Crescimento na adversidade | BNP Paribas consegue tirar proveito ...

Edição 278

 

Em um ano que a indústria de fundos de investimentos ficou praticamente estagnada em termos de captação, poucas foram as assets de maior porte que puderam registrar crescimento expressivo. Uma das exceções foi a asset do BNP Paribas, que conseguiu saltar de R$ 29,5 bilhões de ativos sob gestão no final de 2014 para R$ 37 bilhões no fechamento de 2015 – crescimento de 25%. A asset registrou captação positiva de R$ 5 bilhões no ano passado, sendo que o restante do aumento do volume de ativos sob gestão veio da valorização das aplicações da instituição.
O resultado da asset do BNP Paribas pode não parecer extraordinário, mas comparado com a indústria como um todo, que teve queda de 70,5% na captação de 2015 em comparação com o ano anterior (ver box), representa um ponto fora da curva do mercado. “O ano passado foi um período muito difícil para o mercado, com aumento da aversão ao risco por parte dos investidores. Porém, conseguimos um bom resultado em termos de crescimento, com destaque para as estratégias de renda fixa e crédito privado”, conta Luiz Sorge, presidente do BNP Paribas Asset Management.
O executivo diz que a asset tem conseguido fortalecer o reconhecimento do mercado como uma casa com expertise na gestão de ativos de crédito privado. O total de ativos de títulos privados saltou de R$ 6,2 bilhões no final de 2014 para R$ 7,5 bilhões no encerramento de 2015 – crescimento de 21%. Só não foi maior porque a asset adota uma estratégia de maior controle de risco, evitando emissões de alguns setores e empresas mais arriscadas. “Poderíamos ter ultrapassado a casa dos R$ 10 bilhões em crédito privado, mas preferimos continuar com o foco em estratégias mais rigorosas de controle de risco”, diz Sorge.
Com isso, a asset do BNP Paribas é identificada como uma casa mais conservadora na gestão de renda fixa e títulos privados. “Temos mantido uma postura mais conservadora em crédito, dando preferência para ativos de instituições financeiras. Temos entrado no crédito corporativo apenas em emissões de primeira linha”, explica Gilberto Kfouri Jr, diretor de renda fixa e multimercados do BNP Paribas Asset Management. A aquisição de papeis de instituições financeiras também está mais focada em instituições de primeira linha, ainda que os ativos de bancos médios também sejam alocados em posições de curto prazo.
O gestor do BNP Paribas ressalta que o controle de risco é realizado por uma área segregada da gestão de recursos. “Temos uma política de crédito robusta que é aplicada por uma área específica segregada da gestão, que aplica os critérios para evitar, por exemplo, alta concentração em determinados ativos”, diz Kfouri Jr. Ele comenta ainda que a asset adota um modelo próprio de rating interno para avaliação dos ativos. “Os ratings externos servem apenas como fonte de informação, não dependemos deles. Temos um rating próprio”, diz o gestor.
A aplicação do modelo de risco fez com que o BNP Paribas não registrasse nenhum problema mais sério com ativos de crédito. Não houve casos de default que prejudicaram o desempenho dos fundos da asset. “Algumas vezes preferimos sacrificar um pouco a rentabilidade para manter nosso padrão de risco. Isso ocorre porque olhamos para os detalhes das emissões e do emissor antes de entrar em alguma posição”, diz Luiz Sorge. Ele dá como exemplo as empresas do setor de construção, que historicamente são evitadas pela asset do BNP Paribas, por causa da dependência dos negócios e projetos com o setor público.

Baixas na concorrência – Se o crescimento do BNP Paribas é explicado em grande parte por méritos próprios, não se pode negar que a instituição contou com um empurrão devido às recentes baixas no mercado de assets. A compra da asset do HSBC pelo Bradesco foi o primeiro evento importante do ano passado. Na posição de uma asset global bem posicionada com as empresas multinacionais, o HSBC era forte concorrente do BNP Paribas, que tem origem francesa e presença nos principais mercados internacionais.
O comprador, o Bradesco, também é um forte concorrente, porém há dois fatores que estão favorecendo a migração de clientes. Um deles é o aumento da concentração de ativos de investidores, inclusive de fundos de pensão, em uma única instituição. “Temos visto alguns fundos de pensão que esbarram em limites de concentração nas políticas de investimentos por conta de processos de aquisição do mercado de assets”, comenta Sorge.
Outro forte concorrente do BNP Paribas é o BTG Pactual, que vem enfrentando problemas desde o final do ano passado após a prisão de seu principal controlador na época, André Esteves, envolvido em denúncias de corrupção. O processo de resgates de recursos dos fundos e carteiras do BTG Pactual tem favorecido outras assets do mercado, não apenas o BNP Paribas, mas também o Itaú, Bradesco, Santander, Safra, entre outras.
Com as baixas desses dois concorrentes, a asset do BNP Paribas teve o ingresso de 31 novos clientes institucionais em sua carteira em 2015. Os ativos de investidores institucionais, contando fundos de pensão, seguradoras, empresas, regimes próprios (RPPS) e outros alcançaram a marca de R$ 19 bilhões. O maior aumento de novos clientes veio dos fundos de pensão e RPPS, que representaram cerca de 70% dos novos investidores. Outros 15% foram seguradoras e 15% de empresas.

