BB DTVM reduz exposição em ações do Facebook | Escândalo faz gest...

Edição 302

 

No mês de março veio à tona a notícia que a consultoria política Cambridge Analytica, que atuou na campanha do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, utilizou dados de pelo menos 50 milhões de usuários do Facebook de maneira indevida, sem o consentimento dos mesmos, para influenciar os resultados das eleições no país.
Desde então as ações da rede social têm registrado forte desvalorização, o que tem levado os gestores a adotar medidas para proteger seus portfólios. A asset europeia Nordea, por exemplo, decidiu suspender os investimentos de seus fundos voltados a aspectos sócio-econômicos e ambientais em ações do Facebook por, ao menos, três meses. Embora os gestores não possam comprar ações da rede social, eles não estão impedidos de vendê-las.
No Brasil, a BB DTVM promoveu uma redução expressiva da exposição que seu fundo de BDRs tinha nos ativos do Facebook. Em um primeiro momento a gestora reduziu pela metade sua posição nos papéis da rede social, e quando o ativo esboçou uma pequena reação houve uma nova diminuição. “Hoje temos por volta de 20% do que tínhamos originalmente no Facebook”, diz o gerente de ações da BB DTVM, Vinicius Vieira. A posição BB DTVM em ações do Facebook, que antes do escândalo vir à tona era de 6%, hoje está abaixo de 1%. A queda dos papéis da rede social teve um impacto negativo de aproximadamente 0,70% no fundo da gestora. “Fizemos um movimento rápido e consideramos essa uma perda aceitável”.
A notícia sobre o uso indevido de dados dos usuários veio à tona no dia 19 de março, e a BB DTVM chegou a esperar dois dias para iniciar o processo de redução de sua exposição ao ativo, para acompanhar a reação do mercado em termos globais, e também para esperar por uma declaração do controlador da empresa, Mark Zuckerberg, que ocorreu somente no dia 21. Nesse dia, movimentos para diminuir a participação das ações da empresa nos portfólios globais já começavam a se alastrar.
Vieira explica que o fundo de BDRs da casa segue o modelo quantitativo, já que não há uma equipe de analistas fundamentalistas que acompanha ações de empresas dos Estados Unidos. “Seguimos de perto o noticiário a respeito do papel e nos guiamos pelo consenso de mercado dos 48 analistas que acompanham a companhia ao redor do globo”.
O gerente da BB DTVM nota que, até o momento, os analistas ainda não começaram um processo de revisão em suas recomendações. “Dos 48 analistas, 44 seguem com recomendação de compra para Facebook”. Segundo ele, caso a crise envolvendo a companhia prossiga nas próximas semanas, com eventuais mudanças nas recomendações dos analistas, é possível que a posição residual no ativo mantida pelo fundo seja zerada. “Não tivemos mudanças nas recomendações dos analistas, mas optamos por reduzir a posição em função das incertezas envolvendo o Facebook”.
O gerente nota que, em termos de fundamentos, os principais riscos envolvendo o Facebook são a queda nos anunciantes, que são a principal fonte de receita da empresa, e imposições dos órgãos reguladores que tornem o negócio menos atrativo.

Nordea deixa de negociar ações da rede

Em um comunicado público divulgado logo após as notícias de que a Cambridge Analytica tinha usado indevidamente os dados de usuários do Facebook para manipular tendências nas eleições americanas, assim como na votação do Brexit (plebiscito que fez a Inglaterra pedir sua retirada da Comunidade Européia), a head da área de investimentos responsáveis da Nordea, Katarina Hammar, afirmou que “estamos tomando a medida de suspender a compra de ações do Facebook porque vemos que os riscos relacionados à governança em relação à proteção de dados podem ter sido gravemente comprometidos”.
Segundo ela, a decisão de suspender a compra de ações do Facebook é decorrência do aumento dos riscos regulatórios desses papéis, que é “incompatível com o nível de clareza que queremos ter em nossos fundos. Até termos tempo suficiente para avaliarmos completamente o problema, optamos por colocar a empresa em quarentena”.
Em seu comunicado, Katarina Hammar explica que “evidentemente estamos cientes dos riscos ESG (environmental, social and governance, na sigla em inglês) relacionados ao Facebook e outras companhias do mesmo setor há algum tempo. Um relatório temático já foi iniciado no fim de 2017, abordando principalmente os riscos de privacidade dos dados no setor de tecnologia”.