A volta do Bozano | Grupo Bozano lidera a fusão de três assets – ...

 Regis Abreu, do BozanoRicardo Manela e PedroMacharoto, do BozanoTrês em umEdição 252

Quando foi vendido para o Santander no início do ano 2000, o antigo Banco Bozano, Simonsen, tinha uma posição de destaque no mercado de gestão de recursos de investidores institucionais. No final dos anos 90, mais especificamente em 1998, a asset ligada ao grupo chegou a R$ 4 bilhões de recursos sob gestão, volume expressivo na época, ocupando um lugar entre as quinze maiores do segmento, segundo dados do segundo ranking Top Asset. Cerca da metade dos recursos era proveniente de fundos de pensão. Agora, o grupo do empresário Júlio Bozano volta ao mercado ao liderar a fusão de três assets: a Mercatto Gestão de Recursos, a BR Investimentos e a Trapezus.
O objetivo da fusão das três gestoras foi oferecer um leque amplo de produtos e estratégias de gestão para terceiros. A Mercatto tinha especialização em renda variável, crédito privado e Real Estate. Já a BR Investimentos tinha o foco em fundos de participações (private equity), com investimentos nos setores de educação e serviços. Por último, a Trapezus concentrava expertise em fundos líquidos com a utilização de métodos quantitativos. “A ideia é oferecer uma plataforma completa de produtos para os institucionais, que fazem parte do DNA do grupo desde o trabalho realizado no antigo Bozano, Simonsen”, diz Régis Abreu, diretor de gestão da Bozano Investimentos.
Como antecedente do negócio, o grupo Bozano havia adquirido no final do ano passado 33% de participação na Mercatto – asset também focada em fundos de pensão, com R$ 2,3 bilhões de recursos sob gestão, dos quais pouco mais de R$ 800 milhões provenientes de fundações. A família Bozano já possuía participação na Trapezus – atualmente com R$ 140 milhões de recursos sob gestão –, pois havia aportado recursos do tipo “seed money” para impulsionar a empresa. Nas três assets, o empresário Júlio Bozano também aportava recursos como investidor. Sua participação na Bozano Investimentos é de 30% do capital, enquanto os demais sócios executivos detêm 70% do negócio. A soma das participações dos sócios executivos é majoritária, porém o maior sócio individual da nova asset é Júlio Bozano.
A BR Investimentos é uma asset fundada pelo economista Paulo Guedes (ex-Unibanco e ex-Pactual) que atualmente faz a gestão de cerca de R$ 1 bilhão em recursos em fundos de participações. As principais participações de seus fundos são na Abril Educação, Anima Educação, Estapar, Hortifruti, entre outras. Próximo de 100% dos recursos geridos pela asset são provenientes de clientes institucionais. Das três assets, apenas a Trapezus não contava com a participação de fundos de pensão como cotistas de seus fundos.

Cláusula de 10 anos – Uma pergunta inevitável é porque o grupo Bozano ficou fora do mercado financeiro por um tempo tão longo. “Um dos motivos é que existia uma cláusula do contrato de venda para o Santander que impedia a volta do grupo Bozano ao mercado financeiro antes de 10 anos”, explica Régis Abreu. Passados 13 anos da venda, o tempo excedente é explicado pela demora necessária em encontrar os parceiros adequados. “Não se planejava um retorno modesto. Demorou um pouco para encontrar as assets corretas para oferecer opções competitivas”, diz Abreu.
Vários integrantes da equipe do antigo Bozano, Simonsen, fazem parte da atual formação da nova asset. O próprio Régis Abreu é um dos profissionais que estavam no quadro do antigo banco, junto com Luís Lobato e José Armando Nogueira, e que estão na Bozano Investimentos. O motivo é que eles já estavam na Mercatto e agora continuam na nova gestora. Na época da venda do banco no ano 2000, alguns deles como Régis Abreu foram para o Santander, junto com Gustavo Marini – que depois fundou outra asset, a Turim.
Os demais profissionais foram para outras empresas e bancos. Quando a Mercatto foi fundada por Nelson Assad, vários ex-integrantes do Bozano, Simonsen se reuniram novamente na asset. A Mercatto sempre teve uma proximidade estreita com o empresário Júlio Bozano, pois realizava o papel de gestão dos recursos da família (family office).
A direção executiva da nova asset fica por conta de Sérgio Eraldo Salles Pinto, que é um executivo bem próximo de Júlio Bozano. Ele também faz parte do conselho deliberativo junto com Nelson Assada, Celso Scaramuzza, Regis Abreu, Jaime Cardoso e Jonas Gomes.

