Perspectivas 2010 – Wilson Risolia Rodrigues

Edição 211

Em algum lugar do futuro nós veremos…

Em algum lugar do futuro saberemos dizer o quão previdentes fomos em relação à Bolsa de Valores. Em algum lugar do futuro conseguiremos convencer os ainda céticos da importância do Mercado de Capitais para o desenvolvimento do país. Em algum lugar do futuro riremos, todos, das “inúmeras” previsões equivocadas feitas por “inúmeros” especialistas, inclusive este que vos escreve.
Como não conhecemos o tal lugar do futuro, ficamos por aqui tentando apreciar os acontecimentos presentes e passados e, quem sabe, prever o rumo de um mercado tão complexo.
Para aqueles que insistem em feri-lo com medidas intervencionistas, fica a verdade dos fatos. O potencial da economia brasileira, per si, e o já conhecido vigor de retomada dispensam ações que possam inibir o desenvolvimento do mercado de capitais que é tão importante para a manutenção do produto e, por conseguinte, para a geração de emprego, renda e poupança.
Obviamente, as medidas anticíclicas foram e serão sempre fundamentais – até porque esta é a função do Estado. Não obstante, há que se considerar o limite das intervenções, por exemplo, para inibir o desenvolvimento do mercado por meio de uma “orientação fiscal seletiva”.
Neste caso, entende-se como “orientação fiscal seletiva” as intervenções do Estado visando tributar o capital estrangeiro e/ou outras formas de “desincentivar” o fluxo de capitais para a Bolsa ou, ainda, dar subsídios para um Setor em detrimento de outro.
Intervenções dessa natureza geram distorções no sentido de que podem premiar a ineficiência de determinados setores. Como melhores práticas, deveria sempre prevalecer o Princípio da Não-Interferência, exceto em situações extremas. No final de 2008 não conseguimos responder a uma infinidade de perguntas que se colocavam no ar. Estávamos, todos, atordoados pelos acontecimentos. O índice da Bolsa buscou o vale de 37 mil pontos, após ter alcançado mais de 70 mil. Comparando aquele momento com o atual, estamos falando de uma valorização de mais de 80%. Parece exagero, certo? Alguns dizem que sim. Dizem até que o mercado está sobrevalorizando o Brasil e, por conseguinte, suas empresas e seus ativos.
Bolha? Talvez exista. Mas só saberemos dizer, ao certo, em algum lugar do futuro. De concreto, resta-nos apreciar os fatos. Vejamos…
O nível de desemprego no Brasil mostra-se em queda (nos Estados Unidos, por exemplo, cresce). Emprego significa renda que, por sua vez, rebate no consumo, que afeta o nível de produção. Para produzir, faz-se necessário investir, portanto, as empresas demandarão recursos para reequipar ou aumentar as suas plantas. E onde buscar recursos? No Mercado de Capitais, via emissão de dívida ou ações. Simples assim.
Excetuando-se o crédito direcionado – ao qual tenho, particularmente, sérias restrições (até porque “segura” algo que pode e deve se desenvolver com maior intensidade) –, não existem outras formas de financiar a produção senão essas duas. E é aí que reside o problema da previsibilidade.
Para lançar um olhar sobre o futuro, faz-se mister considerar, por exemplo, que o Brasil se consolidou como menor prêmio de risco entre os países mais negociados. O risco Brasil está cerca de 19% abaixo do que era um dia antes da crise, em sua fase mais aguda. Também apresentou um mercado bem regulado, dando provas robustas do grau de sofisticação durante a crise, o que pode permitir segurança aos investidores externos.
Com a obtenção do grau de investimento, o Governo Central barateou o próprio custo de financiamento. O Setor Privado veio a reboque – até porque as empresas nacionais deram provas de robustez e capacidade de retomada (impulsionadas, sobretudo, pela demanda interna). As taxas de juros são declinantes e o fluxo de investimentos externo descortina esse pano de fundo… Um cenário verdadeiramente satisfatório.
Portanto, se temos pressão de consumo e abundância de liquidez, não temos por que contrair a demanda por recursos por parte das empresas.
Nesse contexto, é natural que o mercado de ações se aprecie; afinal, estaríamos vivenciando um ciclo virtuoso de renda, consumo, produção, renda… Mas, e o futuro? Não vou me esquivar de responder a essa pergunta tão singela, mas ao mesmo tempo tão complexa.
As empresas continuarão vivendo um boom de liquidez. É possível que o custo de financiamento de longo prazo se mantenha estável; todavia, sentirão os efeitos da pressão de demanda acentuada no curto prazo (o custo do capital de giro certamente subirá). Elas terão, no mercado de ações, uma importante fonte de financiamento de longo prazo, o que poderá reiniciar novos movimentos de abertura de capital.
Alguns setores merecerão atenção especial. A Indústria da Construção Civil é apenas um dos setores que buscarão outro patamar e, certamente, um andar superior.
Os bancos, pela importância na concessão de crédito, também fazem parte do universo de ações com bom potencial de retorno. Atualmente, as operações de crédito representam mais de 50% do PIB, com possibilidades reais de crescimento. Nos próximos anos poderemos alcançar o patamar de 100% (comum em outras economias, como, por exemplo, Estados Unidos e Índia).
A força da demanda interna também pressionará o Setor de Energia. Veremos, portanto, “boas luzes” no horizonte de longo prazo, notadamente nos setores que atenderão à demanda por bens duráveis e alimentação.
Os investidores, principalmente aqueles voltados para o longo prazo, devem manter suas posições, pois o país está num caminho sem volta.
Embora algumas medidas do Governo possam frear os movimentos espontâneos, o mercado será sempre soberano e acompanhará o fluxo de recursos/investimentos.
Faz-se necessário um parêntese para falar, ainda, dos investidores via Indústria de Fundos de Investimentos. O patrimônio da aludida indústria passava, no final de 2008, de R$ 1 trilhão, e alcançou R$ 1,4 trilhão no final do ano passado. As expectativas para 2010 são igualmente positivas.
Este parêntese é importante porque o estoque de renda variável nessa indústria alcança o equivalente a 10% do PL.
Como acreditamos na manutenção da retomada da produção, a originação de renda, poupança e consumo internos serão suficientes para demandar ainda mais lastro para a Indústria de Fundos de Investimentos e, assim, a parcela de renda variável também tende a crescer.
Como nem tudo são flores, em algum lugar do futuro iremos perceber o quão custoso foi para o Governo afrouxar o superávit primário. E, ainda, o quão custoso terá sido aumentar em demasia os gastos públicos.
Todo esse movimento otimista pode encontrar barreira para sua expansão.
Afinal, ressentiremos pela ausência de investimentos em infraestrutura que suporte tamanho vigor.
Os chamados créditos direcionados, embora tenham ajudado durante e depois da crise, restam como fomentadores da liquidez. Liquidez essa que manterá o consumo em níveis elevados e produzirá consequências sobre a taxa de juros de curto prazo. Com isso, o mercado de ações pode rever seus preços e se contrair no curto prazo. É o que espero para este ano.
Não causará espanto um movimento reverso da inflação e, como remédio de curto prazo, um aumento das taxas de juros, o que inibirá o fluxo de recursos para a Bolsa de Valores.
Enfim, em algum lugar do futuro veremos se este artigo tem fundamento (ou não). Para o meu consolo, muitos já erraram e continuarão errando.
Ficarei, portanto, com o ônus da dúvida, mas com o bônus de não ter recusado o desafio de escrever este artigo.

Wilson Risolia Rodrigues é diretor presidente do Rioprevidência