Edição 288
Depois de um excelente começo em 2014 e 2015, os fundos no exterior voltados para investidores institucionais perderam força neste ano. Os retornos negativos destes fundos em 2016 e a abertura dos prêmios das NTN-Bs praticamente paralisaram o segmento. Em novembro, porém, após a vitória de Donald Trump na eleição dos EUA, os fundos no exterior tiveram forte recuperação e os gestores acreditam na volta da demanda em 2017, agora com uma novidade: os fundos de renda fixa com hedge cambial. Gestores como Schroders, Franklin Templeton e Legg Mason, entre outros lançaram recentemente fundos com estratégias de renda fixa internacionais e acreditam que os produtos podem fazer sentido para os fundos de pensão.
“O mercado de institucionais ficou praticamente parado em 2016, mas deve voltar no próximo ano. A opção pelos fundos no exterior está voltando à pauta dos comitês”, diz Fernando Cortez, chefe comercial da Schroders. A asset vinha atuando com dois feeders em parceria com a BB DTVM, um de Europa e outro de ações globais. Recentemente, lançou um terceiro fundo no exterior, com estratégias tanto de renda fixa quanto de bolsa. É um fundo sem exposição cambial que aplica recursos em hedge funds da asset lá fora.
“É um fundo com baixa correlação com o mercado doméstico que procurar gerar alfa com as diferenças de taxas dos diferentes mercados de juros no exterior”, explica Cortez. Em pouco mais de dois meses, o fundo já acumula patrimônio de R$ 150 milhões e conta com recursos de três cotistas, um deles fundo de pensão.
A Franklim Templeton também lançou um fundo de renda fixa com ativos internacionais. É um fundo com hedge cambial voltado para o investidor private brasileiro, mas também pode ser acessado por institucionais. “É um fundo que está acumulando forte retorno nos últimos meses e que acelerou os ganhos após a vitória de Trump para a Casa Branca”, diz Luiz Fernando Pedrinha, gerente de vendas da Franklin Templeton. O fundo teve retorno de 150% do CDI em novembro. Ele explica que a variação das taxas de juros no mercado americano favoreceu o desempenho do fundo já no final da campanha presidencial, continuando com maior força após a vitória de Trump.
A asset possui outros fundos no exterior oferecidos no Brasil. Um deles é voltado para fundos de pensão. É um produto administrado em parceria com a Sulamérica Investimentos. O fundo não contou com forte captação de recursos em 2016 por conta da instabilidade do cenário internacional e da abertura dos prêmios dos títulos públicos no mercado local, explica Pedrinha. O executivo acredita que em 2017, as fundações devem voltar a olhar para o segmento. “A classe de fundos no exterior veio para ficar. Os ventos foram desfavoráveis em 2016, mas no próximo ano começa um novo jogo, em que os investidores estarão olhando para todas as variáveis”, diz o executivo.
Nova área – O grupo Legg Mason também aposta no aumento da demanda por fundos de renda fixa no exterior. Para isso, lançou o fundo Macro Opportunities, que utiliza estratégias de geração de alfa com títulos soberanos e moedas nos principais mercados internacionais. O grupo lançou uma nova área no mercado brasileiro, que é comandada por Roberto Teperman (ex-Unibanco Asset Management e ex-Deutsche). O executivo já atua há 10 anos na principal subsidiária do grupo, a Western Asset, mas agora o profissional fica responsável por todos os produtos do grupo Legg Mason no país.
O grupo tem uma plataforma global com nove subsidiárias, entre elas a Clearbrige, Clarion, Royce e a própria Western Asset, que totalizam US$ 750 bilhões em ativos sob gestão. Com a nova área, o grupo pretende ampliar a oferta de fundos no exterior para o mercado brasileiro, incluindo o público institucional. O fundo Macro Opportunities é uma das aposta para o público de fundos de pensão. “É um fundo que promove a diversificação na carteira, pois apresenta baixa correlação com a renda fixa local. Além disso, tem exposição a moedas de vários países”, diz Teperman. A Legg Mason possui também outros produtos no exterior como por exemplo um fundo de BDRs e outro produto de ações com benchmark o MSCI Global. Ambos contam com parceria com a asset Clearbridge.
