Edição 230
A fundação Odeprev está sentindo os reflexos positivos do crescimento econômico do País e de sua principal patrocinadora, o grupo Odebrecht. O aumento no número tanto de participantes quanto de patrocinadores contribui para ampliar rapidamente o patrimônio do fundo de pensão, que deve ultrapassar a casa de R$ 1 bilhão ainda em 2011. Levando em conta apenas os últimos 12 meses até julho deste ano, o número de participantes creceu 35%, alcançando o total de 13,2 mil entre ativos e assistidos, que estão distribuídos nos quadros das 147 patrocinadoras atuais da Odeprev.
Há basicamente dois motivos para a expansão acentuada da entidade de previdência. Um deles, mais óbvio, é o aumento das contratações de funcionários pelas companhias participantes da holding. “Com a expansão dos negócios da Odebrecht e das empresas pertencentes ao grupo, há um forte incremento da mão-de-obra, e uma parte dos novos funcionários decide aderir ao plano de aposentadoria complementar”, afirma Igor Moreira, diretor de investimentos da Odeprev. De três anos para cá, a elevação no número de participantes da fundação foi de 81%.
O grupo Odebrecht é considerado atualmente o quarto maior grupo privado do País, segundo ranking da revista Exame. Mais do que o destaque na colocação, impressiona o salto dado pela holding desde o ano passado, quando estava na sétima colocação. As empresas da Odebrecht que atuam no ramo de construção passaram da sétima para a segunda colocação na lista dos dez maiores empregadores de 2010, com 92,1 mil funcionários entre fixos e temporários. O número é 30% maior do que o do ano anterior. Considerando também as operações no exterior, todas as empresas do grupo contrataram juntas 51 mil pessoas ao longo de 2010, o que corresponde a uma média de 140 contratações por dia.
Outro motivo para novas adesões ao plano da Odeprev, constituído na modalidade de contribuição definida (CD), é o fortalecimento da cultura previdenciária entre os funcionários do grupo. “Os empregados estão cada vez mais conscientes da importância da previdência complementar, o que os leva a participar do plano de benefícios”, aponta Moreira. Ele acrescenta que tem contribuído para esse fortalecimento da consciência a maior transparência dos fundos de pensão, motivada também pelas maiores exigências por parte da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc).
Pelas regras que regem o sistema, as fundações são obrigadas a divulgar seus balanços e informações para seus participantes, o que vem incentivando uma maior participação no plano. Também todas as mudanças na previdência social, noticiadas pela mídia, acabam contribuindo para a conscientização do participante, na opinião do executivo. Além disso, os programas de educação previdenciária, que estão sendo iniciados agora nas fundações, prometem ampliar ainda mais a base de participantes das entidades.
Conglomerado – Apesar de todas as iniciativas que têm contribuído para o aumento de adesões, é claro que o fator propulsor preponderante para o crescimento da Odeprev é o desenvolvimento econômico de suas patrocinadoras. “Um dos principais destaques do grupo em 2010 e 2011 tem sido a expansão da Braskem, que está adquirindo diversas empresas no setor químico. Isso acaba colaborando para o crescimento do fundo de pensão”, explica Ivete Guimarães, diretora de benefícios da Odeprev. A Braskem ocupava o sexto lugar entre as dez empresas com maior receita líquida em 2010. Além disso, liderou o ranking das 100 maiores da região Norte-Nordeste. No segmento de química e petroquímica, ocupa a segunda colocação, a mesma do ano anterior.
Com a compra de empresas pelo grupo Odebrecht, o fundo de pensão chegou à marca de 147 patrocinadoras. Nos anos anteriores às aquisições feitas pela Braskem, o destaque tinha ficado para a atuação no setor de construção e de engenharia, que foi beneficiado pelo boom imobiliário no Brasil. Outro segmento que chama a atenção é o da construção relacionada à Copa do Mundo. A Odeprev, por exemplo, recebeu a adesão em agosto passado do Consórcio Maracanã Copa 2014. Trata-se de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) criada para realizar a reforma do estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, para a Copa do Mundo.
Assim como no caso do Maracanã, o grupo Odebrecht ficou responsável pela reforma ou construção de três outros estádios. São eles o da Fonte Nova, em Salvador, da Arena, em Recife, e o maior projeto de todos, que é a construção do Fielzão do Corinthians, em São Paulo. “Em geral, são oferecidos planos de aposentadoria complementar para todos os funcionários das novas empresas do grupo. Porém, como a adesão é voluntária, não são todos que resolvem aderir”, ressalva Ivete Guimarães.
