Edição 158
A euforia do mercado financeiro com a entrada de novas ações no mercado de capitais, após anos de paralisia, não contaminou os fundos de pensão. A participação das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) tanto nas aberturas de capital em Bolsa, quanto nas distribuições públicas de ações tem sido bastante reduzida. E, apesar de a maioria dos novos papéis ter alcançado performance superior à do Ibovespa, a expectativa do setor é de que a demanda das fundações siga limitada nas próximas ofertas – entre elas, o mercado especula a abertura de capital em Bolsa da Nutrella, Datasul, Localiza e Unilever.
Do total de ações emitidas no ano passado, no valor de R$ 6,73 bilhões, as EFPCs adquiriram somente 3,2%, ou seja, R$ 215,56 milhões – o que representa apenas 0,33% da carteira de renda variável das fundações. A maior parte do montante oferecido na Bovespa foi parar nas mãos dos investidores estrangeiros, que compraram 54,86% dos papéis, ou R$ 3,29 bilhões. As compras das pessoas físicas também superaram em muito os fundos de pensão, com a aquisição de R$ 737,47 milhões, ou 10,64% da oferta total.
A ação preferida pelos investidores institucionais foi a do Unibanco. As fundações compraram R$ 31,4 milhões delas, ou 11,3% do total ofertado. Já a oferta da CPFL Energia recebeu R$ 24,35 milhões dos fundos de pensão, o que representou 7,44% do total. Em terceiro lugar ficaram as ações da Weg com R$ 23,54 milhões, ou 7,37% do volume da oferta. A Braskem levou R$ 22,17 milhões dos fundos de pensão, o que significa 5,49% do total.
Entre as novas companhias que abriram capital, além da CPFL, a Grendene foi uma das prediletas, com R$ 19,25 milhões, embora, porcentualmente, este valor só represente 3,10% do total da oferta. Já a Diagnósticos da América (Dasa) obteve R$ 16,64 milhões (6,04% do total) e a Natura, que registrou o melhor desempenho desde a abertura, só captou junto aos fundos R$ 14,93 milhões (1,94%). Os dados são da Bovespa e não englobam a mais recente oferta, que foi a do Submarino.
“A participação irá continuar reduzida. A questão é que a maioria dos fundos de pensão opta por investir em ações que pertencem ao Ibovespa e isso já limita a compra”, diz o responsável pela área de venda da Santander Corretora, André Salgado. Outro fator limitante é a rapidez com que o processo ocorre. “O período da inscrição na CVM [Comissão de Valores Mobiliários] até a oferta ocorre em menos de um mês. Os fundos de pensão não têm agilidade o suficiente para conseguir as análises e participar. Somente os mais estruturados participaram”, justifica.
Na contramão – A Petros foi um dos poucos fundos de pensão a apostar no desempenho das novas ações. “Nós participamos de 80% das ofertas que ocorreram no mercado, como as da Natura, Grendene, ALL Weg e CCR. Não conseguimos obter a quantidade de ações que queríamos, pois houve excesso de demanda e os preços ficaram elevados em relação ao nosso método de avaliação”, explica o diretor financeiro e de investimentos da Petros, Ricardo Malavasi.
A análise da fundação é feita através do cálculo do Valor Presente (série de fluxos de caixa futuros descontados pela taxa de juros). No entanto, muitas vezes, o efeito positivo do fluxo de mercado acaba fazendo com que o preço dos papéis fique muito mais elevado do que o estimado como justo, e o fundo compra menos do que a meta original. Isto ocorreu com os papéis da Natura e da ALL. No caso do Submarino, a equipe avaliou a empresa e decidiu não ingressar. Malavasi não vê problema com relação ao tempo para a tomada de decisão, pois, na maior parte das vezes, os analistas da Petros já estão acompanhando a empresa.
O objetivo da Petros ao participar das ofertas foi obter um desempenho melhor no médio e longo prazos. Em geral, a fundação está satisfeita com a performance dos papéis. “A Bolsa está sofrendo agora por questões macroeconômicas, mas acreditamos que o viés é positivo”, ressalta. Entre o final de 2002 e 2004, a participação da renda variável na carteira da Petros pulou de 17% para 25%. Em valores, houve um incremento de quase R$ 2 bilhões nesse período. “Vimos que a participação em renda variável era pequena diante dos prazos atuariais. Entramos em um bom momento de mercado, de forma que mesmo com a queda atual os papéis ainda não chegaram ao preço de compra”, completa.
Panorama – A Fundação Cesp participou do processo de abertura da Natura e Grendene, além da oferta secundária da CCR. “Nossa principal motivação para a compra destes papéis foi o pagamento de dividendos e não o desempenho”, diz o diretor de investimentos e patrimônio da fundação, Martin Roberto Glogowsky. O valor adquirido nas operações da Funcesp não é revelado, mas foi reduzido devido ao rateio por excesso de demanda.
A Uranus, patrocinada pela Comissão Nacional de Energia Nuclear, limitou-se a participar de ofertas de aumento de capital de empresas que já investia. Já o Postalis, dos funcionários dos Correios, foi uma das instituições que optou por não investir nas novas ações devido a seu processo de reestruturação. “Não entramos porque não estávamos operando em Bolsa, mas pretendemos participar no futuro”, diz o diretor-financeiro do Postalis, Hélio Afonso.
Os bancos não abrem o nome das entidades de previdência que fizeram parte das ofertas, mas sabe-se que na abertura da Grendene foram apenas quatro ou cinco fundos de pensão que participaram e nas emissões da Gol e da Natura só dois fundos teriam comprado os papéis. “Em parte, também não se consegue verificar toda a participação porque a gestão é terceirizada”, observa Salgado, da Corretora Santander. Este foi o caso da Previma, a fundação dos empregados da Associação Nacional dos Investidores do Mercado Aberto (Andima). “Não participamos diretamente. Apenas através de alguns fundos de investimento”, diz o diretor superintendente da Previma, Antonio Jorge Vasconcelos da Cruz.
No processo de abertura de capital da Renar Maçãs, a oferta de ações no valor de R$ 16 milhões foi muito reduzida para tentar a participação dos fundos de pensão. A Uranus, por exemplo, chegou a fazer uma visita para a Renar. “Vimos a empresa, mas não participamos devido ao tamanho reduzido da oferta”, lembra a contadora da fundação, Edinê de Andrade. A Renar era vista pelo fundo como atrativa devido à política de dividendos, no entanto a pequena quantidade de papéis colocada afastou a participação das entidades de previdência privada.
Novas ações – Mesmo com a participação reduzida dos fundos de pensão, os gestores apóiam a entrada das novas empresas, vistas como uma forma de dar mais opções para a diversificação das carteiras. “Acredito que é saudável este movimento de abertura de capital, com as empresas socializando resultados. As companhias vão para a Bolsa com estrutura de governança apropriada. Isso é muito positivo. Nossa participação de novas ofertas irá depender da terceirização da gestão”, destaca Cruz, da Previma.
O diretor da Petros ressalta que a compra de papéis novos vai depender do aval da equipe de análise. “A estratégia não é ficar entrando em todos os próximos lançamentos, mas ingressar nos setores que já acompanhamos”, observa. Sobre o interesse em novas empresas ele despista: “Não há nenhum nome definido, a equipe de analistas é que aponta as propostas e as apresenta à diretoria”. Este é o mesmo posicionamento da Funcesp. “Não temos nenhuma empresa em vista”, diz Glogowsky, que acredita que as compras continuem reduzidas, pois não é interessante para um fundo de pensão assumir grande exposição em um único papel.