Classes de ativos se misturam | Termo “investimento alternativo” ...

Edição 261

 

As classes de ativos estão se misturando e a linha que separa os tipos de ativos alternativos estão cada vez menos nítidas. A vasta oferta de investimentos anteriormente alocados em classes de ativos separadas, dentro de portfólios chamados multiasset, agora começa a se tornar uma classe única e a tendência é que o termo “investimentos alternativos” deixe de existir. De acordo com a Pension and Investiments (P&A), investidores agora recebem ofertas de uma variedade de classes de ativos de forma combinada, unindo ações de empresas capital aberto com private equity, investimentos líquidos com ilíquidos, tudo dentro do mesmo portfólio de um único gestor.

Se até poucos anos atrás os investimentos alternativos indicavam uma referência mais precisa, relacionada com os fundos de private equity, venture capital, real estate e infraestrutura, a situação tem apresentado mudanças rapidamente. Os fundos de investimento estão mesclando cada vez mais os ativos tradicionais de renda fixa e variável, com os chamados investimentos alternativos, também denominados de estruturados, no mercado brasileiro. Entre os novos produtos aparecem portfólios de alternativos líquidos, que combinam classes de ativos incluindo títulos de alto rendimento, ativos imobiliários listados, private equity e títulos e ações de mercados emergentes. Também é oferecida uma estratégia de crédito privado, incluindo empréstimos bancários e debêntures conversíveis combinados com renda fixa de capital aberto.
Atualmente, os chamados hedge funds estão aplicando cada vez mais em cotas de venture capital, private equity e investimentos imobiliários. É cada vez mais comum os gestores tradicionais combinarem um fundo de hedge com investimentos longos. Os fundos de hedge também estão negociando ações de infraestrutura e parcerias limitadas que oferecem opções líquidas para alocações em ativos reais.
Estratégias de private equity também incluem ações e crédito, bem como investimentos líquidos e ilíquidos. Outro tipo de mistura de ativos ocorre com os recebíveis imobiliários, que está sendo incluídos em fundos de private equity.
Convergência – Com tantas ofertas de investimentos no mercado, a própria indústria acredita que a definição “gestores de investimentos alternativos” irá desaparecer, já que o portfólio dos gestores não é mais o mesmo. Uma delas, a Principal Global Investors, começou a trabalhar com estratégias de investimento mais focadas, combinando investimentos líquidos e ilíquidos, com mandatos ativos e passivos. No setor imobiliário, a gestora faz a convergência entre investimentos imobi-
liários em portfólios multiestratégicos com estratégias coletivas. São fundos do tipo multiasset com gestão de valor. A classe de real estate está sendo cada vez mais usada em outras estratégias, reforçando a convergências das classes de ativos.
Para Nicholas Tsafos, auditor da empresa de contabilidade de Nova York Eisner-
Amper, essa convergência é impulsionada pelas oportunidades observadas pelos gestores no mercado. Um exemplo dado pelo executivo à P&I é quando empresas de médio e pequeno porte foram impedidas de obter financiamento de bancos após a crise financeira. Com isso, os gestores de investimentos alternativos se viram diante da oportunidades de preencher essa lacuna e começaram, assim, a fornecer os empréstimos.
Já para o Carlyle Group, essa convergência é decorrente das ações dos próprios investidores. O diretor e chefe das soluções da gestora em Nova York, Jacques P. Chappius, acredita que o movimento do mercado é menos direcionado pelos gestores e mais definido pelas necessidades dos investidores atualmente. “Alguns gestores de ativos não são capazes de oferecer essa personalização sofisticada por meio de múltiplas classes de ativos”. O executivo complementa ainda que os proprietários de ativos procuram ver as classes de ativos como pacotes de risco. Sendo assim, o ato de rotular esses ativos está cada vez menos bem visto no mercado.
Amadurecimento – Na opinião de Peter Martenson, da agência de colocação Eaton Partners, os investimentos alternativos estão amadurecendo como classe de ativos. Uma agência de colocação visa dar assistência aos gestores de fundos sobre investimentos alternativos, e para a Eaton, essa classe de investimentos está sendo empurrada para os fundos de pensão, com private equity se movendo para alocações em ações globais enquanto os títulos estão se movendo para alocações em crédito que têm tanto dívidas públicas quanto privadas no mesmo portfólio.
A convergência é impulsionada pelo consumidor e também pelos consultores, segundo Martenson. O executivo destaca ainda que até o período de investimento está mudando. Tradicionalmente, os fundos de private equity podem durar 10 anos ou mais, enquanto os fundos de hedge têm duração de médio prazo. Mas Martenson diz que os períodos são estabelecidos de forma que corresponda melhor com a duração do investimento em si, em vez de se ajustar à estrutura tradicional do fundo.
Consolidação – O bom desempenho de determinadas empresas faz com que os investidores queiram simplesmente ampliar suas alocações na mesma companhia, consolidando relacionamentos e solidificando também os investimentos, em vez de apenas diversificar. Os gestores de private equity, por exemplo, devem investir em private equity e dívida corporativa. No mesmo veículo é possível investir na dívida da empresa e obter o controle da mesma.
Segundo Mark Attanasio, da empresa de crédito de Los Angeles Crescent Capital Group, quase todas as empresas de private equity procuram investir na dívida das empresas para ter a valorização que querem. Mas os gestores também começaram a desenvolver veículos combinados para alocações em ativos reais, o que pode incluir desde infraestrutura até títulos indexados à inflação. Esse trabalho, antigamente, exigia que o investidor contratasse diferentes gestores para cada modalidade de ativos.
Os investidores têm procurado pela Morgan Stanley para criar portfólios líquidos de ativos reais, segundo declarou Ted Bigman, gerente do banco em Nova York, à P&I. Bigman destaca que no primeiro trimestre o banco captou para um mix de ativos imobiliários listados e ativos de infraestrutura listados. O executivo diz que o portfólio de ativos reais é atraente, pois ainda não há “rios de dinheiro” perseguindo as oportunidades, ou seja, com menos demanda, os investidores conseguem mais retornos.
Sendo uma classe de ativos que ainda possui capital limitado, os ativos reais abrangem estratégias com uma ampla variedade de opções de investimento. Peter Martenson, da Eaton Partners, exemplifica dizendo que alguns gestores do setor de óleo e gás estão desenvolvendo estratégias híbridas de ações e dívidas, incluindo contratos “offtake” de compra e venda para produção futura, que ocorre quando um produtor vende partes da produção a ser feita a um comprador.
Com essas novas demandas por parte de investidores, os ativos acabam se misturando e reescrevendo as regras, fugindo de rótulos e colocando todas as ofertas em um único portfólio.
Brasil – No mercado brasileiro, o termo “investimento alternativo” ainda continua em uso pelos gestores. Porém, a legislação dos fundos de pensão, especialmente a Resolução 3792 do Conselho Monetário Nacional, faz referência ao termo “investimento estruturado”. Essa modalidade de ativos inclui os fundos de investimentos em participações, os fundos imobiliários e uma parte dos multimercados.
No caso dos fundos multimercados, são aqueles que não estão justamente enquadrados à resolução, que entram no limite da carteira de investimentos estruturados. Já a mistura de ativos tradicionais com os chamados alternativos ainda não é tão comum no mercado brasileiro quanto no americano, mas já há gestores e fundos que utilizam o recurso. Com o amadurecimento do mercado doméstico, é provável que o fenômeno da combinação de investimentos estruturados com renda fixa e variável se torne cada vez mais comum, como nos EUA nos últimos anos.