Edição 291
Retorno Fama Investimentos x Ibovespa (em pdf)
A despeito do fraco desempenho da bolsa nos últimos anos, à exceção de 2016, algumas gestoras com o foco em renda variável conseguiram navegar pelo período turbulento sem maiores problemas. O foco em uma análise fundamentalista, e o histórico de gestão dos profissionais responsáveis pelas estratégias, são fatores apontados como razão para o sucesso das casas mesmo em momentos adversos.
Focada em fundos fundamentalistas de renda variável, a Fama Investimentos conseguiu entregar bons resultados aos cotistas nos últimos anos, a despeito do fraco desempenho da Bovespa no período, à exceção feita ao ano passado. Fábio Alperowitch, que fundou a Fama em 1993, e é o responsável pela gestão dos fundos e pelo departamento de análise da gestora, entende que parte do sucesso obtido se deve ao perfil dos investidores em carteira, que tem parcela expressiva de institucionais estrangeiros com uma visão de longo prazo.
Dos R$ 1,4 bilhão geridos pela asset, 70% são institucionais internacionais, como fundos de pensão e ‘endowments’, da América do Norte e da Europa principalmente. “Alguns dos mais renomados investidores dos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, e dos países nórdicos, são nossos clientes”, afirma Alperowitch.
A Fama não tem uma área comercial e nem de distribuição. “Entendemos que a melhor área comercial são os resultados. Se os resultados vierem, os clientes também virão”, comenta o fundador da asset. “Quando fazemos nossas pesquisas de investimento, focamos muito no médio e longo prazo, giramos pouco a carteira, o que casa com o perfil do institucional, então buscamos um alinhamento entre ativo e passivo”, comenta o executivo.
A atuação da Fama junto aos institucionais estrangeiros começou em 2005. “Os estrangeiros buscam consistência de retorno no longo prazo”. Na opinião do especialista, os investidores brasileiros ainda tem um viés de rentabilidade de curto prazo, embora isso esteja mudando. “Cada vez mais vemos os institucionais locais pensando mais no longo prazo”.
Alperowitch explica que, até mesmo pelo mandato dos fundos da Fama, a asset não pode investir nos principais nomes do Ibovespa, que geralmente balizam o direcionamento do benchmark, como Itaú, Bradesco, Vale e Petrobras. Além disso, papéis de empresas estatais também não entram no portfólio da gestora. “Nossos investimentos fogem do convencional”. Entre as ações que contribuiram para o retorno do fundo da Fama no ano passado, estão CVC, Arezzo, M Dias, Raia Drogasil, Linx, Cetip e Klabin. A filosofia de investimento da gestora tem como base o stock picking, independentemente do setor. Entre as teses que não agradam o especialista da Fama estão as empresas reguladas, as que atuam com commodities, estatais e também companhias de tamanho muito grande.
Pacífico – Na Pacifico Gestão de Recursos, Ana Carolina Friedheim, responsável pela área de relações com investidores, explica que o crescimento nos últimos três anos, à despeito do desempenho ruim da bolsa no período, se deveu principalmente ao foco fundamentalista na abordagem do mercado de ações feita pelos especialistas da casa. “Nossos fundos não são indexados e nem buscam reproduzir o índice, eles compram sempre as melhores empresas que vão agregar mais valor para os investidores”. A executiva nota ainda que os últimos anos foram de fato muito ruins para o Ibovespa em si, mas ressalta que os fundos de ações geridos pela Pacífico tiveram desempenho superior ao apresentado pelo benchmark no período.
Além disso, Ana Carolina aponta também a equipe experiente da Pacífico como outro fator que contribuiu de maneira importante para a retenção dos clientes junto à gestora mesmo em anos turbulentos na Bovespa. “O Carlos Eduardo Ramos, nosso head de renda variável, faz isso desde a década 80, e os clientes confiam no histórico dele e sabem que não serão dois ou três anos ruins da bolsa que vão fazer com que o retorno no longo prazo seja prejudicado”, pondera a executiva.
Ramos está na Pacífico desde 2011, e antes de entrar na asset fundou em 2001 a ARX Capital Management, e foi Chief Investment Officer (CIO) da BNY Mellon ARX. Ana Carolina comenta ainda que os clientes atendidos pela Pacífico não dão tanta importância para a performance de curto prazo do mercado, mas sim para o desempenho de longo prazo das empresas investidas pelo fundo, que geralmente não tem peso relevante no Ibovespa.
“Nosso crescimento nos últimos anos se deve a um mix desses dois fatores, não termos fundos indexados, com o olhar voltado para empresas de forma fundamentalista, e a experiência e a reputação da equipe liderada pelo Carlos Eduardo, que dá tranquilidade para os clientes mesmo quando o mercado está ruim”. Entre os cases descorrelacionados do principal benchmark da bolsa brasileira que sustentaram os ganhos da Pacífico nos últimos três anos, a responsável pela área de RI da gestora cita o setor educacional, que trouxe bons retornos para os fundos geridos em 2013 e 2014. “As empresas de educação tiveram uma dinâmica própria, completamente descorrelacionada do que foi o mercado de ações como um todo”.
Solis – Na Solis Investimentos, no período de 2013 a 2015, recorda o sócio fundador João Piccioni, a gestão adotada foi via montagem de um portfólio mais seguro, formado por empresas que ainda apresentavam um balanço sólido e com estratégias de negócio bem definidas. Além disso, nos últimos anos a asset também manteve um percentual relativamente elevado de caixa em seus fundos, que no final do ano passado estava em 20%, e que agora foi reduzido para cerca de 5%, diante das oportunidades enxergadas pelos especialistas da casa.
Piccioni lembra que nesse período negativo para a Bovespa a Solis teve um foco grande em empresas boas pagadoras de dividendos, pelo perfil mais conservador de empresas com essas características. “Essa abordagem fez com que saíssemos bastante do Ibovespa na formação da nossa carteira. Vale, Petrobras e Banco do Brasil foram empresas que realmente ficamos fora”, pondera o profissional, que destaca ainda que os mandatos que essas empresas tinham na época contribuíram para que as ações seguissem fora do radar. “Com a alteração dos CEOs dessas empresas, e em suas estratégias, talvez elas tenham se tornado mais favoráveis para o investimento”, aponta o sócio.
Apesar do esforço dos gestores para manter uma carteira que tivesse um bom desempenho a despeito do cenário macroeconômico negativo, Piccioni admite que no período houve uma fuga dos investidores da renda variável. “Boa parte da nossa base de clientes desistiu das ações no período”, pontua o especialista. Para 2017, contudo, o sócio da Solis nota um interesse crescente dos investidores pelo mercado acionário.
“Temos participado de alguns processos de seleção, até porque outras classes de ativo tendem a reduzir o retorno esperado ao longo deste ano”. Ele nota que as fundações operam em ciclos na bolsa, e costumam estar um pouco atrasadas nesse processo. “Geralmente quando a bolsa tem um ano bom, no ano seguinte as entidades voltam a olhar com mais afinco para esse tipo de investimento. E com a taxa de juros caindo, elas não tem outra escapatória”.