Transparência faz diferença

Edição 196

Itaú, Gerdau, Bradesco, Weg, Usiminas, Petrobras, Lojas Renner, Perdigão e CPFL foram apontadas em pesquisa como as empresas com melhor governança corporativa do mercado

A governança corporativa é um fator decisivo na hora de as fundações escolherem as ações nas quais irão investir, já que a transparência frente ao investidor traz menos risco e valoriza as empresas no longo prazo, segundo afirmam fundos de pensão, analistas de asset management e consultorias. Pesquisa realizada pela Investidor Institucional com 120 operadores de gestoras e fundos de pensão apontou as nove empresas consideradas mais transparentes pelo mercado: Itaú, Gerdau, Bradesco, Weg, Usiminas, Petrobrás, Lojas Renner, Perdigão e CPFL.
No País, a questão da governança corporativa passou a ter mais relevância entre as empresas e investidores a partir de 1995, quando foi criado o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Já a partir de 2007, o tema recebeu novo impulso depois da reforma da lei das sociedades anônimas.
A questão afeta diretamente as políticas de investimentos das fundações brasileiras. A falta de governança e de bom relacionamento com o investidor já foi motivo para o fundo multipatrocinado Serpros desistir de aplicar em determinadas empresas, lembra Armando de Almirante Frid, presidente e diretor de investimentos da fundação. “Também temos reclamado dessa questão em algumas das empresas nas quais investimos”, diz, sem citar nomes. Segundo ele, a transparência é importante na medida em que insere o investidor no contexto da empresa, de forma que ele possa antever acontecimentos e ter condições de se posicionar frente a eles. “Quem aplica não quer ter surpresas, nem positivas nem negativas”, endossa.
Estabilidade de regras, distribuição correta de dividendos e comunicação constante e de qualidade com o investidor são alguns elementos que fazem com que o acionista acredite nos fundamentos e no futuro da companhia e, para isso, é necessária uma comunicação ativa, diz Frid. “Essas questões se traduzem em perenidade. Os investidores institucionais não precisam de coisas imediatas, para movimentos rápidos, porque são investidores de longo prazo. Não temos confiança em investir em empresas muito fechadas”, salienta.
A governança corporativa é tida hoje como um fator que dará boas perspectivas de valorização no longo prazo às empresas que se adequarem aos novos padrões de relações com investidores. No curto prazo, porém, os benefícios em termos de rentabilidade não são tão perceptíveis. O desempenho do Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada (IGC) – criado em 2001 para medir o desempenho de uma carteira teórica composta por ações de empresas que apresentem bons níveis de governança – tem registrado desempenho pior que o Ibovespa no ano, segundo dados da bolsa paulista. Até 2 de outubro, o Ibovespa acumulava queda de 27,7% no ano, enquanto o IGC caía 34,8%. Para os analistas, porém, a valorização dessas ações é uma tendência que só será percebida nos próximos anos. “Boas práticas só garantem perenidade no longo prazo”, analisa Frid.
Todas as empresas listadas no ranking da Investidor Institucional podem ser consideradas transparentes, afirma Jurandir Mesquita, diretor de investimentos da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Nordeste do Brasil (Capef). A fundação conta com aplicações em ações de todas as companhias citadas, com exceção da Weg. “Temos facilidade de acesso e comunicação com essas companhias, até mesmo com o próprio diretor de RI (Relações com Investidores). Recebemos convites para visitar os escritórios”, endossa o diretor de investimentos.
Segundo Mesquita, existe um processo de construção de uma nova cultura de relacionamento com o acionista nas companhias brasileiras. “Mas já houve grandes avanços, o que traz benefícios ao mercado todo”, salienta.
Após a recente onda de ofertas iniciais de ações (IPOs, da sigla em inglês) no ano passado, diversas empresas tiveram obrigatoriamente de aprender a prestar contas aos acionistas. Para Mesquita, a questão da transparência se disseminará na medida em que o investidor se mantiver exigente.

Crescimento e acesso a crédito – Para Régis Abreu, diretor de gestão da Mercatto Gestão de Recursos, as empresas listadas no ranking são nomes com tradição no mercado, quase todos líderes no seu tipo de negócio. “Trata-se de tratar bem seu sócio. Com regras transparentes, empresas como Perdigão, Itaú, Bradesco e Gerdau vão além das fronteiras brasileiras. São reconhecidas fora do Brasil”, destaca. “Antes de comprar uma ação, o ponto número um levado em conta pelo investidor é saber de quem será sócio, depois vem questões como o crescimento da empresa”.
Abreu lembra o caso da Gerdau, que de uma pequena fábrica criada em 1901 em Porto Alegre passou a atingir prestígio mundial. “Hoje é uma das maiores siderúrgicas do mundo. Foram décadas de acertos em sua trajetória”. Segundo o analista, o pressuposto da renda variável é não saber quanto aquele ativo trará de retorno, e a transparência ajuda a limitar os riscos. “As empresas mais transparentes normalmente têm acesso a mais fontes de capitais”, o que ajuda no processo de expansão dos negócios. “Ser bem vista e respeitada dá passe livre a mais recursos no mercado”.
Sérgio Citeroni, sócio da consultoria Ernest & Young, explica que a comunicação com o investidor tem de ser feita de forma clara para que ele tenha capacidade de analisar melhor o risco da operação, o que as grandes empresas brasileiras vêm fazendo de forma satisfatória. “As informações não têm que ser somente completas, mas de qualidade”.
Segundo ele, a governança passa por todos os estágios de divulgação de dados, desde a publicação das demonstrações financeiras até o envio de fatos relevantes à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “É importante também discutir com os analistas as situações adversas e os fatos negativos que, quanto mais forem bem entendidos pelo investidor, melhor”.
Para ele, o mercado brasileiro passa por um processo de maturação no que se refere à governança corporativa. “Há várias empresas líderes dos seus segmentos que estão implementando bases bem sólidas. E há outros que estão num processo evolutivo. Nosso mercado de capitais é ainda jovem perante aos outros, mas tem aprendido várias lições e isso naturalmente leva algum tempo para amadurecer”.
Citeroni afirma que a governança não necessariamente deve refletir em rentabilidade das ações. “Uma empresa menos rentábil não deve ser menos transparente e vice-versa”, diz. Para ele, a transparência é algo que deve ser respeitado independentemente da situação financeira da empresa e de sua lucratividade. No que se refere a boatos de mercado que muitas vezes podem causar baixa dos preços dos papéis de determinada companhia, Citeroni declara que a melhor resposta, nestes casos, nem sempre é a mais rápida, e sim a de melhor qualidade e com maior número de dados possível. “É claro que a empresa não vai demorar muito para negar ou confirmar um rumor, mas não precisa fazer isso imediatamente se não tiver as informações necessárias para confrontar o boato”.
Segundo o executivo, o empresariado brasileiro de forma geral está se habituando a prestar contas aos acionistas, mesmo no caso de empresas familiares. Em relação às companhias que entraram na bolsa recentemente, ele diz que não se pode generalizar. “Cada uma está em um estágio diferente de adaptação”, conclui.