinzena de setembro os leilões das BR-050 (Goiás e Minas Gerais) e BR-262 (Espírito Santo e Minas Gerais). O Programa de Investimentos em Logística (PIL) engloba a concessão de 7,5 mil quilômetros de rodovias em nove lotes, com investimentos previstos da ordem de R$ 52 bilhões.

 

Pós-Copa – Os grandes eventos esportivos que o Brasil vai receber nos próximos anos – Copa do Mundo em 2014, e Jogos Olímpicos em 2016 – abrem uma janela de oportunidade para que gargalos sejam solucionados em um período de tempo mais reduzido, o que, em teoria, tende a gerar retornos também mais robustos às fundações.

“Temos que pensar na sustentabilidade dos investimentos pós-Copa, nas oportunidades que surgem com a Copa e continuam após o evento. Em aeroportos já havia um déficit, e com o efeito Copa, os investimentos ganham celeridade”, pondera a diretora financeira da Regius.
“Dado que os eventos esportivos são de grande magnitude, que envolvem questões de logística, construção pesada, hotelaria, mobilidade urbana, e a própria questão do trânsito de pessoas, eles devem ter repercussão significativa nesses segmentos, então fazem parte de nossos estudos”, pontua João Bosco Quadros Barros, diretor financeiro da Previrb, que assim como a colega da Regius também avalia alternativas em investimentos estruturados para o curto e médio prazo.
“Quando se tem a atrofia das oportunidades nos segmentos padrões, abre-se a necessidade de diversificação do portfólio para buscar rentabilidades superiores”, comenta Barros. A ideia é iniciar os investimentos nessa área com um FIP que explore a logística da mobilidade urbana nas regiões sul e sudeste do país. “Estamos avaliando as possibilidades e pretendemos aprofundar esse assunto no segundo semestre”. Hoje com 3% na política de investimento para estruturados, o diretor da Previrb não descarta um aumento desse percentual no ano que vem para abocanhar um pouco mais dos R$ 1,5 bilhão que formam o patrimônio da casa.

 

Relutância – Embora aparente ser um caminho sem volta a diversificação para investimentos ainda inexplorados, algumas fundações ainda demonstram certa resistência em aderir ao novo cenário que começa a se desenhar.

“Não entramos ainda, mas na reunião do comitê desse mês começamos a analisar essa possibilidade de entrar, não a curto, mas a médio prazo. Como a política da Fabasa tem funcionado bem, não tenho mudado a estratégia – hoje trabalhamos com dois fundos multimercados de renda fixa, e oito de renda variável completamente diversificados – que estão dando bons resultados em relação ao mercado”, diz Carlos Araújo, diretor financeiro do fundo de pensão da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Fabasa).
No ano, a rentabilidade consolidada da carteira de investimento da Fabasa está negativa em 0,24%, até julho, enquanto não são poucos os pares que apresentam queda superior aos 2%.
“Por conta do cenário de mercado, temos avaliado entrar em estruturados, mas sem precipitação, porque na visão de longo prazo do fundo de pensão não se pode mexer na estratégia de investimento que vem de dando certo há oito, nove, dez anos, e por causa de um momento mudar repentinamente. Estamos estudando criteriosamente para ver se vale a pena mudar ou não”, afirma Araújo.
Nos estudos da Fabasa, e da Prece Previdência, está a possibilidade de entrar em FIPs que buscam explorar ativos florestais, novidade que está no forno do BTG Pactual. “Se continuarmos no arroz com feijão não tem como bater a meta atuarial, nem o mínimo possível. O lema aqui era fugir do risco, mas se continuar no mais do mesmo não tem como bater a meta”, fala Milton Luis de Araújo Leobons, diretor de investimentos da Prece Previdência. “Com certeza vamos entrar, em 2013 ainda. Vai ser em torno de 10%”, acrescenta o executivo, que é responsável pela gestão de uma carteira total de R$ 1,65 bilhão.

 

Diversificação – Os próprios investimentos estruturados são vistos pelos investidores institucionais como um importante passo rumo à diversificação da carteira, mas aqueles que já trabalham com esse tipo de operação sentem que faltam produtos que saiam da mesmice.

“Os gestores sempre oferecem produtos relacionados ao setor de infraestrutura, mas quando vamos olhar para dentro do FIP, é o que já temos. Acaba não aparecendo muita novidade. Às vezes falta serem mais especificos no que se deseja chegar. Portos e ativos logísticos têm uma gama bem ampla, que vai desde o operador de um porto privado, ao dono das docas dentro do porto, passando pelo dono de uma empresa de logística. Falta um pouco mais de desenho no objetivo dos fundos”, nota Matheus Garcez da Silva, consultor de investimentos da Fundação CEEE.
Pela própria natureza do fundo de pensão, que tem entre seus patrocinadores a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEE), os investimentos estruturados tem participação significativa dentro da carteira da casa, de 19% ante o total de R$ 5 bilhões, sendo que, desse percentual, a maior parte está em dois FIPs de energia. “O objetivo é maximizar o retorno através dos dividendos e da valorização das ações”, explica Silva.
Além dos dois FIPs de energia, a Fundação CEEE conta com investimentos no setor de óleo e gás, até mesmo pela ligação com o segmento de maior atuação da patrocinadora, seja ela a energia propriamente dita, ou transformada em combustível ou fóssil, e um outro investimento imobiliário que tem seu escopo voltado para a parte de armazenagem, galpões e logística. “Estamos na fase final, e é muito provável que vamos firmar compromisso em um fundo voltado aos portos e ativos logísticos que estão relacionados. Temos uma carência muito grande em relação aos portos, com o porto de Santos funcionando com 95% de sua capacidade, 24 horas por dia”, afirma o consultor.
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, falou recentemente que os desembolsos diretos do banco para o setor de infraestrutura podem crescer até 10% no ano que vem, na comparação com a expectativa de 2013, que é de R$ 30 bilhões. Os valores contemplam os montantes que serão destinados às concessões a serem realizadas pelo governo.