Edição 223
por Sidney Chameh, presidente da ABVCAP
Com cenário macroeconômico favorável, mercado receptivo às aberturas de capital ou IPOs (Initial Public Offering), histórico positivo de saídas e presença considerável de investidores internacionais no setor, a indústria brasileira de participações de longo prazo ou capital empreendedor, conhecida internacionalmente como private equity e venture capital, atingiu significância e caminha a passos firmes para a maturidade, trazendo inúmeros benefícios ao país. Essa indústria vem proporcionando alavancagem positiva da economia brasileira via criação de novos empregos, geração de renda e arrecadação de tributos. De fato, este conjunto é fomento direto ao crescimento sustentável de longo prazo e ao mercado de capitais, através do capital de investimento produtivo em empresas nacionais.
A indústria de private equity e venture capital superou em 2010 US$ 30 bilhões de capital comprometido para investimentos no Brasil, boa parte deste montante já alavanca nossa economia, na forma de investimento já realizado em empresas. O crescimento é marcante. Em 1994, inicio do Plano Real, praticamente não existia a modalidade de investimento de capital produtivo, já em 2004 o volume era de US$ 6 bilhões. Nos últimos cinco anos, o montante cresceu mais de cinco vezes, segundo estudo feito pelo Centro de Estudos de Private Equity e Venture Capital da FGV, em São Paulo. O valor absoluto de capital comprometido pode parecer elevado, mas em proporção do PIB é ainda muito baixo, pois representa ao final de 2010 cerca de 1% do Produto Nacional. Em economias mais desenvolvidas esse número fica em 3%, e nos BRICs a média é de 2%. Se analisarmos o capital investido, os números são ainda mais modestos, demonstrando clara chance de crescimento. No Brasil o número fica em 0,07% do PIB, enquanto que na Índia passa de 0,30%, e na China de 0,15%.
O setor brasileiro de private equity e venture capital vem ganhando a cada ano maior notoriedade e visibilidade. Com a estabilidade econômica e redução do risco país, o mercado brasileiro já é uma opção atrativa para os investidores de capital empreendedor. O Brasil apresenta uma conjuntura econômica positiva, tem economia sustentável e legislação estável, fazendo com que o ambiente de negócio seja favorável. Nos últimos anos, o ambiente de investimentos no país evoluiu imensamente, apresentando- se como alternativa viável para obter retornos diferenciados no longo prazo e diversificar investimentos.
Diante da crise financeira global, no momento em que o mundo se voltava aos países emergentes, em busca de retornos mais elevados, dentre as poucas economias que restaram como opção de crescimento, o Brasil foi um dos primeiros a se destacar, impulsionado pelo consumo interno, políticas de transferência de renda, solidez de suas instituições financeiras e a rápida recuperação de seu mercado de capitais.
Não obstante o bom momento, ainda não temos, contudo, céu de brigadeiro. Medidas adicionais fariam o bom momento ser ainda melhor, com destaque para necessidade de reforma da previdência social, ajuste fiscal do governo central, com redução de despesas, e consequentemente da carga tributária (ainda uma das maiores do mundo), o que favoreceria a redução dos juros. Há necessidade de diminuição da burocracia no que tange a abertura e fechamento de empresas e, principalmente, redução do custo de contratação de funcionários.
Mesmo sem ter a lição de casa completamente feita, o Brasil oferece grandes oportunidades de investimentos em vários segmentos, iniciando por setores de ponta como TI, biotecnologia, novos materiais, passando por segmentos onde existe clara vantagem competitiva, como energia renovável, mineração e petróleo de águas profundas, chegando-se a base com a infraestrutura, que isoladamente deve oferecer mais alternativas de investimentos, por conta dos eventos esportivos da Copa do Mundo em 2014, e dos Jogos Olímpicos em 2016. Não se pode deixar de citar que “a liga” de todo este ciclo de investimentos é o consumo interno e acesso a serviços básicos de moradia e consumo.
Destaca-se também a diversificação da base de investidores. Os fundos de pensão são responsáveis por 22% da alocação do capital comprometido, já os bancos contribuem com 10%, family office com 9%, e 7% são provenientes dos fundos de investimentos. Os veículos de investimento estão divididos em 28% para private equity, 23% para venture capital, 7% para PIPE (investimento privado em empresas abertas) e 3% Mezanino, segundo o GVcepe.