Produtos de risco – Apesar do crescimento em ativos, o executivo reconhece que a tendência de maior aversão ao risco verificada em 2015 e que continua no início de 2016, não favorece o aumento das receitas da asset. É que as estratégias de renda fixa e a migração das carteiras das fundações para as NTN-Bs não ajuda o mercado como um todo, pois as taxas de administração para essas estratégias em média são mais baixas que às dos fundos de renda variável, multimercados e outros.
Mesmo com a tendência de manutenção do conservadorismo por parte das fundações, Luiz Sorge acredita que em algum momento, possivelmente a partir do segundo semestre de 2016, comece a ocorrer uma volta da procura por estratégias de maior risco. Por isso, a asset está se posicionando para oferecer opções para os investidores em algumas classes diferenciadas de fundos.
Uma das novidades é a estruturação de um novo fundo multimercado com lançamento previsto para o segundo semestre. Para isso, a asset trouxe para o Brasil um novo gestor, João Uchôa Borges Filho, que passou os últimos 15 anos em Nova York. O fundo terá estratégia baseada em arbitragem de ativos nos mercados globais.
Além disso, o BNP Paribas prepara o lançamento de seu primeiro fundo de private equity. O fundo será o primeira da nova área de fundos estruturados da asset, criada em março de 2015 a partir da contratação de Luís Eugênio Figueiredo (ex-Rio Bravo). O gestor prepara o lançamento para os próximos meses de um fundo de fundos de private equity.
Na renda variável, uma das apostas do BNP Paribas é um produto do tipo long biased. É um fundo com concentração em cerca de 15 papeis e que teve retorno de 10% em 2015, contra o Ibovespa que perdeu 13,3% no ano. A asset adaptou o fundo para as regras da Resolução 3792 para oferecer para as fundações. “A tese da diversificação, quando bem aplicada, nunca trouxe prejuízo para os investidores. É uma tese que reduz as perdas na crise e que gera ganhos quando ocorre a virada dos mercados”, diz o presidente da asset do BNP Paribas. Ele acredita que a migração para a renda fixa, apesar de justificada, tem sido um processo exagerado e recomenda o retorno da diversificação pelos investidores institucionais.

Captação da indústria cai 70,5% em 2015

A indústria de fundos de investimento encerrou 2015 com uma captação líquida de R$ 500 milhões, o que corresponde a uma queda de 70,5% frente aos R$ 1,7 bilhão de 2014, de acordo com os dados divulgados em janeiro pela Anbima. O resultado da captação global da indústria só não foi pior porque algumas classes como a previdência e os fundos de participações (FIPs) tiveram resultados positivos. Os fundos de previdência aberta (PGBL e VGBL) tiveram entradas de R$ 39 bilhões e os FIPs registraram R$ 23,6 bilhões.
A classe de fundos de previdência tem apresentado captação líquida positiva mensal desde fevereiro do ano passado, o que elevou sua participação no patrimônio total da indústria para R$ 489 bilhões. Entre as classes de fundos que mais registraram saques no ano passado, a liderança ficou com os multimercados, que perderam R$ 32,8 bilhões de janeiro a dezembro de 2015.
Em seguida aparecem os fundos de ações, que não tiveram um bom ano, com saques de R$ 18,7 bilhões, e os de renda fixa, com R$ 14,8 bilhões.
Apenas em dezembro, a indústria de fundos registrou resgates líquidos de R$ 13,1 bilhões, o segundo maior volume de retiradas do ano, abaixo apenas de novembro, quando foram sacados R$ 20,4 bilhões.