Uma combinação de diferentes situações, que incluem desde fatores de mercado como as boas oportunidades existentes na renda fixa e as incertezas sobre a retomada do nível de atividade econômica no curto prazo até fatores de governança como o envolvimento de alguns fundos de private equity com operações investigadas pela polícia federal no passado recente, contribuíram para diminuir o apetite dos institucionais por essa classe de ativos nos últimos meses.
Segundo o ranking Top Asset, que publicamos nesta edição, enquanto o mercado de ativos como um todo apresentou nos doze meses encerrados em junho de 2018 crescimento de 10,94%, para R$ 4,13 trilhões, os FIPs e FMIEEs, por outro lado, registraram uma queda de 3,23% no mesmo período de comparação, somando R$ 149,42 bilhões.
Por conta desse cenário traçado acima, algumas assets que atuam no mercado de private equity com foco em investidores locais, como Caixa e Votorantim, não estão planejando novos fundos ou captações no momento. Segundo o superintendente nacional de fundos especiais da Caixa, Cassio Viana de Jesus, “pelo menos até meados de 2019 o segmento de fundos de investimentos em participações deve seguir com baixa tração”.Já assets que acessam investidores institucionais estrangeiros, como a Gávea por exemplo, tem obtido êxito nas captações, já que com a desvalorização do real aumenta o incentivo desse público para fazer investimentos na região. De acordo com o sócio da Gávea, Bernardo Carvalho, a maior parte dos investidores que participam dos fundos de private equity da casa são estrangeiros. No quinto fundo de participações da gestora, que captou cerca de US$ 1,1 bilhão em 2015, apenas 2% dos cotista são institucionais locais, sendo a maior parte deles de de pequeno porte.
Segundo Carvalho, a exigência de algumas grandes fundações de participação na governança dos fundos, com assento no comitê de investimentos, têm inviabilizado muitas negociações com a casa. “No mercado internacional não existe essa demanda por participação na governança do fundo”.
A Gávea deve captar em 2019 o seu sexto fundo de private equity e espera direcionar uma parte da carteira aos institucionais locais, o que exigirá muitas análises e conversas para diferenciar os produtos de safras anteriores e com isso separar o joio do trigo. “Caso haja demanda por parte das fundações brasileiras, queremos ter uma fatia mais relevante delas no próximo fundo, mas elas terão as mesmas condições que os estrangeiros”, diz Carvalho.
O sócio da Gávea afirma que, embora por questões regulatórias a gestora não possa ainda divulgar, os resultados de seu quinto fundo tem se mostrados positivos. “Começamos a investir em 2015, quando a economia já estava indo mal, e conseguimos entrar em alguns negócios com preços bastante atrativos”, explica. “Investimos em empresas fechadas e também em abertas, uma prática conhecida como Pipe (Private Investment in Public Enterprises) no mercado global, em que o gestor adquire uma parcela relevante da empresa para ter a possibilidade de contribuir em sua administração”, conta Carvalho.
O fundo cinco da Gávea tem investimentos em empresas abertas como a Fibria e a Hering e em empresas fechadas como a Stone, de cartões, a Natural One, de sucos naturais, o Grupo São Francisco, de saúde, e a GPS, de segurança.
NTN-Bs – Além da recessão econômica e dos problemas pontuais enfrentados por alguns Fundos de Investimentos em Participações (FIPs), o superintendente nacional de fundos especiais da Caixa aponta também os altos prêmios ofertados pelas NTN-Bs como outro importante motivo que levou ao afastamento dos institucionais dos fundos de private equity. Na avaliação do especialista, os prêmios que as NTN-Bs têm oferecido recentemente são suficientes para fazer frente às metas atuariais da maior parte dos fundos de pensão.
A atratividade das NTN-Bs explica a pouca movimentação do mercado de private equity neste ano, prevê o especialista. Citando dados da CVM Jesus mostra que dos R$ 22 bilhões em ofertas primárias e secundárias de valores mobiliários registrados neste ano, até meados de setembro, apenas R$ 570 milhões são referentes a FIPs, o que representa somente 2,5% do total.
Para o superintendente da Caixa, o segmento de FIPs deve seguir em certo compasso de espera, ao menos entre as gestoras com foco em investidores locais, até meados de 2019, quando tivermos perspectivas mais claras sobre os rumos políticos e econômicos do país. Segundo ele, no momento o banco não planeja estruturar nenhum produto desse tipo. “Dentro do segmento de estruturados temos olhado mais para fundos imobiliários ou de direito creditório”, afirma Viana.
Governança – Para enfrentar a maior resistência dos institucionais para investir em fundos de private equity, a asset do Banco Votorantim tem estruturado e construído modelos de governança e transparência robustos que atendem às novas exigências regulatórias que vieram a partir da publicação da Instrução 578 da CVM, afirma o gerente executivo, Luiz Sedreni. Segundo ele, a busca por ativos nos últimos meses tem como foco aqueles com potencial de retorno mesmo em cenários econômicos mais adversos. A asset tem se voltado para ativos de infraestrutura, através do fundo ‘BB Votorantim Energia Sustentável’, captado em 2011. “O momento atual de mercado pede cautela na tomada de riscos e não estamos privilegiando, neste momento, a captação de um novo fundo de private equity”.
Abvcap considera regulação do mercado boa
Para o presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), Piero Minardi, que também é sócio diretor da Warburg Pincus, “o envolvimento de alguns fundos de private equity em operações investigadas pela Polícia Federal, como ocorreu no passado recente, são distorções praticadas por algumas casas e por algumas pessoas que devem ser punidas”. Ainda de acordo com Minardi, foram casos isolados e envolvem fundos que a rigor nem podem ser considerados como private equity de fato. “São fundos de um só ativo, o que contraria a idéia do fundo de private equity que deve diluir risco investindo em múltiplos ativos”, explica o presidente da Abvcap.
Segundo Minardi, a atuação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na fiscalização do setor tem sido importante, “atuando para corrigir as falhas mas sem causar a paralisação do setor”. Ainda de acordo com ele, “o arcabouço regulatório existente hoje, assim como o próprio ecossistema desse mercado que incluem assets e profissionais experientes, são adequados e não necessitam de grandes aprimoramentos”.
O presidente da Abvcap entende que a eventual falta de segurança que os fundos de pensão sentem para operar nesse mercado não decorre de uma regulação falha. “Claro que algumas questões específicas na regulação podem ser melhoradas, mas não acho que o arcabouço seja ruim. Evoluímos muito em pontos como transparência, inclusive com a marcação a mercado nas cotas dos FIPs”, nota o executivo.