Edição 291
Com cada vez mais novas e importantes tecnologias sendo desenvolvidas por startups, os bancos começam a voltar seus olhares para esse universo de empreendedorismo que pode gerar ganhos potenciais para seus próprios negócios. Nos últimos meses o Banco Votorantim e a BB Seguridade investiram no fundo BR Startups, gerido pela Microsoft, com o objetivo de encontrar fintechs – startups que atuam no mercado financeiro – e insurtechs – startups do mercado segurador – que agreguem valor às suas operações no futuro.
Gabriel Ferreira, diretor executivo de varejo, marketing e inovação digital do Banco Votorantim, explica que a atuação da instituição no segmento de startups e fintechs se divide em duas vertentes que se complementam. Uma delas é o advento da economia digital e seu impacto nos negócios já existentes, e como as empresas, inclusive os bancos, têm de se adaptar para se relacionar com o novo consumidor digital. A segunda vertente diz respeito à velocidade com que as mudanças tecnológicas têm ocorrido ao redor do mundo.
“A velocidade da inovação hoje é muito pulverizada, existem diversas startups, fundos e centros de tecnologia desenvolvendo soluções tecnológicas em uma velocidade cada vez maior”. Esse avanço rápido de novas ideias, nota Ferreira, faz com que as grandes corporações tenham dificuldade de ser os grandes catalisadores de inovação como foram no passado.
Diante desse novo ambiente digital da era moderna, as grandes corporações globais e também as brasileiras entenderam que para acompanhar o ritmo de inovação tecnológica elas devem estar abertas às ideias e talentos que não estão hoje dentro de suas próprias estruturas internas. “Não serão apenas os projetos internos que vão desenvolver as melhores inovações, mas muitos desses empreendedores estão fora do domínio das grandes empresas”, pontua o diretor.
No caso do Banco Votorantim, a atuação nesse universo da inovação tem se dado por meio das duas vertentes citadas por Ferreira. Em relação ao impacto do advento da economia digital nos negócios já existentes, a instituição financeira tem promovido um processo de investimento tecnológico interno muito forte, chamado de programa transformacional. “Estamos basicamente reinventando o parque tecnológico, trabalhando nos processos e na forma de interação do banco com clientes e parceiros”, afirma o executivo. Esse programa está em seu segundo ano de desenvolvimento, e ao longo de 2017 diversas plataformas digitais que atuam na relação com clientes, fornecedores, parceiros e mesmo a força de venda proprietária da empresa vão estar em um novo patamar tecnológico.
Em relação à segunda vertente, de buscar inovações de fora para dentro, por não contar com uma estrutura de venture capital de dentro da companhia, o banco optou por buscar uma parceria e juntar forças com a Microsoft, à frente do fundo BR Startups. “Buscamos a parceria para fazer investimentos em fintechs e insurtechs e encontrarmos empreendedores de serviços financeiros aliados às novas tecnologias, para que através do BR Startups pudéssemos atuar como cotista âncora do segmento”.
O primeiro investimento do banco no fundo da Microsoft foi feito há cerca de um ano, com um aporte de R$ 3 milhões no FIP que gere os recursos. No último trimestre de 2016, após definir quais serão as teses de investimento e setores a serem investidos, o Votorantim realizou o “Fintechbay’, quando recebeu inscrições de 64 fintechs de todo Brasil. Dessas 64, onze foram pré-selecionadas para uma apresentação in loco dos empreendedores para representantes do BR Startup, da Microsoft e do Votorantim, e dessas onze, três estão atualmente em fase de negociação, já no processo de due dilligence, e deverão ser anunciadas ao mercado ainda em abril ou no mais tardar em maio. “Essas serão as primeiras empresas a receber investimento nosso no segmento de fintechs”, explica Ferreira. Os tickets a serem aportados nas startups selecionadas podem variar de R$ 250 mil a R$ 1,5 milhão em cada projeto.
O diretor do Votorantim ressalta que ainda não pode divulgar os nomes das empresas que receberão os aportes, mas aponta os nichos de atuação no qual elas estão inseridas. O tema mais abrangente de serviços financeiros engloba uma série de sub nichos nos quais as startups selecionadas atuam. Entre esses nichos estão meios de pagamento, soluções de crédito online, ‘market place’ relacionado aos serviços financeiros, ‘advanced analytics’ – ramo que estuda as tomadas de decisões baseadas em dados – seguros, soluções relacionadas aos investimentos, como os robôs advisors, e ainda questões sobre a infraestrutura bancária e o blockchain, que se trata do protocolo tecnológico por trás das bitcoins, as moedas virtuais.
BB Seguridade – Ângela de Assis, diretora de clientes, comercial e de produtos da BB Seguridade, entende que as fintechs já estão em um patamar de desenvolvimento de projetos e produtos mais avançado na comparação com as insurtechs. As fintechs trabalham com produtos financeiros relacionadas aos bancos, enquanto as insurtechs desenvolvem projetos voltados para o mercado segurador, previdenciário e de capitalização. “As insurtechs vieram mais atrasadas na comparação com as fintechs”, pondera a especialista. “O próprio mercado segurador é mais conservador do que o mercado financeiro, e entendemos que tem muita tecnologia, existem mil possibilidades por meio da internet das coisas, analytics, big data, onde podemos nos valer de inovações e ideias diferentes que vão contribuir para melhorar nossos negócios”, afirma Ângela.
Até mesmo para disseminar dentro da BB Seguridade a cultura da inovação, a empresa optou por fazer um investimento no fundo da Microsoft que investe em startups, o BR Startups, que conta com outros investidores como a Monsanto e a Qualcomm. “Por meio desse investimento podemos ter acesso a novas tecnologias para desenvolver novos produtos, novas formas de subscrição”, pondera a diretora do conglomerado. Ela ressalta a percepção de que a indústria seguradora do país ainda é muito conservadora e precisa de evolução. “Precisamos acelerar essa evolução, e fazendo somente dentro da empresa poderia não ter o resultado no tempo que entendemos ser necessário, por isso optamos por investir no BR Startups”.
A BB Seguridade separou um investimento de R$ 5 milhões para alocar em startups a serem selecionadas pela própria empresa, em conjunto com os gestores do fundo da Microsoft e os outros investidores do BR Startups. Ângela explica que a empresa abriu um processo de inscrição no dia 20 de março para que as startups interessadas apresentem seus projetos. “Indicamos as áreas que são de nosso interesse para as startups se inscreverem”. Entre os temas de interesse da BB Seguridade estão internet das coisas – revolução tecnológica a fim de conectar dispositivos eletrônicos utilizados no dia-a-dia (como aparelhos eletrodomésticos, eletroportáteis, máquinas industriais e meios de transporte) à internet – sistemas, plataformas, inteligência artificial e produtos.
“Não necessariamente vamos ter um produto diferente, podemos ter um processo de contratação diferente, um processo de subscrição diferente, ou uma experiência diferente para o usuário, esse é um ponto que consideramos bastante relevante”, diz.
O investimento de R$ 5 milhões a ser aportado nas startups selecionadas deve abarcar três empresas diferentes, prevê a diretora, que ressalta, contudo, que esse não é um número definido. Se a BB Seguridade identificar uma única empresa com um projeto que gere grande interesse, apenas ela pode receber todo o investimento. “Esperamos conseguir, até o final do ano, algum resultado relevante para o nosso negócio”.