Edição 220
A dificuldade de atingir a meta atuarial não é mais um receio, mas uma realidade que já vem complicando a vida dos fundos de pensão. De acordo com uma pesquisa recente da Mercer, as fundações que são clientes da consultoria obtiveram rentabilidade média global de 1,8% no acumulado de janeiro a junho de 2010. No mesmo período, o IGP-DI+6% ao ano ficou em 8,6%, e o INPC+6% ao ano, em 6,4%. A Mercer presta serviços para mais de 60 entidades fechadas de previdência complementar que somam um patrimônio total de aproximadamente R$ 26 bilhões.
François Racicot, líder da área de investimentos da Mercer, acrescenta que o resultado também é preocupante quando são analisados prazos mais longos. A pesquisa da consultoria mostra que, em 36 meses encerrados em junho deste ano, a rentabilidade global dos fundos de pensão clientes da Mercer foi de 34,3%, ficando abaixo tanto do IGP-DI+6% ao ano (43,7%) quanto do INPC+6% ao ano (40,5%). “Mesmo em períodos maiores as entidades não estão conseguindo atingir as metas. Isso já tem significado redução de superávit e aumento de déficit nos planos de Benefício Definido”, alerta Racicot.
Um dado que ajuda a compor esse cenário desfavorável é a performance que os gestores têm entregado aos fundos de pensão. A mesma pesquisa da Mercer mostra que o percentual de fundações que estão atingindo os benchmarks de seus mandatos deixa a desejar, principalmente no que se refere aos investimentos em renda variável. A consultoria faz um acompanhamento das aplicações das entidades de previdência que são suas clientes e cruza os resultados obtidos com o parâmetro a ser batido.
Desse cruzamento, sai um indicador chamado pela Mercer de taxa de sucesso – percentual de entidades que superaram o benchmark. No acumulado do ano até junho, só 32% das fundações conseguiram bater o parâmetro de rendimento na carteira global; na renda variável, a taxa de sucesso ficou em 33%; na renda fixa pós (CDI), a taxa foi de 80%; e na renda fixa com benchmark híbrido, em 70%. No período de 24 meses encerrado em junho de 2010, a taxa de sucesso para a carteira global ficou em 57%; na renda variável, em 77%; na renda fixa (CDI), em 86%; e na renda fixa (híbrido), em 70%.
“Assusta ver como está difícil superar o benchmark até no período de 24 meses”, diz Racicot. “Os gestores têm muita dificuldade na renda variável quando a Bolsa está caindo”, completa. Já na renda fixa, a conclusão é de que é mais fácil atingir o benchmark quando ele consiste apenas em CDI.
Os dados da pesquisa da Mercer mostram que, quando o parâmetro é híbrido – em geral composto por CDI e IMA-B –, o percentual de entidades que bateram suas expectativas de retorno é menor.
Diversificação – Diante de uma tendência de redução da taxa de juros e da constatação de que já está mais complicado atingir a meta atuarial, os fundos de pensão não terão outra saída a não ser partir para a diversificação dos investimentos. A afirmação de Racicot já é conhecida do mercado há algum tempo, mas vem com um adendo: não basta diversificar somente em direção às ações negociadas na Bolsa. “É preciso partir para investimentos em private equity, em fundos imobiliários, em hedge funds. As classes alternativas têm de ganhar espaço nas carteiras das entidades”, afirma o executivo. Racicot reforça que existem vários fundos que contam com estratégias descoladas de benchmarks e trabalham com metas de retorno absoluto. “É necessário buscar opções que possam agregar alfa”, aponta. Ele acrescenta, ainda, que os fundos de pensão precisam começar a pensar também sobre os investimentos no exterior – por enquanto, uma hipótese afastada pela maioria das entidades brasileiras de previdência complementar, incluindo as de maior patrimônio.