Alongando os prazos | Busca das assets por passivos estáveis e au...

Edição 296

Com o aumento da demanda por fundos ativos de renda variável e multimercados nos últimos meses muitas assets estão optando por alongar o prazo de resgate desses produtos. Segundo os gestores, saques expressivos em prazos muito rápidos podem levar a transações desvantajosas para os fundos, o que comprometeria a rentabilidade das cotas. A medida já começa a se tornar tendência entre as gestoras que atuam nesses nichos do mercado, tentando com isso conseguir uma estabilidade maior para seus portfólios que, com a queda da taxa de juros, tornaram-se mais agressivos.
A Adam Capital lançou em julho passado seu produto mais recente, o fundo multimercado Strategy, com prazo de resgate D30, e que atualmente soma patrimônio líquido de R$ 1,2 bilhão. Quando o veículo alcançar o patamar de R$ 7 bilhões a R$ 8 bilhões, o que deve acontecer durante o primeiro semestre de 2018 dado a captação líquida mensal por volta de R$ 700 milhões, a asset vai fechar o fundo e lançar outro veículo que seguirá a mesma estratégia, mas com um prazo de resgate D90 ou D180, ainda a ser definido pelos gestores.
André Salgado, sócio da Adam, explica que, com o aumento do prazo, a Adam vai buscar um passivo mais estável e de longo prazo para seu portfólio, uma vez que a casa já terá alcançado patamar razoavelmente grande de ativos sob gestão que lhe trará conforto para almejar recursos de investidores com esse perfil. Atualmente a asset soma R$ 14,8 bilhões em ativos sob gestão. “Como os produtos da Adam tem uma volatilidade mais acentuada, entendemos ser interessante termos na nossa base clientes que tenham um horizonte de mais longo prazo em mente, em linha com nossa filosofia”, comenta o executivo.
Em relação à queda dos juros observada no mercado local com os cortes na Selic promovidos pelo Banco Central, Salgado explica que, para manter os mesmos níveis de rentabilidade dos fundos, a Adam tem optado por reduzir a posição em renda fixa e aumentar na renda variável com o intuito de obter uma melhor relação risco retorno. “Para manter o mesmo nível de rentabilidade que tínhamos anteriormente é preciso aumentar o prazo e migrar para renda variável ou elevar o nível de exposição nos mercados em que já estávamos expostos”, afirma o sócio da Adam.

Novo ambiente – Carlos André, diretor executivo da BB DTVM, nota que o trinômio muito comum que existia no Brasil até pouco tempo, de baixo risco com liquidez e rentabilidade, em um ambiente de juros mais baixos, tende a desaparecer do mercado. “Em um ambiente de juros mais baixo, a possibilidade de alongamento do prazo de resgate dos fundos pode ser realmente melhor explorada, ou seja, trabalhar com passivos mais alongados que dê tranquilidade ao gestor para montar estratégias que propiciem com maior grau de probabilidade retornos diferenciados”, afirma Carlos André.

O investidor que quiser garantir uma boa rentabilidade, prossegue o especialista, terá de abrir mão da liquidez ou de um baixo nível de risco em suas carteiras. “O ambiente de juros altos propiciava aos investidores brasileiros uma situação incomum em outros mercados mundo afora”, pontua o diretor da asset do BB.

Baixa liquidez – A Brasil Plural, que faz a gestão de um fundo de debêntures incentivadas voltado principalmente ao investidor pessoa física, ampliou o prazo de resgate por conta da restrição de liquidez desse segmento. O primeiro fundo com essas características da gestora foi lançado em agosto de 2015 com prazo de resgate D30, e em agosto de 2016 o Brasil Plural optou por ampliar o prazo para D45 para o segundo fundo da família. Os dois fundos somam atualmente PL de aproximadamente R$ 200 milhões. “Os investidores entendem o ambiente em que o fundo está inserido e aceitam tomar mais risco com prazos maiores para o resgate para que o gestor administre a volatilidade”, diz Carlos Eduardo Rocha, responsável pela asset do Brasil Plural. O mercado de debêntures incentivadas ainda é bastante restrito em termos de liquidez, mas o gestor espera por um aumento na oferta de ativos nos próximos meses com a agenda de privatizações do governo.
A Brasil Plural já vinha alongando os prazos de resgate desde 2012, quando realizou o movimento no multimercado Equity Hedge de D15 para D30. O fundo, lançado em março de 2010, tem atualmente um patrimônio próximo de R$ 1 bilhão. “Com o aumento do PL do fundo, que leva a uma demora maior para fazer alterações nas posições da carteira por uma questão de liquidez, a mudança do prazo de resgate acontece naturalmente”, afirma Rocha.
Outra que tem ampliado os prazos de resgate é a XP Gestão, que iniciou em meados de 2016 a migração de seus fundos de renda variável de D4 para D30. A gestora realizou essa alteração gradativamente – começou com os fundos long only e long bias e em agosto de 2017 chegou ao de dividendos. A asset também promoveu o aumento do prazo de seu fundo long and short, mas nesse caso de D15 para D60.

Marcos Peixoto, CEO e gestor de renda variável da XP Gestão, explica que o racional por trás da decisão de alongar os prazos de resgate dos fundos foi dar maior flexibilidade ao trabalho de gestão conforme aumentaram o volume aportado pelos clientes.Os fundos que tiveram seus prazos de resgate alterados representam aproximadamente R$ 3 bilhões, de um total de R$ 9,5 bilhões sob gestão atualmente (cerca de 5% disso são provenientes de fundos de pensão).
Na avaliação do executivo, com o alongamento dos prazos será possível dobrar o volume sob gestão, já que a baixa carência não será mais um impeditivo para o gestor adotar posições maiores e estruturais. “Quanto mais cresce o volume sob gestão, fica cada vez mais difícil operar com prazos curtos de carência”, pondera Peixoto. Segundo ele, com o incremento dos prazos, a XP Gestão que dar à sua equipe de profissionais a liberdade para operar no mercado com a cabeça mais voltada para o médio e longo prazo.