Mais crédito, imóveis e FIPs | Rentabilidade medida pela régua do...

Edição 217

 

A expectativa de um crescimento econômico sustentável no País, com queda das taxas de juros no longo prazo, já está levando as fundações a rever seus portfólios e adequar o mix de suas carteiras a um cenário em que só a renda fixa e o investimento em títulos públicos do governo não mais garantirão o atingimento das metas atuariais. Assim, entidades como Valia e Previ já buscam aumentar sua exposição a ativos como crédito privado, imóveis e renda variável, além de iniciar estudos sobre investimentos no exterior.
Segundo Maurício da Rocha Wanderley, diretor de investimentos e finanças da Valia, a fundação já vem com essa visão há alguns anos, acompanhando a contínua melhora do crédito no Brasil. “Esse é um processo que já vem acontecendo e a Valia está buscando posicionar o portfólio para capturar ganhos com essa categoria de ativos”, afirmou em seminário realizado por Investidor Institucional ao final de junho. Para ele, o crédito privado está oferecendo cupons atrativos, com boas taxas. “Porém, temos que olhar as oportunidades sob o ponto de vista da gestão de ativos e passivos, para não sofrer com volatilidade na carteira”, ressaltou.
A fundação, que administra uma carteira total de R$ 12,36 bilhões, acredita que logo a renda fixa não será mais suficiente para garantir a rentabilidade de 6% acima da inflação, por isso é necessário diversificar os investimentos. “A Selic era um porto seguro até 2009. Agora, projetando para o futuro, não será assim tão fácil”, disse Wanderley. Apesar disso, o diretor está confiante de que a entidade conseguirá manter a mesma meta. “Não vamos mais conseguir esses 6% apenas com a renda fixa, mas sim com outros ativos de renda variável e produtos estruturados”, apontou. Ainda segundo ele, em 2010 a meta será batida e, no longo prazo, será alcançada tomando mais riscos. “Nossos estudos mostram que ainda será possível atingir essa meta no futuro”, garantiu.
A idéia da Valia é configurar o portfólio de seu plano Benefício Definido (BD) de forma que os investimentos de curto prazo de renda fixa caiam dos atuais 8,1% para 4%, sendo substituídos por períodos de retorno maiores. Ainda na renda fixa, a meta é permanecer com os atuais 53% em títulos atrelados à inflação. Dessa forma, a entidade manterá um benchmark híbrido, composto em parte por indicadores IMA e em parte por CDI. Em maio, o patrimônio do plano BD da Valia somava R$ 9,13 bilhões.
Por outro lado, a renda variável, que hoje corresponde a 29,4% do total da alocação no plano BD, deve perder um pouco de espaço para produtos estruturados, como Fundos de Investimento em Participações (FIPs), e para investimentos no exterior, com ambas as classes chegando a um total de 5%, mas ainda sem um prazo definido. Com isso, a alocação em variável passaria a 20% do total. Em relação a investimentos no exterior, no entanto, o diretor avaliou que ainda há muitas oportunidades internamente. “O foco continua em investimentos domésticos, mas precisamos fazer o dever de casa e começar a estudar investimentos viáveis fora do País”, sinalizou.
Em imóveis, a meta é encerrar o ano com um investimento de 6% do patrimônio. Em um prazo maior, a exposição deve chegar ao limite de 8%. “Nossa ideia é investir em prédios corporativos, do tipo green building, com rating triple A. Em shoppings, a estratégia é diferente.
Aproveitamos oportunidades da crise e adquirimos 4,8% da BR Malls, por exemplo”, citou Wanderley.

