Diversificação dos ETFs | Depois de um período de aprendizado, os...

Edição 242

 

Além dos fundos indexados ao Ibovespa e ao IBrX, algumas fundações começam a aplicar recursos em outros ETFs como o de small caps e de dividendos. Outros fundos de ETFs que devem atrair a atenção não apenas das fundações, mas também dos regimes próprios de previdência, são os fundos indexados de renda fixa, cuja regulamentação está em audiência pública na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e tem previsão de publicação para o início de 2013.

O ETF BOVA11 é de longe o mais negociado na BM&FBovespa. Até o mês de setembro, as negociações deste índice da BlackRock indexado ao Ibovespa acumulava cerca de R$ 11 bilhões, mais que o dobro do ano passado inteiro, com R$ 5,7 bilhões. O segundo mais negociado, o PIBB11 (indexado ao IBrX50), da Itaú Asset Management, somava R$ 700 milhões neste ano. O Small11 é o terceiro mais negociado em 2012, acumulando volume de R$ 194 milhões – diante de R$ 157 milhões durante todo o ano passado. Mesmo distante dos dois maiores ETFs, o fundo que segue o índice de small caps, também sob gestão da BlackRock, tem atraído a atenção dos fundos de pensão. É o caso da Fibra (Fundação Itaipu) que decidiu aplicar cerca de R$ 10 milhões no Small11 em julho passado.

A fundação também ampliou a aplicação que detinha em BOVA11, saltando de R$ 54 milhões para R$ 104 milhões, no mês de agosto. Com isso, mais de um quarto de sua carteira de renda variável, avaliada em R$ 400 milhões, está concentrada em fundos indexados. “Seguimos uma estratégia de separação da gestão ativa da passiva, ou seja, separamos o alfa do beta, desde 2009. Economizamos as taxas nos fundos indexados e gastamos mais com gestores mais especializados em outros segmentos”, diz Marcos Litz, gerente financeiro da Fibra, que tem patrimônio total de R$ 2,3 bilhões. Ele explica que as mudanças fazem parte de um processo de mudança da carteira de renda variável que tem a ver com a redução da concentração de fundos com índice IBrX.

A fundação reduziu os fundos indexados ao IBrX de 39% para cerca de 14% da carteira de renda variável ao longo de 2012. Além da ampliação dos ETFs, o fundo de pensão aumentou também as aplicações em fundos abertos de valor (também denominados retorno absoluto). Foram selecionados dois fundos com esta estratégia das assets Guepardo e JGP. Também foram selecionados os gestores Vinci Partners e Sul América para a gestão com mandatos ativistas.

A maior novidade, porém, foi a entrada pela primeira vez no ETF de small caps. “Queríamos aumentar o segmento de small caps e preferimos fazer isso através de ETF. É uma ferramenta mais fácil e direta e não conta com risco de gestão”, explica Litz. Ele comenta que deu preferência para realizar a seleção de gestores nos segmentos de valor e estratégia ativista, nos quais a fundação percebeu maior possibilidade de ganhos alfa. Em compensação, utilizou o ETF para entrar no segmento de small caps.

“Os ETFs são instrumentos que facilitam o acesso a estilos diferenciados de investimentos. Neste momento que os institucionais começam a segmentar a renda variável por fatores de risco, os fundos indexados aparecem como opção para diversificar a carteira com liquidez e agilidade”, diz Ricardo Cavalheiro, diretor de capital market da BlackRock. A gestora é responsável pelo Small11 que acumula atualmente patrimônio de R$ 135 milhões. “Acredito que o ETF de small caps teve um bom crescimento durante 2012 porque os investidores quiseram capturar o crescimento da economia doméstica, que não foi afetada tanto quanto o mercado internacional”, diz o diretor da asset.

O executivo da BlackRock explica ainda que os institucionais que já tinham acessado os produtos básicos como o BOVA11, agora começam a se interessar por outras classes de ETFs. “Os fundos de pensão que gostaram dos produtos mais básicos tendem a experimentar outros segmentos de ETFs”, diz Cavalheiro.

O diretor de renda variável da BM&FBovespa, Júlio Ziegelmann reforça as vantagens dos ETFs para diversificar o posicionamento em bolsa pelos institucionais. “O ETF funciona como um facilitador para conseguir o posicionamento em determinados setores da bolsa. No Brasil é uma ferramenta relativamente nova que os institucionais estão aprendendo a usar”, diz. Ele explica que o aumento da participação dos institucionais está crescendo junto com as negociações dos ETFs.

