Cannabis no portfólio da Global X | Gestora norte-americana que a...

Edição 352

A Global X, gestora internacional com portfólio de U$ 45 bilhões, aportou no mercado brasileiro este ano trazendo uma opção financeira ainda pouco conhecida dos investidores locais, a de aplicações em fundos temáticos diferenciados listados na bolsa de valores americana. São fundos de índices de empresas de capital aberto norte-americanas, de segmentos pouco explorados no Brasil como lítio, urânio, cibersegurança, telemedicina, prédios verdes, biotecnologia e genoma, veículos elétricos, cannabis e cleantechs, entre outros. Eles são acessados através de BDRs de ETFs, que são valores mobiliários locais com lastro em cotas de fundos de índices da gestora listados nos Estados Unidos, país de origem do grupo. Dessa forma, o investidor compra um ETFs (Exchange Traded Funds) temático de empresas do mercado norte-americano e a Global X entrega-o por meio de um Brazilian Depositary Receipts (BDR).
Hoje, a empresa já oferece 32 ETFs temáticos aos clientes brasileiros em conjunto com a B3, 13 a mais do que o montante ofertado na data de estreia no País, há oito meses. Até a segunda semana de dezembro, eram 29. Três novos foram lançados nos últimos dias. O ritmo acelerado de crescimento dá o tom dos planos do grupo para o mercado nacional. A meta, segundo Bruno Stein, diretor geral da Global X no País, é atingir US$ 5 bilhões em carteira nos próximos cinco anos. A estimativa tem por base projeção de que, até lá, cerca de 5% da indústria de fundos de investimentos domésticos, de cerca de R$ 7,5 trilhões, estará alocada no exterior, a maior parte em bolsa via ETFs.
“Estamos trazendo novidades com temas diferenciados”, diz Stein, que chegou em junho ao grupo com a missão de expandir a oferta de ETFs temáticos da marca no País. A estratégia é a de importar dos EUA parte dos cerca de 100 fundos de índices que a gestora mantém naquele mercado, apostando no aumento da demanda local por esse tipo de produto. Os investidores institucionais, que representam 40% do estoque da Global X nos EUA, responderam por 80% dos novos recursos nos últimos três anos. Aqui, Stein acredita que o movimento se repetirá.
“Tenho visto interesse enorme dos investidores institucionais. Muitos não vão alocar porque acham que investir em Selic nos próximos seis meses será melhor do que em BDRs de ETFs. Mas eles sabem que esse movimento de alta da Selic vai até um certo ponto. Nos próximos dois ou três anos, no máximo, teremos uma convergência da Selic para padrões normais”, diz Stein, observando que a curva de juros mostra que no terceiro trimestre de 2023 deve começar o ciclo de queda.

No Brasil, o foco da Global X são os índices temáticos, nicho de mercado identificado por eles em 2008, ano de sua criação. Na ocasião, os fundadores capturaram a dificuldade de investimentos em novos temas ligados ao comportamento do consumidor, como e-commerce, energia limpa ou blockchain. Mas nem todos os produtos criados para clientes americanos terão demanda entre investidores domésticos. Fundos em empresas com valores católicos, por exemplo, é um deles. Embora faça parte da realidade de um determinado público dos EUA, não tem qualquer chance de sucesso por aqui. Uma das tarefas do time no País é encontrar nichos específicos que façam sentido para o investidor brasileiro, embora vários clientes tenham fundos multimercados comprando diretamente lá fora. Não precisam de BDRs para isso.
Nos EUA, o grupo tem sob seu guarda-chuva 40 portfólios temáticos, que somam US$ 35 bilhões, além de outros mais variados, divididos em quatro eixos: tecnologias disruptivas; pessoas e demografias; meio ambiente; e multitemas. Lá, conforme Stein, a Global X lidera o mercado de ETFs temáticos, com portfólios de segmentos diversos. Nascida como startup em 2008, foi comprada pela coreana Mirae em 2018, então com US$ 8 bilhões em carteira. De lá para cá vem ganhando espaço pelo mundo seguindo a mesma estratégia.
“Sempre fizemos ETFs, mas construímos ETFs diferentes, é o que fazemos no Estados Unidos. Não vamos fazer aqui ETFs de índices amplos, como de S&P 500, Nasdaq ou de Ibovespa. Nosso slogan é Beyond ordinary ETFs”, diz Stein. A tradução, Além dos ETFs comuns, indica a estratégia da empresa de buscar nichos que ofereçam exposições pouco comuns, como consumo discricionário na China, por exemplo.
A Mirae, gestora internacional presente em mais de 32 países, tocava o negócio de ETFs no Brasil, com um produto de renda fixa. A partir da aquisição da americana Global X, toda operação de ETFs ficou a cargo da nova marca. “A direção da Mirae decidiu transformar o negócio no Brasil para 100% Global X”, diz. No ano passado, os coreanos acharam por bem cruzar várias fronteiras, passando a atuar na Austrália, Japão, Europa, Hong Kong, mercados com boa estrutura de indústria de fundos e com apetite de investimento internacional.
No Brasil, a Mirae, segundo Ricardo Tantulli, diretor operacional do grupo, manteve as operações da corretora de investimentos, corretora de câmbio e capital markets. Conta ainda com área de research interna para realização de relatórios econômicos. No mundo, a Mirae tem sob gestão US$ 68 bilhões em ativos em seus 341 ETFs globais, atuando com própria marca na Coréia e por meio de suas empresas em países como o Canadá, com a Horizons, e Ásia, com o Tiger ETFs. No ano passado, o grupo viu no Brasil um mercado promissor para seus produtos.