Em relação aos consórcios criados para a Copa do Mundo de 2014, a diretora de benefícios não espera uma adesão muito alta, uma vez que a maior parte dos quadros não conta com rendimento acima do teto do INSS.
Os participantes do plano CD da Odeprev têm a opção de realizar o aporte de 1% a 12% do salário para o fundo, com a contribuição paritária das patrocinadoras. Além disso, têm a chance de realizar contribuições esporádicas quando ocorre a distribuição dos lucros e resultados (PLR) e o recebimento do 13º salário. A média dos aportes dos participantes da fundação gira em torno de 8% atualmente.
Além de por meio da adesão de novas patrocinadoras ao plano, a entrada de novos participantes no fundo de pensão acontece também com o aumento das contratações das empresas que já pertenciam ao grupo anteriormente. Como as contratações acontecem também para trabalho no exterior, as adesões estão abertas para os funcionários expatriados. O grupo conta com operações na África, Ásia, Oriente Médio e em todo o continente americano. E as contratações do conglomerado no Brasil também estão em elevação nos últimos anos, com o desenvolvimento da economia sobretudo em setores de forte atuação da Odebrecht. “Inúmeros sub-negócios estão se abrindo e o grupo vem crescendo aceleradamente, promovendo o crescimento das empresas que já existiam anteriormente”, aponta Igor Moreira.
R$ 1 bilhão – O executivo mostra que o aumento da massa de participantes também ajudou a elevar o volume de recursos da fundação.
Entre julho de 2008 e o mesmo mês de 2011, o patrimônio da Odeprev cresceu 97%, alcançando o montante de R$ 940 milhões. As projeções são de que os recursos devam ultrapassar a marca de R$ 1 bilhão antes do fim do ano, considerados novos aportes e o retorno das aplicações financeiras. Nos últimos meses até julho, o crescimento do patrimônio foi de 27,5%.
A gestão dos recursos da Odeprev passou por um processo de reformulação em abril de 2010. O próprio Igor Moreira foi contratado naquela época, que coincidiu com o deslocamento da estrutura de gestão de Salvador para São Paulo. Na Bahia, continua funcionando a estrutura de benefícios, mas a gestão e administração dos recursos migraram para a capital paulista. Antes, o comando do fundo de pensão ficava nas mãos de Paulo Tolentino, que agora permanece apenas no conselho deliberativo da entidade. No seu lugar, ficou o executivo Sérgio Brinckmann, que ocupa a presidência executiva da fundação.
Os veículos de gestão também atravessaram mudanças. Anteriormente, os recursos eram todos alocados em carteiras administradas terceirizadas entre quatro gestores externos. Agora, todos os investimentos da Odeprev estão alocados em cinco fundos exclusivos, divididos também em cinco gestores externos. “Saímos das carteiras administradas que aplicavam em fundos condominiais para formar os fundos exclusivos, que garantem maior governança para o gestor”, justifica o diretor de investimentos.
Moreira explica ainda que a mudança reflete um maior cuidado e um acompanhamento mais próximo dos investimentos por parte tanto das assets quanto da direção do fundo de pensão.
Houve também a concentração da administração fiduciária e da custódia com um administrador de recursos. O fundo de pensão continuou trabalhando com a consultoria externa da RiskOffice, mas acabou contratando um pacote mais completo de serviços de controle de risco e análise da performance dos gestores. “A gestão de riscos já existia anteriormente, mas passamos a buscar um maior controle dos mandatos dos gestores e dos fundos de investimentos. Estamos realizando uma gestão mais ativa dos recursos”, diz Igor Moreira. O profissional já tinha bastante familiaridade com as carteiras da Odeprev pois era o consultor da RiskOffice que acompanhava o fundo de pensão. Quando o fundo foi a mercado para selecionar um gestor, ele foi o escolhido para ocupar a vaga.
A gestão ficou mais ativa e a revisão dos mandatos dos gestores passou a considerar uma análise mais constante da conjuntura econômica. O controle de riscos passou a envolver, além dos riscos de crédito e mercado, também os operacionais e jurídicos. Apesar do perfil mais conservador das aplicações do fundo de pensão – com 94% do patrimônio em renda fixa e apenas 6% em ações –, a gestão vem se tornando mais ativa.