Ajustando o foco | Com redução dos prêmios na renda fixa, fundos ...

Edição 299

 

Após terem apresentado retorno destacado ao longo do ano de 2017 com contribuição importante da renda fixa, as gestoras independentes de fundos multimercados começam a prospectar novas classes de ativos em busca de fontes de retorno que mantenham a atratividade dos produtos junto aos investidores. Nesse sentido, o aumento da exposição das assets à renda variável doméstica e global tem tido papel importante. E para atuarem com maior propriedade nos mercados internacionais, casas como Mauá, Garde e Adam reforçaram suas equipes nos últimos meses com profissionais especialistas no tema.
A Mauá Capital incrementou seu time ao longo do primeiro semestre com a contratação de três profissionais – dois economistas e um gestor – para ajudá-la na pesquisa de potenciais regiões a receberem aportes da casa que até então ainda eram pouco exploradas. Chegaram à asset nos últimos meses o gestor Guilherme Sbagia (ex-Garde) e os economistas Ângelo Polydoro (ex-Brasil Plural) e Fernando Friaça (ex-Bozano).
Por conta da expertise trazida pelos novos profissionais, hoje a Mauá tem amplo conhecimento sobre a dinâmica da política monetária e sobre como votam os diretores que compõem os bancos centrais de Argentina e Colômbia. “Estamos replicando exatamente o trabalho analítico que fazemos para cobertura de Brasil para Argentina e Colômbia, e esse conhecimento tem nos ajudado a buscar posições nos mercados de juros e moeda nos dois países, que são os segmentos em que temos maior atuação também localmente”, afirma Marcelo Lubliner, sócio da Mauá.
Entre as razões para ter escolhido os dois países da América Latina, Lubliner aponta, além da proximidade regional que facilita uma visita se necessária, o processo de alteração nas taxas de juros que também estão ocorrendo por lá, além da profundidade e liquidez que permitem montar e desmontar posições de maneira ágil. “Buscamos a experiência dos profissionais que trouxemos para entender a dinâmica dos nossos vizinhos e operar quase como se fossemos locais desses países”.
O executivo acrescenta que o México também desperta o interesse da casa, mas pelo fato de o país também estar próximo de um pleito presidencial, a Mauá preferiu aguardar o desfecho da disputa para então adotar um posicionamento na região.
Lubliner ressalta que o aumento no escopo de atuação da gestora permitiu a reabertura dos multimercados que haviam sido fechados em meados de 2017, à medida que ocorreu um incremento na capacidade de gerir volumes maiores de recursos. No entanto, apesar das novas exposições em América Latina, a maior exposição que a asset carrega no mercado internacional atualmente está nos juros dos Estados Unidos. “Existe uma falta de sintonia entre o que o mercado precifica para os juros americanos nos próximos anos em relação ao que o Fed tem sinalizado que vai fazer, e entendemos que isso gera uma grande oportunidade”.

Evolução – Na Garde Asset, o CEO Marcelo Giufrida conta que nos últimos meses também tem sido feito um trabalho de ampliação do universo de investimentos possível para a carteira dos multimercados, movimento que o executivo considera natural dentro de um processo de evolução do mercado e dos gestores locais.
Em uma tendência predominante entre as assets independentes locais mais recentemente, a Garde também tem aumentado a exposição de seus fundos aos ativos de mercados internacionais. Para isso a gestora conta hoje com um time de cinco profissionais, entre analistas e gestores, que concentram sua atenção nos mercados globais. Esse time com o foco no exterior começou a ganhar forma no ano passado, quando foi contratado José Valente, oriundo da GAP; em abril de 2017 chegou Rodrigo Ferreira, vindo da Modal Asset, e em outubro último a equipe recebeu seu reforço mais recente com a chegada de André Shiokawa, que acumula passagens pela Kondor e BTG Pactual.
Giufrida ressalta que desde o início a Garde já tinha exposição global em seus fundos, mas agora o leque de ativos internacionais no radar da asset foi ampliado. A maior atuação da gestora nos mercados internacionais tem se dado através de operações de câmbio, mas também em juros e bolsa, tanto em mercados desenvolvidos como nos emergentes. Na parte de ações globais a gestora de Giufrida opera através de índices, sem considerar ações de maneira isolada.
Além disso, há cerca de 1,5 ano a asset já havia ampliado seu escopo de atuação ao trazer três profissionais para iniciar as estratégias de ‘long and short’ em seus multimercados. Foram contratados na ocasião Francisco Kops, que desde 2014 atuava como head de research no J. Safra, e Guilherme Camacho e João Santos, que faziam parte da equipe da estratégia ‘long and short’ da Canvas Capital. “Temos passado por um processo normal de desenvolvimento da gestão, que entendo ser saudável, e não necessariamente porque os juros caíram e agora precisamos fazer outra coisa, mas pela busca por diversificação do alfa dos fundos”, diz Giufrida.

Bovespa – A Adam Capital, por sua vez, iniciou em julho a alteração do portfólio de seus fundos multimercados, praticamente zerando a posição em juros, substituindo-a por uma comprada em Bovespa. Apesar da forte valorização já apresentada pelas ações da bolsa brasileira, André Salgado, sócio fundador da Adam, ressalta que a casa ainda enxerga bastante espaço para que o momento positivo do segmento prossiga em 2018. “Com a queda dos juros a alavancagem financeira e operacional de muitas companhias ainda vai cair de maneira expressiva e contribuir para que elas apresentem melhores resultados”, prevê o especialista.
Salgado diz ainda que, a despeito do cenário político incerto, devido ao elevado nível de ociosidade que ainda se faz presente na economia, a inflação deve seguir comportada mesmo no ambiente previsto de crescimento mais forte do PIB, o que deve permitir que a Selic também siga em patamares baixos, favorecendo os ativos de renda variável.
Além disso, em abril a asset já havia contratado os gestores Ruy Alves, da JGP, e Fernando Gonçalves, da Gávea, que são os responsáveis por fazer a análise das melhores ações globais para os fundos da casa. Até então a exposição dos fundos da Adam ao mercado acionário internacional se dava por meio de índices. Salgado ressalta que a gestão dos fundos segue centralizada em Márcio Appel, que conta com o auxilio dos dois gestores especializados em ativos globais para a fatia internacional do portfólio, e de Fábio Landi para a carteira como um todo.
A estratégia em bolsa global teve início no fundo Strategy, lançado em julho pela Adam. A gestora tinha a intenção de ampliar a estratégia de ações internacionais para os outros fundos da casa no início de 2018, mas com o bom resultado entregue por ela nesse curto espaço de tempo, o movimento foi antecipado para outubro. “O bom resultado que tivemos com a estratégia global de ações não é tanto em termos de retorno, até porque o prazo para fazer essa análise ainda é curto, mas principalmente por conta da descorrelação que ela propicia em relação aos ativos que temos em Brasil, o que reduz o risco e dá mais equilíbrio aos fundos”, explica Salgado. As principais posições em ações globais da Adam estão nas bolsas americana e alemã, e em empresas de propriedade intelectual de tecnologia e biotecnologia.