Em 2011, os ETFs representaram 0,7% do volume negociado em bolsa (média de R$ 6,2 bilhões diários). De janeiro a setembro de 2012, os ETFs saltaram para 1,7% das negociações, de um valor diário médio de R$ 7,2 bilhões. “Trabalhamos com a perspectiva de aumento das negociações dos ETFs até o patamar de 5% da BM&FBovespa daqui a dois anos”, prevê Ziegelmann. Ele confirma que um dos ETFs que se destacou em 2012 foi o de small caps, que aumentou o volume de negociações em relação ao ano anterior. “O ETF de small caps contou com uma boa negociação devido à rentabilidade acumulado, bem acima dos fundos indexados ao Ibovespa e ao IBrX”, diz o diretor de renda variável da BM&FBovespa.

São Rafael – Outra fundação que entrou no ETF de small caps foi a Fundação São Rafael, da Xerox. Também neste caso, a decisão foi baseada em uma política de reestruturação da carteira de renda variável. A fundação reduziu a carteira indexada ao IBrX, com o encerramento de um dos fundos exclusivos desta categoria e migrou os recursos para fundos abertos e para o Small11. Os recursos foram direcionados para fundos abertos de valor, que passaram a representar cerca de 30% do total da carteira de renda variável, que acumula R$ 120 milhões – de um patrimônio total de R$ 820 milhões. O ETF de small caps recebeu cerca de R$ 12 milhões e passou a representar 10% da carteira de ações. Os demais segmentos, de dividendos e de IBrX, ficaram com cerca de 30% cada um.

“Estamos em um processo de diversificação que visa a diluição dos riscos na renda variável. Reduzimos a estratégia de IBrX, que leva a concentração em poucos papéis, e priorizamos outros segmentos como small caps, valor e dividendos”, diz Marco Aurélio Azevedo, diretor superintendente da São Rafael. Ele explica que o ETF reforça a carteira com estratégia beta, com uma taxa de administração mais baixa. Em paralelo, a fundação também reforçou a geração de alfa com a seleção de fundos abertos diferenciados. O processo de seleção de fundos e de definição das estratégias de gestão da São Rafael conta com a assessoria da consultoria PPS.

Outros ETFs – A superintendente de fundos indexados da Itaú Asset Management, Tatiana Grecco reforça a perspectiva que os institucionais tendem a diversificar a procura pelos ETFs. Além dos fundos indexados ao Ibovespa e IBrX, ela verifica que os ETFs de dividendos (DIVO11) e de governança (GOVE11), sob gestão da asset do Itaú, começam a ser acessados pelos fundos de pensão. “A tendência de diversificação da carteira de renda variável está incentivando os fundos de pensão a se interessar também por ETFs de distintos setores e índices”, diz Tatiana.

A diversificação dos ETFs deve contar com um impulso maior a partir do ano que vem. É que a CVM está preparando a regulamentação dos produtos voltados para a renda fixa. A previsão é que a largada para os ETFs de renda fixa seja dada por uma nova instrução da CVM. “Acredito que as novas regras estarão publicadas a partir do início de 2013, depois do processo de audiência pública e da definição dos mecanismos de tributação pela Receita Federal”, diz a superintendente da Itaú Asset. Segundo a gestora, as regras poderiam ficar prontas antes do final do ano, não fosse a dificuldade da Receita em definir a forma de tributação da nova modalidade de ETF. “A principal dificuldade é que o ETF de renda fixa é um produto híbrido, ao mesmo tempo que é um fundo de investimentos, também conta com negociação em bolsa”, explica Tatiana.

Ela acredita que os ETFs de renda fixa mais procurados serão aqueles indexados à família IMA. “Os ETFs de índices IMA devem contar com forte procura por parte dos fundos de pensão e também dos regimes próprios de previdência. É uma tendência que já verificamos no segmento de fundos de investimento e que deve ser acentuada com os novos ETFs”, prevê Tatiana. Outra novidade prevista para meados de 2013 é a regulamentação do ETF de índices do exterior. O novo produto pode aproximar os fundos de pensão dos investimentos no exterior.