Há dez anos na praça, o grupo Brasil Plural está em pleno processo de reinvenção. O projeto contempla a reformulação da sua estrutura, apostas em uma plataforma de investimentos, parcerias, criptomoedas e até mesmo a mudança de nome. Essa última opção representa um retorno ao plano inicial de seus fundadores, que depois de adquirir do Banco Fator, na década passada, os direitos sobre a marca Plural, tiveram de realizar um pequeno adendo na razão social para evitar confusões com o Plural Investments, fundo de hedge baseado em Nova York. “Chegamos a pensar em BR Plural, mas a criação do BR Partners, em 2009, nos obrigou, novamente, a mudar de planos”, conta o CEO Rodolfo Riechert. “O desaparecimento do xará norte-americano, há alguns anos, viabilizou a aspiração original e em breve seremos 100% Plural.”
A principal mudança em curso diz respeito às apostas do empreendimento. Com um perfil eminentemente atacadista até o presente, a Plural pretende abraçar o varejo por intermédio da controlada Genial Investimentos. Lançada há quatro anos, a plataforma eletrônica conta hoje com cerca de 140 mil clientes, dos quais 40 mil operando diariamente, e R$ 25 bilhões sob custódia. Nos próximos 60 dias a Genial começa a oferecer contas correntes e até o fim do ano o grupo apresentará ao mercado uma plataforma de crédito.
“A meta, até 2022, é dispor de uma base de clientes na casa de um milhão e de uma massa de recursos na faixa de R$ 150 bilhões a R$ 200 bilhões”, diz Riechert. “O varejo bancário está ganhando novos competidores, a Genial entre eles, e seu ranking tende a sofrer fortes alterações. As grandes e tradicionais instituições do momento poderão não ser tão grandes em cinco anos.”
Hoje o grupo Plural é composto pela Genial, um banco de investimento, Brasil Plural Gestão e três empresas atuantes nos ramos de shopping centers, energia, e petróleo e gás. A estratégia é concentrar as atividades de aplicações de recursos na plataforma de investimentos, que vai englobar os quatro fundos de renda fixa, dois multimercados, um referenciado DI, um imobiliário e dois alternativos da asset. Um novo multimercado, lastreado em debêntures incentivadas, deve ser lançado com um diferencial. “Vamos lançar o produto com hedge, para dar conforto a alguns cotistas que se incomodam com a volatilidade dos nossos multimercados apesar da rentabilidades de 160% do CDI”, diz Riechert.
Spin-off – A área de renda variável foi enxugada após um acordo feito com a equipe dos gestores de ações, que realizou um spin-off para montar a Occam Brasil no ano passado com 49% de participação da própria Plural. A nova asset levou dois fundos de ações, seis multimercados e um cambial e com alguns meses de vida já se prepara para lançar o seu primeiro produto 100% próprio. “É um fundo semelhante ao nosso multimercado Previdência, que poderá ter aplicações no exterior e manter posições de até 70% em ações. O lançamento deve ocorrer em menos de 30 dias”, explica o sócio e diretor de investimentos Carlos Eduardo Rocha, o Duda, que chefiou a área de gestão do Plural de 2010 até o ano passado.
Segundo ele, a Occam nasceu com R$ 2,2 bilhões “herdados” da Plural mas já conquistou novos investidores, atingindo atualmente R$ 2,5 bilhões em ativos sob gestão. A equipe também foi ampliada com profissionais vindos de outras casas, como Pedro Dreux e Fernando Chibante, da Vinci, e Isabel Ramos, da Leste Global Investments.
De acordo com Riechert, o spin-off foi decidido de comum acordo entre a Plural e a equipe de gestores que formaram a Occam. “A proposta foi dar total liberdade a uma equipe com elevada capacidade de geração de resultados, especializada em produtos de alta performance”, comenta o CEO. “Pensamos, inclusive, em replicar esse modelo com outros profissionais jovens, talentosos e ainda não reconhecidos pelo mercado”.
Resseguros – Também estão previstas alterações societárias no âmbito da Terra Brasis, controlada do grupo que ocupa o 12º posto no ranking local das resseguradoras e tem como acionista, com uma fatia de 15%, a International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial voltado a investimentos no setor privado. A instituição, que fechou o primeiro semestre de 2018 com crescimento de 5,24% em prêmios, somando R$ 60,2 milhões, está prestes a se unir a uma concorrente nacional de maior porte. No mercado, especula-se que a parceira em questão seria a Austral, do grupo Vinci Partners, que contabilizou prêmios no valor de R$ 168,77 milhões nos seis primeiros meses do último ano.
Sem confirmar a negociação, Riechert comenta que a empresa resultante terá participação minoritária do Plural e recorrerá à emissão de títulos para se capitalizar. “O objetivo é ganhar patrimônio, escala e rating e, assim, se aproximar do IRB, o líder destacado do setor”, diz ele, que não se mostra nem um pouco incomodado em abrir mão do controle da nova operação. “A nossa estratégia em relação à Terra Brasis é a mesma que adotamos na Occam: dividir para crescer.”
A nova resseguradora dedicará especial atenção à América Latina, região afetada com regularidade por desastres naturais como terremotos e furacões. De acordo com Riechert, o movimento do setor nos demais países da região supera em cinco vezes o do mercado brasileiro, que fechou 2017 com um volume total de prêmios ao redor de R$ 8 bilhões. A Terra Brasis começou a explorar a seara latino-americana em outubro de 2016, com a abertura de um escritório em Bogotá, e hoje colhe aproximadamente 25% de seus prêmios em países de língua espanhola, com forte viés de alta. “Além da Colômbia, atuamos no Peru, Equador e, mais recentemente, no México, onde pretendemos intensificar operações. Nosso futuro parceiro também atua nesses mercados e marca boa presença, ainda, na Argentina”, assinala Riechert.
Na visão do CEO, o desafio a ser enfrentado relaciona-se ao banco de investimento, que deu origem ao grupo. A instituição tem forte tradição em reestruturação de empresas, área na qual contou com a expertise de Pedro Guimarães, o novo presidente da Caixa Econômica Federal, e em fusões e aquisições. Atuou como assessora financeira da Green Line, vendida à NotreDame Intermédica por R$ 1,2 bilhão, em setembro último, e exerce atualmente mandatos em duas companhias em recuperação judicial. “É um banco enxuto e rentável, mas teremos de mostrar serviço em operações mais criativas e buscar outras formas de captação”, diz ele, que enxerga uma opção na prestação de serviços fiduciários. “Hoje administramos fundos de investimento com patrimônio líquido total de R$ 25 bilhões. A meta é quadruplicar o montante em um período de dois a três anos.”
Criptomoedas – Em busca de inspiração, Riechert e seus sócios começam a apostar em segmentos alternativos. Depois de lançar, em novembro do último ano, o primeiro fundo de investimentos em criptoativos do mercado doméstico, o grupo prepara uma joint venture para dar início, ainda em 2019, às operações de um mercado de balcão de ativos virtuais. A investida no nicho, que teve como ponto de partida a aquisição de 18% do capital da consultoria Finchain, em maio de 2018, terá novos capítulos em breve.
O Plural dá os últimos retoques em um núcleo de inovação, em São Paulo, que oferecerá instalações, apoio gerencial e recursos para cinco startups, nos moldes do Cubo, do Itaú Unibanco, e do InovaBra Habitat, do Bradesco. “Além de criar oportunidades de negócios em novas áreas, a aposta na inovação contribui para questionamentos constantes do status interno, algo que é muito importante para um grupo ainda pequeno como o nosso”, observa o executivo.