Caixa Asset mira crédito privado | Braço de gestão de recursos do...
Edição 352
Ampliar a grade de produtos, com a oferta de fundos de crédito privado e de investimentos no exterior, é a estratégia traçada pela Caixa Asset, braço de gestão de recursos do banco público de mesmo nome, para crescer no mercado institucional ao longo de 2023.
Tendo iniciado oficialmente suas atividades em setembro de 2021, após a obtenção de todas as autorizações necessárias junto aos órgãos reguladores, a Caixa Asset é a responsável pela gestão de cerca de 400 fundos de investimento que, até a segregação das operações, ficavam sob os cuidados da Caixa. Ao final de setembro, a gestora somava um patrimônio de aproximadamente R$ 529 bilhões, sendo cerca de 85% na classe da renda fixa.
“A Caixa Asset foi criada com o intuito de dar mais foco, celeridade e melhor atendimento para os clientes do banco na parte de gestão de recursos”, afirma Gabriel Dutra Cardozo, diretor-presidente da gestora controlada pelo banco público. O executivo, que é funcionário de carreira da Caixa e ocupava a diretoria financeira e de relações com investidores antes de assumir a presidência da gestora, diz que a estratégia de crescimento passa pela oferta de alternativas de investimento que possam complementar os portfólios dos investidores institucionais.
Uma dessas alternativas, segundo ele, são fundos com debêntures emitidas por grandes empresas do setor de infraestrutura. Para Cardozo, as análises de crédito dessas grandes empresas se tornaram uma das especialidades da gestora, e têm gerado resultados positivos para os fundos.
O presidente da Caixa Asset prevê que a combinação de uma possível queda na Selic em algum momento de 2023, que depende dos rumos da política econômica do governo eleito, com a estabilização da taxa de juros nos Estados Unidos, pode estimular a busca dos investidores por produtos de investimento que tragam um retorno adicional em relação aos títulos públicos.
No relatório Focus, os economistas consultados pelo BC (Banco Central) projetam a taxa Selic em 11,75% em dezembro do ano que vem, ante o patamar de 13,75% ao ano em dezembro deste ano. “Talvez o ano que vem seja um ano para os fundos de pensão e RPPS se voltarem um pouco mais para o risco, tendo em vista a forte reprecificação que aconteceu no ano de 2022, na esteira da política monetária dos Estados Unidos principalmente”, afirma o diretor-presidente da Caixa Asset, acrescentando que a gestora trabalha com um cenário-base que prevê o final do processo de alta dos juros nos Estados Unidos em meados do primeiro semestre de 2023, com o banco central norte-americano levando a taxa para um patamar final de 5,25% ao ano.
O executivo afirma ainda que, considerado o contexto macroeconômico global, a renda fixa privada no exterior também faz parte dos planos de ampliação da grade de produtos da gestora. Se valendo do aumento dos rendimentos por conta da alta dos juros pelos bancos centrais globais, fundos que alocam os recursos em títulos emitidos no exterior (bonds) devem ser lançados pela Caixa Asset nos próximos meses, afirma Cardozo.
“Os ativos internacionais tiveram uma performance bem ruim neste ano, especialmente em comparação com os anos anteriores, mas acreditamos que vai ter uma melhora no ano que vem, então temos preparado alguns possíveis lançamentos que alocam no exterior, além de produtos que alocam em renda fixa local. Apesar das incertezas, são alternativas que apresentam uma boa relação de retorno versus o risco”, afirma Cardozo.
O executivo diz que a equipe da Caixa Asset soma cerca de 200 funcionários, que já atuavam na área de gestão de recursos do banco e que, com a segregação das atividades, passaram a atuar na gestora, que ocupa dois andares em um prédio da Caixa na região da Avenida Paulista, em São Paulo. Desse total, cerca de 45 pessoas estão dedicadas exclusivamente às atividades específicas de gestão de ativos, divididas em três diferentes mesas –renda fixa, renda variável e multimercados e alternativos (fundos imobiliários, fundos de direitos creditórios e fundos de fundos).A expectativa é a de que, com a ampliação nas estratégias de investimento na grade de produtos, a equipe dedicada à gestão de ativos também aumente.
O diretor-presidente da Caixa Asset diz que o foco principal no momento é trabalhar apenas com fundos de gestão própria, com o time interno abarcando as novas estratégias de mercado a serem exploradas, embora parcerias não estejam completamente descartadas. “A gente não descarta parcerias com outras gestoras, mas precisam ser fundos ou estratégias que tragam complementariedade ao nosso portfólio”, afirma Cardozo.
Ele diz ainda que, nas conversas que o time de relacionamento com investidores vêm mantendo com fundos de pensão e RPPS, a preferência da maior parte desse público ainda recai sobre os títulos públicos, em especial aqueles indexados à inflação, com taxas de juros reais acima de 6%, patamar que permite cumprir com as metas atuariais.
Ainda segundo ele, de maneira tática também os títulos pré-fixados, com taxas de retorno nominais de dois dígitos, têm começado a despertar um interesse crescente dos institucionais mais recentemente, aponta o executivo.
Cardozo afirma que, além da renda fixa, os fundos multimercados também podem começar a ver a demanda aumentar, pela flexibilidade dos gestores de navegar em cenários com grau elevado de incerteza, tendo agilidade para promover mudanças na composição das carteiras conforme a dinâmica de mercado.
Já em relação à Bolsa de Valores, a visão é mais cautelosa. “O cenário para a Bolsa e os ativos de maior risco deve ser ainda bastante desafiador no primeiro semestre de 2023”, afirma Cardozo, que cita as altas dos juros nos mercados desenvolvidos, que, por sua vez, aumentam as chances de uma desaceleração abrupta da atividade econômica global, como um risco que tende a manter as ações sob pressão ainda por mais algum tempo.
O diretor de investimentos da Caixa Asset, Álvaro Lessa de Oliveira, avalia que, de um modo geral, a Bolsa local negocia sob “múltiplos razoáveis” e não está cara. Um desempenho positivo das ações, contudo, vai depender do nível de juros praticado no mercado, seja no Brasil ou no exterior, diz. “A movimentação da Bolsa vai ser bastante influenciada pelas discussões de política monetária tanto no Brasil como no exterior.”
O diretor-presidente da Caixa Asset diz também que, até o momento, ainda não teve conversas com ninguém da equipe econômica do governo eleito para tratar do direcionamento da gestora de recursos a partir do próximo ano.
Em relação a uma eventual abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) da gestora, o executivo desconversa. “Essa é uma discussão que tem que partir do controlador, que é a Caixa Econômica Federal. Mas no momento não tem nenhuma conversa nesse sentido”, afirma.
Ele acrescenta que, em linha com os pares de mercado, acompanha com atenção as discussões acerca da condução da política fiscal a partir de 2023, com as negociações do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Brasília acerca da PEC da Transição que prevê o pagamento de benefícios sociais fora do teto de gastos. “Queremos saber qual será o resultado final [das discussões fiscais], para podermos fazer contas e projeções”, afirma.