Edição 230
Inspirada em um modelo que já soma alguns bilhões de dólares em patrimônio no exterior, a unidade brasileira da HSBC Global Asset Management acaba de trazer para a renda fixa as premissas do investimento responsável. Desde fevereiro, a metodologia de análise de sustentabilidade desenvolvida pela própria instituição é utilizada por um fundo de renda variável, o HSBC FI Ações SRI. No fim de agosto, foi a vez de ser lançado um produto de renda fixa que segue os mesmos conceitos, o HSBC FI Renda Fixa Crédito Privado LP Performance SRI 20.
“Em 2006, quando se tornou signatário do PRI [Princípios para o Investimento Responsável], o HSBC deu início lá fora ao desenvolvimento de sua metodologia de análise de sustentabilidade. No ano seguinte, trouxemos para o Brasil essa metodologia, que veio sendo maturada até o início de 2011”, conta Cinthia Gaban, analista de Investimentos Responsáveis da HSBC Global Asset Management. Ela ressalva que o produto de renda variável foi aberto já há algum tempo. “O fundo tem um histórico maior porque, antes, ele era atrelado ao ISE [Índice de Sustentabilidade da BM&FBovespa]. Em fevereiro deste ano ocorreu a migração para a metodologia própria do HSBC de análise de sustentabilidade”, esclarece a analista. Cinthia afirma que, globalmente, o HSBC conta atualmente com US$ 6 bilhões em fundos de investimentos responsáveis, sendo que mais de 50% disso corresponde a fundos de renda fixa.
A ideia de lançar o fundo agora se deve a dois fatores: a maturação da metodologia de análise junto a um universo considerável de empresas avaliadas e ao momento de forte volatilidade da Bolsa, que acaba aumentando o interesse do investidor por produtos diferenciados de renda fixa. O HSBC Performance SRI 20 investe em Certificados de Depósito Bancário (CDBs), debêntures, Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (Fidcs), Letras Financeiras (LFs) e notas promissórias. O produto é destinado a investidores institucionais, mas Cinthia não descarta a elaboração de um fundo voltado para o varejo daqui a um tempo.
Critérios – Hoje, mais de 100 empresas já são avaliadas no País segundo o modelo do HSBC, que leva em conta critérios de governança corporativa, sociais e ambientais. Para a análise, são observadas questões de CRO – compliance, riscos e oportunidades. “Compliance abrange toda a adequação das companhias à legislação. Em riscos e oportunidades, vemos os pontos que podem ou não impactar o retorno financeiro das empresas no longo prazo”, explica Cinthia. Ela detalha que em termos de governança corporativa são verificadas questões como transparência, respeito aos minoritários, controles internos e ética. Na parte ambiental, são observados pontos como ecoeficiência, reciclagem, mudanças climáticas, biodiversidade e soluções ambientais que geram oportunidades capazes de trazer retornos financeiros. Já na parte social, são vistos conceitos como respeito à legislação trabalhista, saúde e segurança dos funcionários, direitos humanos, satisfação e qualidade de vida dos colaboradores, rotatividade, benefícios e impactos na comunidade do entorno. “Nas questões sociais e ambientais, vemos também se as empresas exigem comportamentos responsáveis de seus fornecedores”, completa Cinthia. Com base em todos esses critérios, chega-se a um rating de sustentabilidade para cada companhia.
A analista ressalta que, além da avaliação de sustentabilidade, as empresas sempre passam pelo filtro financeiro antes de fazerem parte das carteiras de investimento. “Os fundos têm o corte da sustentabilidade, mas a decisão final é sempre tomada com base na análise financeira. No caso da renda variável, dentro do universo de investimento o gestor faz o stock picking para selecionar as ações que têm um potencial maior de valorização”, sublinha. Na renda fixa, primeiro é feita uma análise de crédito (em que é estimada a capacidade da empresa de pagar a dívida); depois, vem o filtro da sustentabilidade; e por fim, o gestor seleciona os papéis que apresentam uma relação adequada entre risco e retorno. Uma diferença entre o produto de renda variável e o de renda fixa está no universo das empresas avaliadas, uma vez que no fundo de crédito privado também são contempladas companhias sem ações listadas na Bolsa.
“Nossa ideia é que, a partir da análise desses critérios ESG [Environmental, Social, Governance], seja possível identificar pontos que podem impactar as empresas tanto negativa quanto positivamente e que não seriam observados somente com base em uma avaliação financeira. Queremos chegar a uma análise mais profunda das companhias, o que contribui para tomadas de decisão mais eficientes”, avisa Cinthia. A HSBC Global Asset Management informou que, para a família de Fundos de Sustentabilidade, a análise de sustentabilidade garante o corte das empresas que não alcançarem a nota mínima no processo, além da exclusão dos setores de bebidas alcoólicas, tabaco e armamentos. No entanto, essa avaliação é feita em todas as empresas que fazem parte do portfólio de fundos de investimento da asset. A meta é que, até 2012, 150 companhias sejam analisadas nas questões ESG por meio da metodologia global desenvolvida pelo banco.