Escoceses entram no mercado | Aberdeen Asset Management, que já t...

Nick Robinson, da AberdeenFachada das Lojas Renner: uma das apostas da asset no mercado brasileiroEdição 259

 

A gestora escocesa Aberdeen Asset Management, uma das maiores do globo, com ativos sob gestão superiores a US$ 500 bilhões, está preparada para entrar de cabeça no mercado brasileiro. Não se pode dizer que a asset esteja estreando no Brasil, pois já mantém um escritório no país há cinco anos, mas agora a atuação no Brasil prevê a entrada efetiva no mercado de assets. “Fizemos um processo de aprendizado sobre o mercado, o Brasil foi um país onde sempre quisemos fazer investimento. Agora estamos prontos para fazer o lançamento dos nossos fundos, mas isso é só para começar nossos planos”, diz Nick Robinson, diretor de equities da Aberdeen no Brasil.

Em relação às dificuldades encontradas, até pelo período relativamente longo para o aprendizado, Robinson diz: “coisas normais do Brasil, nada para destacar, mas demorou um pouco mais do que estávamos esperando”, diz. A casa lançou nos últimos dias um fundo de investimento em ações voltado para os investidores domésticos, que tem como principal baliza as ações de empresas domésticas nas quais a gestora já tem capital alocado, como por exemplo na varejista Lojas Renner. A Aberdeen aposta na companhia desde 2005, e tem uma fatia de aproximadamente 18% na empresa.
No entanto, o portfólio da gestora no país, até por já alcançar a expressiva cifra de US$ 13 bilhões, não se restringe a um segmento apenas – ela também possui participações significativas em outras empresas tais como Wilson Sons (logística), Multiplan (empreendedora de shopping center), Ultrapar (distribuidora de combustíveis), Bradesco e OdontoPrev (saúde). “Provavelmente devemos ficar com 25 empresas listadas na carteira, vai ser bem parecido com o fundo baseado em Luxemburgo que investe em empresas brasileiras, usando o mesmo processo de investimento da Aberdeen no mundo inteiro, bem focado em empresas de alta qualidade, com balanço forte, que gerem muito dinheiro, e com um ‘management’ em que a gente confia”, afirma Robinson.
A preferência da asset escocesa recai sobre empresas que tendem a se beneficiar do crescimento da demanda doméstica, como é o caso dos segmentos financeiro, saúde, varejo e shoppings centers. Por outro lado, setores mais propensos a sofrerem algum intervencionismo por parte do governo, como energia e telecomunicações, não são vistos com bons olhos.
Inicialmente o fundo de ações da Aberdeen terá um aporte de ‘seed money’ da própria asset de R$ 5 milhões e não há um target de captação para o produto. “Temos conversando com family offices, institucionais, mas nunca se sabe como vai ser recebido”, fala o diretor da gestora. “Temos planos de lançar mais fundos no Brasil nos próximos anos. A Aberdeen está muito bem capitalizada, o Brasil é um mercado importante, mas no curto prazo não temos pressa para realizar captações”. A Aberdeen está fechando parcerias com distribuidores para facilitar a divulgação e comercialização de seus fundos no país, mas os nomes ainda não podem ser revelados.
Bolsa ruim – O fato de a Bolsa brasileira não ter registrado um dos melhores desempenhos nos últimos meses não é um ponto que chega a preocupar a Aberdeen, que foca as compras em empresas nas quais tenha grande convicção. É uma estratégia própria de ‘stock picking’ para selecionar as ações do mercado doméstico. “Não pensamos sobre a Bolsa em geral, que tem muitas empresas, e não gostamos de grande parte delas. Negociar nesse ambiente está um pouco mais difícil hoje em dia, mas temos investido em empresas brasileiras há bastante tempo para conhecer os melhores ‘managements’ que podem atuar bem nesse ambiente”, pontua Robinson. “Se você tem um escritório local onde investe, você acaba fazendo as melhores decisões de onde colocar o dinheiro”.
Além do fundo de ações recém lançado, também está nos planos da gestora, em um futuro próximo, colocar no mercado local um fundo multimercado, que terá uma fatia de renda fixa, ainda a ser avaliada com quais ativos. Outro projeto é o lançamento de um fundo que terá exposição em papéis globais, até mesmo para aproveitar toda a expertise internacional da casa, que conta com cerca de 500 profissionais de gestão e análise espalhados por 25 países.
Receptividade – Nos últimos anos, Robinson admite que o foco da gestora escocesa esteve mais voltado a outros países da América Latina, como Chile, Colômbia e Peru. “O mercado brasileiro é um pouco diferente”, pondera o diretor da Aberdeen. Na visão do executivo, os investidores institucionais brasileiros, até mesmo pelo leque mais amplo de opções de investimento na comparação com os pares latino americanos, não são tão propensos a fazer negócios que tenham algum enfoque fora do país. A abertura do escritório da Aberdeen no país em 2009 teve o objetivo inicial de buscar essa aproximação necessária junto ao público local.
O diretor da asset entende ainda que é possível que os grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo que começa no dia 12 de junho, podem acabar favorecendo o fluxo de capital estrangeiro para o país. Isso pode ajudar na captação dos fundos lançados pela Aberdeen. “Com a Copa e as Olimpíadas, o foco está cada vez mais no Brasil, pode ser que com isso mais clientes fiquem interessados em comprar o fundo, mas não é esse o nosso foco”.
Robinson falou também que a saída de David Steyn, que era o diretor responsável pelo continente americano da Aberdeen, anunciada no início de maio, não terá nenhuma influência sobre os negócios da gestora, até por já ser um fato esperado. “Sempre foi conhecido que ele iria voltar para a Escócia, então isso não muda nada”.
Além de Robinson, a Aberdeen conta hoje com um grupo de nove pessoas no escritório brasileiro, entre elas George Kerr, que era diretor da Claritas no Reino Unido e trabalha no desenvolvimento de produtos. A asset está fazendo um esforço para reforçar localmente suas áreas de compliance, administração e de gestão de crédito.
Desempenho – A Aberdeen encerrou o último 31 de março de 2014 com ativos sob gestão no montante de £ 324.5 bilhões (US$ 551,2 bilhões), o que corresponde a um crescimento de 62% ante seis meses antes, em decorrência da conclusão da aquisição da Scottish Widows Investment Partnership (SWIP). Entretanto, excluindo a SWIP da conta, os ativos da Aberdeen apresentaram recuo de 5% na comparação semestral.
A compra da SWIP foi anunciada em novembro do ano passado, em um acordo da ordem de US$ 935 milhões, que envolveu uma participação de 9,9% da Aberdeen ao Lloyds Banking Group, antigo detentor da SWIP, e mais US$ 100 milhões que serão pagos nos próximos cinco anos. Com a compra, a Aberdeen se tornou uma das dez maiores gestoras de recursos do globo.
De outubro de 2013 a março de 2014, as saídas líquidas da asset alcançaram US$ 14,96 bilhões, sendo que os negócios com ações representaram a maior parte das retiradas, com 92% do total, ou US$ 13,77 bilhões. Os investidores continuaram tirando dinheiro aplicado em mercados emergentes, com uma retirada de US$ 6,12 bilhões nos seis meses encerrados em março.
“A Aberdeen entregou um resultado resiliente no semestre, dado o cenário difícil para os mercados emergentes”, diz Martin Gilbert, diretor executivo da asset, em comunicado. “Há sinais de uma reversão do sentimento em relação às economias emergentes, com os investidores novamente identificando oportunidades e reconhecendo os pontos fortes desses mercados”.