O Brasil apresenta uma base de investidores locais que engloba principalmente os fundos de pensão, que no País somam mais de 300. O patrimônio desses fundos passa dos R$ 500 bilhões e cresce rapidamente caminhando para atingir 20% do PIB nos próximos anos. Naturalmente ainda há muito espaço para aumentar a alocação desses recursos nos fundos de venture capital e private equity em suas carteiras. Atualmente, estima-se que os fundos de pensão brasileiros aloquem menos de 2% do patrimônio total nesta classe de ativos, enquanto que a média internacional é mais próxima de 7 a 8%. Outro desafio, além do aumento de alocação, é atrair os fundos de pensão menores para a classe de ativo, hoje tais fundos não têm alocação.
Também é notório o interesse crescente dos investidores estrangeiros para alocação de recursos no País. Entre os emergentes, o Brasil aparecia em quarto lugar na preferência de investidores anos atrás, e já subiu para o segundo, ficando somente atrás da China. Segundo dados da EMPEA – Emerging Markets Private Equity Association, o Brasil é o principal mercado de private equity na América Latina, sendo responsável por 80% do capital estrangeiro investido. O Brasil também fez sua parte em um convenio inédito firmado entre a ABVCAP e a APEX Brasil (Agencia Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos), que possibilitou um mapeamento do mercado de investidores institucionais estrangeiros com claro interesse em investir no Brasil, além da facilitação do contato desses investidores com gestores e empresas brasileiras.
Por todos esses fatores, a ABVCAP recebeu com satisfação a notícia sobre a redução do IOF de câmbio cobrado na entrada de recursos para aplicação em Fundos de Investimento em Participação (FIP) e os Fundos Mútuos de Investimento em Empresas Emergentes (FMIEE) de 6% para 2%. Quando do anúncio do aumento dessa alíquota, de 2% para 4%, e depois para 6%, a ABVCAP prontamente solicitou audiência ao Ministro da Fazenda, sendo atendida. Nesta audiência, houve chance de mostrar que o investimento de longo prazo não podia ser taxado como se fosse de curtíssimo prazo.
A Associação acredita que a taxação do capital de longo prazo afeta o equilíbrio econômico-financeiro dos fundos geridos por nossos associados, cujos investimentos são direcionados para a economia real, gerando renda, emprego e divisa fiscal para o País, promovendo o desenvolvimento sustentável via investimentos em setores estratégicos, em grande parte alinhados com a política de desenvolvimento produtivo do Governo Federal.
Também é importante ressaltar o acordo de cooperação mútua que a ABVCAP assinou com a Associação Britânica de Private Equity e Venture Capital (BVCA) a fim de aproximar as indústrias de capital empreendedor no Brasil e no Reino Unido. Através desse acordo, as Associações vão poder trabalhar em conjunto, estreitando relacionamento, fomentando a troca de melhores práticas e abrindo possibilidades de gestores realizarem co-investimentos e que investidores locais sejam convidados a explorar oportunidades no outro país.
A ABVCAP e a EMPEA (Associação de Private Equity dos Mercados Emergentes) trocaram títulos de associados com o objetivo recíproco de fornecer informações colhidas junto aos seus associados e compartilhar as melhores práticas.
A ABVCAP possui cerca de 160 membros que representam os principais players da indústria de private equity, venture capital e seed capital.
Recentemente criou-se a categoria de membro investidor, incluindo os maiores fundos de pensão brasileiros, agencias de inovação e bancos de fomento. Esta nova categoria uniu-se a já existente de membros efetivos, que congrega gestores nacionais e internacionais, e membros associados, que abriga prestadores de serviços, entre outros. A Associação trabalha para o crescimento do investimento de longo prazo no Brasil e, durante os seus 10 anos de trajetória, tem ajudado a promover as melhores práticas que estão alinhadas com os padrões da indústria internacional, e tem atuado como facilitador no relacionamento entre os integrantes da indústria de investimentos de longo prazo no Brasil.
Muito ainda precisa ser feito, porém, no Brasil de hoje, os empreendedores que desejam crescer com mais velocidade, consolidar mercado e implementar ou aprimorar governança corporativa em sua empresa, têm grande possibilidade de encontrar um sócio investidor que lhes propicie o crescimento desejado.
Capital Empreendedor: Uma alternativa viável, real e imediata.