Do ponto de vista de estratégia do investidor, BDRs de ETFs são aplicações que trazem para clientes nacionais alternativas de risco e retorno diferenciados. Além da diversificação de portfólios, os produtos abrem novas possibilidades de alocação no exterior, principalmente para fundos de pensão que atingiram o limite de 10% no exterior permitido pela Resolução 4.994 do Conselho Monetário Nacional, pois os BDRs de ETFs são considerados produtos domésticos.
“ETFs são a maneira mais barata, eficiente e direta de expressar opinião de investimento”, diz Stein, que chegou em junho deste ano para comandar os negócios da gestora no País, depois de ter passado pela BlackRock, outra gigante no segmento de ETF, Itaú Unibanco e AllianceBernstein.
Entre os BDRs de ETFs trazidos para o Brasil pela Global X estão os Genomics & Biotechnology, focado em empresas que ganham com os avanços no campo da ciência genômica; o CleanTech, de companhias beneficiadas por tecnologias que inibem ou reduzem impactos ambientais negativos; Internet of Things, de empresas que potencialmente se beneficiarão da adoção mais ampla da Internet das Coisas, habilitada por tecnologias como WiFi, infraestrutura de telecomunicações 5G e fibra ótica; e o Millennial Consumer, com foco em empresas que caíram nas graças da chamada geração millennial dos EUA (nascidos de 1980 a 2000) e, portanto, têm tudo para se beneficiarem do crescente poder de compra desse grupo.
Hoje, o mercado nacional de BDRs já conta com cerca de mil ativos, dos quais mais de 100 são BDRs de ETFs. Na Global X, a carteira no Brasil ainda é pequena, com uma captação de cerca de US$ 100 milhões, refletindo o comportamento de um investidor que aproveita as vantagens da escalada dos juros. “A Selic a 13,75% restringe a demanda de investidores brasileiros por ativos internacionais”, diz Stein.
Questões conjunturais à parte, Stein tem convicção de que o interesse por fundos temáticos faz parte de um processo irreversível. Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, cerca de 5% da alocação dos principais investidores institucionais está nesse tipo de produto. Para o brasileiro, uma das vantagens é o de ter acesso a temas potencialmente transformadores da economia global. Outro diferencial é a possibilidade de investir em cadeias de valor de determinado tema. No caso do lítio, mineral essencial para baterias de carros elétricos, os fundos não aplicam apenas em uma empresa específica, mas num índice que reflete o desempenho de várias as empresas operando em todos os elos da cadeia.
“É uma alternativa de investimento em um produto que tende a ser ganhador no médio e longo prazo”, diz Stein. Em geral, investidores brasileiros têm posições expressivas em renda fixa, parcela em renda variável e em investimento no exterior (hoje bem menos do que há cerca de quatro anos, período de Selic mais baixa). Mas há um universo de opções ainda pouco restrito no mercado mais tradicional. Stein identifica alguns temas prioritários no momento. Um deles é o de cibersegurança. “Que empresa não está investindo nisso? Uma companhia boa, com bom modelo de negócio, vai ganhar dinheiro nos próximos anos”, diz.
Outros temas que fazem parte do portfólio da Global X são veículos elétricos, telemedicina carbono zero, cannabis (mercado em desenvolvimento) e urânio, este último em função do aumento da demanda por energia nuclear. “Gostamos de temas que estão no meio do ciclo”, diz. Identificar esses temas, aqueles que apontam para as grandes tendências internacionais, é um dos principais focos de atuação da Global X.