Edição 248
Com a necessidade de entregar ganhos diferenciados em um mercado cada vez mais complexo, a indústria de fundos no Brasil começa a registrar o surgimento de assets diferenciadas. Não é novidade a multiplicação de gestores especializados em fundos de valor, mas chama a atenção o aparecimento de gestores com sistemas fora dos padrões habituais. Um exemplo é o da Lótus Investimentos, recentemente adquirida pela Fator Administração de Recursos, conforme noticiado pela Investidor Institucional. A asset havia desenvolvido um sistema de seleção quantitativa baseada na geração de algorítimos para seleção de ativos. Um outro caso é o da Behavior Capital Management, que utiliza uma metodologia baseada em princípios de finanças comportamentais.
As finanças comportamentais estão bastante disseminadas nos EUA, mas aqui no Brasil somos a primeira asset especializada nesta metodologia”, diz Delano Franco, sócio-diretor da Behavior. Nomes de assets como a LSV (Chicago), Arrow Street (Boston) e AQR (Nova Jersey) são referências no campo da gestão baseada nos princípios de “behavior” no mercado americano. Com experiência de 12 anos no BNY Mellon, Franco é uma dos fundadores da asset, ao lado de Marco Bonomo (professor da FGV-RJ). Ambos possuem especialização e atuação acadêmica na área de finanças comportamentais. “Partimos do princípio que as decisões dos agentes do mercado não são totalmente racionais. Os mercados são ineficientes no mundo todo, ainda mais no Brasil”, diz Franco.
Com um patrimôno líquido sob gestão de R$ 80 milhões, a Behavior possui três fundos de investimentos cuja gestão é definida por um ranking de ativos. Do total do patrimônio, cerca de R$ 20 milhões são provenientes de investidores institucionais – uma fundação e uma asset. O ranking utiliza critérios e princípios de “behavior” que procuram medir e avaliar o impacto da irracionalidade dos agentes no preço dos ativos. “São utilizados princípios da psicologia cognitiva aplicados nos métodos de gestão. Alguns são bastante básicos e que explicam os erros cotidianos na vida de qualquer pessoa”, explica Alessandra Augusta de Souza, sócia-diretora da Behavior e responsável pela área de clientes institucionais.
Por exemplo, um dos critérios do ranking é o da representatividade de longo prazo, que mede a dificuldade de avaliar as ações no momento atual. “Existe uma tendência de superestimar as ações glamorosas do presente e de subestimar os papéis não glamorosos”, diz Alessandra. Outro critério é o viés da confirmação, que avalia a dificuldade do analista de absorver posições contrárias as suas opiniões. “A intenção do ranking é minimizar o peso das opiniões pessoais dos analistas e gestores na seleção dos papéis. É uma gestão menos emocional”, diz Delano Franco.
O ranking é rebalanceado a cada 15 dias e as ações são mantidas em média por quatro meses. A asset vem trabalhando exclusivamente com ações de empresas do mercado doméstico, pois dois de seus fundos de investimentos são da modalidade de renda variável ações livre. “Duas vezes por ano ocorre um giro completo de toda a carteira dos fundos”, diz Franco. O terceiro produto é um fundo de investimentos em cotas (FIC) do tipo multimercado.
Fundações – Em um momento que os fundos de pensão estão buscando uma gestão mais ativa para a renda variável, os gestores da Behavior acreditam que seus produtos podem ganhar algum espaço nas carteiras das fundações. “Os fundos de ações existentes atualmente no mercado são muito parecidos, mesmo aqueles que utilizam a análise fundamentalista”, diz Alessandra Souza. Ela acredita que há espaço para o surgimento e crescimento de assets bastante diferenciadas no segmento de investidores institucionais. Em 2012 e início de 2013 os fundos de ações da Behavior registraram rentabilidade bem acima do Ibovespa, enquanto a volatilidade ficou abaixo da média da bolsa.
Outro diferencial dos fundos da asset é a maior diversificação de papéis que fazem parte do portfólio. “Em média trabalhamos com 60 ações de empresas em cada fundo. Nossa metodologia permite a seleção de ativos mesmo sem contar com um estudo aprofundado de cada empresa”, diz a sócia-diretora da Behavior. Para se aproximar das fundações, a asset fechou recentemente um acordo de distribuição com a Venko. A distribuidora dos sócios Adolfo Alviço e Oswaldo Vasconcellos é especializada em produtos de gestão voltados para fundos de pensão.