Diversificação – A renda variável já corresponde à maior parcela do patrimônio do principal plano da Previ – o Plano 1–, chegando a 63,1%.
Com 31,2% na renda fixa, o restante dos recursos se divide entre imóveis (2,9%), operações com participantes (2,7%) e investimentos estruturados (0,2%). O Plano 1 possuía, ao final de março deste ano, um patrimônio de R$ 141,78 bilhões.
Já o Previ Futuro responde pela menor parte do patrimônio, com R$ 1,87 bilhão, segundo dados de março. Ao contrário do Plano 1, ele concentra boa parte de suas aplicações na renda fixa, certeira que responde por 51,46% do total, ante 36,3% da variável. Operações com participantes correspondem a 12,1% e investimentos estruturados, 0,04%.
Segundo o o gerente executivo de investimentos da fundação, Antonio Luiz Benevides, a visão da Previ para o futuro vai no sentido de dar um foco maior para aplicações em private equity, imóveis e produtos de renda fixa corporativa. “Em private equity, atualmente, temos 13 fundos, com R$ 800 milhões comprometidos e R$ 200 milhões já investidos, tanto no Plano 1 como no Previ Futuro”, detalhou. Ele lembrou que uma pergunta frequente em relação aos investimentos em private equity se refere ao tempo em que os recursos ficam “presos” nos fundos, para serem devolvidos e rentabilizados somente depois de alguns anos. Há quem ache que esse tipo de aplicação pode gerar injustiças por conta da saída de participantes do plano ao longo do tempo de vida do fundo de PE. “Pois eu inverto a pergunta: é justo com quem fica não aplicar em um produto bom, que pode trazer um belo retorno lá na frente?”, levantou Benevides.
Ele informou que a Previ tem cerca de R$ 4 bilhões investidos em imóveis, sendo que a meta é ampliar essa participação. “Só no ano passado, adquirimos quatro torres, em um total de R$ 600 milhões.” Já no crédito, a ideia é investir apenas em papéis de “primeiríssima linha”.
Benevides disse ainda que, ano após ano, a entidade é obrigada a vender parte de seus ativos de renda variável para poder pagar os benefícios do Plano 1. “Não conseguimos pagar R$ 6 bilhões em benefícios só com dividendos e renda de aluguel. Essa não é uma visão absurda, uma vez que temos mais de R$ 90 bilhões de alocação em renda variável.” Segundo ele, em 2007 foram vendidos R$ 5,5 bilhões em ações. Em 2008, o volume foi de R$ 1,2 bilhão e em 2009, de R$ 2,2 bilhões. “Esse ano também teremos que vender alguma coisa”, avisou.

Para bater a meta – No Banesprev, também há um início de mudança de portfólio. Segundo a gerente de investimentos Arlete de Araújo Nese, no fim de 2009 a fundação realizou um projeto de investimentos para os próximos cinco anos, já adaptado à Resolução número 3.792 do Conselho Monetário Nacional (CMN). Entre as alterações colocadas em prática ela destacou, na renda variável, a saída de uma base em ações de empresas com atuação no mercado de commodities para alocação em papéis ligados ao consumo interno, como construção civil, educação e saúde. “Com o rebalanceamento, já estamos conseguindo resultados superiores aos do Ibovespa e do IBrX”, disse. Ela informou ainda que o estudo de ALM realizado pela entidade já aponta para uma participação maior em private equity e imóveis, mas não ainda para investimentos no exterior.
No Metrus, o processo de revisão é constante, segundo Jorge Fujita, gerente de investimentos do fundo de pensão. “Já estamos nos dedicando a uma mudança no portfólio, com vista na queda futura da taxa de juros”, afirmou. Ele concorda que a taxa de juros real em queda vai dificultar o atingimento das metas atuariais pelos fundos de pensão.
Fujita apontou que, de olho na diversificação, o Metrus também está privilegiando operações de crédito privado na renda fixa. “Surgindo oportunidades, vamos aumentar aumentar nossa posição em títulos privados”, reforçou.
O diretor da PPS – Portfólio e Performance, Everaldo França, acredita que em um cenário futuro os investimentos estruturados serão importantes para que as fundações consigam alcançar suas metas atuariais. “Os FIPs são uma oportunidade importante para os fundos de pensão. O principal problema atualmente é que não há um longo histórico, mas a modalidade ainda vai crescer muito”, estimou. Em relação aos fundos multimercados, França disse que ainda “entregam muito beta e cobram uma taxa de administração alta para isso”. “Por isso, eles receberão capital dos fundos de pensão apenas quando merecerem”, afirmou. Para ele, as entidade querem comprar capacidade de gerar alfa, e não apenas fundos balanceados.