Fundos de pensão – A nova gestora de recursos pretende herdar a proximidade do antigo Bozano, Simonsen na gestão de recursos para fundos de pensão. É que nos anos 90, o banco teve atuação importante no processo de privatização realizado pelo governo Fernando Henrique Cardoso. O banco atuou como assessor ou prestador de serviços em privatizações de empresas como a Vale, CSN e Embraer. Nesta última, o grupo Bozano possui participação e assento no conselho da empresa até hoje, ao lado de grandes fundações. “A história do banco é muito próxima das fundações, pois o próprio grupo atuava como uma espécie de investidor institucional no processo de privatização”, explica Abreu.
Como houve a reunião da equipe do antigo banco na Mercatto, e agora com a fusão com as outras duas assets, os executivos da Bozano Investimentos apostam que a asset pode voltar a ganhar espaço entre os institucionais. “O segmento de fundos de pensão é um de nossos principais focos. É importante ressaltar que não pretendemos voltar a atuar como banco”, diz Régis Abreu. Ele explica que agora o diferencial, além dos produtos já oferecidos pela Mercatto, é a junção com os produtos e expertises dos demais parceiros. O diretor acredita que a fusão das assets deve gerar uma sinergia na distribuição de produtos da nova asset.

Asset entra com expertise em métodos quantitativos

Das três assets que participaram da fusão para formar a Bozano Investimentos, a menor delas é a Trapezus. É também a única que não possui recursos de fundos de pensão. Por outro lado, a equipe da pequena asset pode fazer a diferença na estruturação de novos produtos, pois utiliza uma metodologia pouco usual no mercado brasileiro. “Desenvolvemos um sistema quantitativo próprio, baseado em um modelo de algorítmos”, explica Ricardo Manela, fundador da Trapezus e agora gestão da Bozano.
A asset foi fundada por ele e pelo amigo Pedro Macharoto em outubro de 2010. Eles começaram com um fundo, que é o único até hoje, com recursos proprietários de R$ 2 milhões. Na época, Manela estava voltando de Nova York onde tinha estudado e trabalhado na Icap. Macharoto tinha saído do Santander, quando decidiram apostar no novo negócio. Foi no início de 2012 que eles saíram à mercado para começar a captar recursos de terceiros. “Apresentamos o fundo para o Sérgio Eraldo que se entusiasmou com o produto”, diz Manela. O gestor dos recursos da família Bozano começou com uma aplicação de R$ 10 milhões, depois subiu para R$ 15 milhões. Antes do final do ano, já contava com R$ 50 milhões aplicados no fundo.
A experiência foi avaliada positivamente, tanto é que os sócios da asset foram convidados para participar da fusão para formar a nova gestora. Além dos dois gestores, outros quatro profissionais foram transferidos para a nova asset. “É um modelo novo para o mercado brasileiro, são poucas as assets que utilizam sistemas quantitativos”, diz Manela. O método desenvolvido pela Trapezus deve ser utilizado na elaboração de novos fundos líquidos de renda fixa e multimercados da Bozano.
No ano passado, uma outra asset com foco em modelos quantitativos, a Lótus Investimentos, foi adquirida pela Fator Administração de Recursos, conforme noticiado pela Revista Investidor Institucional. A equipe da Lótus, liderada por Marcos Paolozzi, também foi absorvida pela asset do Fator.