Edição 254
Entrar hoje em empresas que têm potencial para assumir papel de protagonistas na Bolsa de Valores de São Paulo no ano de 2020. É com esse enfoque que a Real Grandeza vai em busca de oportunidades no segmento de private equity. Até 2010, os investimentos da fundação em Fundos de Investimento em Participações (FIP) limitavam-se a cerca de R$ 80 milhões. Em três anos, os aportes do fundo de pensão dos funcionários da Furnas Centrais Elétricas nesse tipo de produto saltaram cinco vezes – hoje são R$ 400 milhões em capital comprometido para adquirir participações em companhias não listadas na BM&FBovespa, frente a um patrimônio total na casa dos R$ 12 bilhões.
“Estão acontecendo várias tendências na economia que não conseguimos capturar na Bolsa de Valores, seja em consumo ou em infraestrutura. Existem grandes empresas que, se continuarem crescendo, e bem administradas, podem abrir o capital em 2020. Consigo hoje com o private equity comprar a Bolsa de 2020, por isso os FIPs são essenciais em nossa estratégia”, pontua Antonio Machado Filho, gerente de operações de investimento da Real Grandeza.
Atualmente a fundação aplica em quatro FIPs que tem como ponto em comum o setor de infraestrutura – FIP Brasil Energia, do BTG Pactual, FIP Brasil Petróleo 1, de gestão compartilhada entre Mantiq Investimentos e Mare Investimentos, o BR Portos e Ativos Logísticos FIP, da BRZ Investimentos, e o DLM Brasil TI FIP.
“Vemos a infraestrutura como um dos principais pilares que temos pela frente. Já tínhamos essa visão quando o mercado estava mais voltado para o consumo, de que teríamos de resolver os problemas de infraestrutura para ter um crescimento sustentável. Então gostamos muito do case de infraestrutura”, pondera Antonio Machado.
5% acima da Bolsa – Entre os critérios que são utilizados pelo fundo de pensão para avaliar seu interesse por determinados FIPs, estão o retorno com o produto de 3% a 5% superior à estimativa do desempenho para a Bolsa no período. O resultado vem da performance de empresas que já atravessaram sua fase operacional mais embrionária, que representam setores não correlacionados com a Bolsa, e que possam se beneficiar de financiamento via bancos públicos.
Além disso, também são levados em consideração o fato do gestor ter poder de influência para redirecionar pontos dentro da companhia quando necessário, e uma clara expectativa de saída. “Pode ser em 10 ou 15 anos, mas deve ter uma perspectiva estratégica de saída muito bem definida”.
A ideia é que os 4% que correspondem a parcela de private equity dentro da carteira da Real Grandeza suba para até 7%, mas o prazo para que isso aconteça Machado Filho prefere não estipular. “Pode ser que entremos em mais dois FIPs no ano que vem, pode ser que não entremos em nenhum”.
Concessões – Entre as subcategorias dentro do setor de infraestrutura, a logística tem espaço importante na política de investimentos da Funcef, que fará um aporte de R$ 220 milhões em um FIP que está em formatação sob a gestão da Caixa, e que deve chegar a portentosos R$ 3 bilhões nos próximos meses, o FIP Integração Logística Brasil – também apelidado de fundo noiva.
“Dentro do pipeline desse fundo está o Programa de Investimentos em Logística do governo federal, que envolve as concessões de rodovias e ferrovias, e tem também projetos do setor privado em aeroportos e portos”, fala Mauricio Marcellini, diretor de investimentos da Funcef. “Assim que constituído, o fundo vai fazer uma alocação bem rápida de capital”, acrescenta. A expectativa é que até o final de novembro seja finalizada a primeira rodada de captação, com cerca de R$ 1 bilhão de patrimônio.
Dos atuais 8% que os estruturados representam dentro do PL da fundação dos empregados da Caixa, a intenção, revela Marcellini, é que o percentual salte para os 15% nos próximos cinco anos. Em 2013, o volume reservado para os FIPs é de R$ 400 milhões, o que aponta que além do fundo da Caixa, a Funcef ainda está olhando e selecionando outros produtos.
Além da infraestrutura, que, de acordo com o diretor, vem sendo um dos focos de atuação da casa, e assim deve seguir no curto e médio prazo, empresas que se beneficiam do aumento do consumo doméstico também tem espaço na carteira da fundação. Projetos que envolvem setores nos quais o Brasil tem vantagem competitiva em relação ao resto do mundo, como no de óleo e gás e no de agronegócios, são outros que costumeiramente estão no radar da Funcef.
O retorno real que o fundo de pensão costuma obter com seus FIPs variam de 10% a 12%, com variações em linha com a exposição ao risco dos produtos.
Governança em alta – A Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, há pouco tempo deu início a um projeto interno no qual vai estabelecer suas próprias notas de ratings para as companhias na qual investe. As notas terão como norte as melhores práticas de governança sob a ótica da fundação.
“Se a empresa não tem condições naquele momento de adotar determinado princípio, vamos buscar outros mecanismos compensatórios para que a empresa mitigue aquela fragilidade que impossibilita o atendimento ao código”, afirma Marco Geovanne Tobias da Silva, diretor de participações da Previ.
Uma companhia com ações preferenciais e ordinárias, por exemplo, não se enquadra ao código da Previ, que determina apenas uma classe de ações dentro da empresa. No entanto, existem casos em que, se a mudança for efetivada, o controlador pode perder o controle da empresa. “Não queremos que isso ocorra, principalmente se o controlador é uma liderança positiva para a companhia”. A opção seria trabalhar com salvaguardas que podem ser oferecidas, como um espaço maior para minoritários estarem presentes nas reuniões do conselho de administração.
Pelo fato do modelo de classificação de risco estar em construção dentro da casa, o executivo prefere não falar quais são as companhias que já foram avaliadas pelos critérios de rating, mas que apenas uma teve a nota mais alta possível até o momento.
Nos próximos anos, entretanto, a tendência é que o projeto de ratings do maior fundo de pensão do país passe realmente a descartar algumas opções do mercado, ou mesmo discutir um eventual desconto para a entrada no ativo. “Olhando pra frente a ideia seria essa”, diz Marco Geovanne. “Hoje de fato o investidor está colocando desconto em empresas sem governança”.
Educação tem oportunidades – No radar do private equity da Previ estão os setores de óleo e gás, infraestrutura e consumo. “Ganhamos a licitação do aeroporto de Guarulhos, por meio da Invepar, e queremos participar do Galeão”, fala o diretor da maior fundação do país.
Na área de óleo e gás, além da participação na Petrobras, o fundo tem seu olhar voltado para as empresas que formam a cadeia produtiva do setor, desde as fornecedoras, até as consumidoras. Uma empresa que recebeu aportes da Previ foi a Sete Brasil, que constrói sondas de exploração para águas ultraprofundas.
Já na parte de consumo, o executivo admite que a Previ tem olhado o setor de educação com carinho, após ter deixado escapar um bom timing de entrada – o segmento desponta na BM&FBovespa como uma das poucas exceções positivas no acumulado de 2013. “A questão do financiamento com o Fies vai fazer o setor crescer bastante”, nota o diretor.