Recuperação em novembro – O ano de 2016 não foi fácil para o segmento de fundos no exterior em termos de rentabilidade. A desvalorização do dólar no primeiro semestre impôs retornos negativos para os principais fundos da categoria. A queda na maioria dos casos ficou abaixo dos 20% negativos até o mês de outubro. Após a eleição de Trump, porém, o segmento apresentou uma forte recuperação que, embora não tenha revertido todas as perdas do ano, reverteu a tendência de queda.
Os oito fundos no exterior da BB DTVM voltados para fundações, e administrados em parceria com assets globais, tiveram uma rentabilidade média de 7,18% em novembro. O retorno em apenas um mês do ano variou entre 5,02% e 10,30%. O resultado é explicado por dois fatores: a valorização do dólar e a alta das bolsas internacionais, com destaque para as ações listadas no mercado americano. “Houve um movimento de venda massiva de bonds e migração de recursos para ações nos EUA após a vitória de Trump”, explica Marcelo Pacheco, gerente de fundos multimercados e offshore da BB DTVM.
O impacto mais forte, porém, foi mesmo da valorização do dólar. Como os fundos no exterior da BB DTVM não possuem hedge cambial, acabam recebendo o impacto da variação cambial. Em novembro, o dólar teve valorização de 6,18% ante o real. Em 2016, o gerente da BB DTVM explica que houve um movimento de realização de lucros por parte dos institucionais em relação aos fundos no exterior. O movimento de resgate foi mais intenso no primeiro semestre do ano, estabilizando na segunda metade de 2016.
A asset do BB tem no total 16 fundos que utilizam estratégias no exterior. O patrimônio de todos os fundos chegou a R$ 2,11 bilhões em janeiro de 2016 e caiu a R$ 1,53 bilhão em julho deste ano (ver quadro). “Acreditamos que a estratégia de renda variável no exterior, principalmente nos EUA, tem boa perspectiva para os próximos meses. Com uma gestão mais protecionista, as empresas americanas devem ser beneficiadas”, prevê Pacheco.
O executivo diz que a asset tem estudado a possibilidade de lançar fundos com estratégias de renda fixa no exterior, mas acredita que ainda não é o momento adequado. “Estamos esperando um pouco mais. Acredito que fará mais sentido quando começar o aumento dos juros lá fora”, diz o gerente da BB DTVM.
Ajuste tático – A Funcesp, fundo de pensão da Cesp e companhias do setor elétrico, reduziu a carteira de fundos no exterior no início de 2016. Com oito fundos com ativos internacionais, a carteira chegou a contar com R$ 400 milhões em recursos, que se reduziram a R$ 290 milhões no começo do ano. “Procuramos manter uma posição estrutural de longo prazo, mas decidimos realizar um ajuste tático, e aproveitamos a boa valorização do ano passado”, diz Jorge Simino, diretor de investimentos da Funcesp.
O fundo de pensão conta com a consultoria da Mercer para analisar o desempenho dos fundos no exterior. Com a avaliação, decidiu manter todos os oito fundos, mas realizou resgates diferenciados em cada um deles. Após o resgate, os fundos continuaram com retornos negativos, mas não foram realizados novos saques. Até outubro, a carteira de fundos no exterior estava caindo 16%. Em novembro, porém, teve alta de cerca de 4%, o que reduziu as perdas do ano. “Estamos satisfeitos com os fundos no exterior pois promove a diversificação do risco. Em 2015, quando praticamente todas as classes domésticas tiveram fraco retorno, a carteira no exterior teve retorno de 47%”, mostra Simino.
Em 2016, a situação praticamente se reverteu e isso reforça a tese que é importante manter a posição para diversificar o risco. “Estamos aguardando o final do ano para tomar decisões em relação à renda variável tanto doméstica quanto exterior. Por enquanto, não vamos aumentar as posições em bolsa”, diz o diretor de investimentos da Funcesp. Enquanto isso, o fundo de pensão continua aproveitando a aberturas de taxas dos títulos públicos (ver pág 32) para ampliar as posições em renda fixa.