Sob nova direção… | Uma das principais consultorias de risc...

Edição 285

 

Não deu nem tempo do empresário Arthur Pinheiro Machado assumir a direção ou nomear novos diretores para a Risk Office. Passado menos de um mês do acordo em que sua empresa, a RO Participações, adquiriu o controle da consultoria do antigo dono, Marcos Jacobsen, o empresário passou o negócio para frente. Agora, quem comprou e assumiu de fato a direção da empresa foram os cinco sócios da Aditus Consultoria, Guilherme Benites, Leonardo Bortoloto, Nathan Batista, Mauricyo Sforcin e José Suaid. Os valores e termos dos negócios não foram divulgados.
Com a aquisição, a Aditus se projeta como uma das maiores consultorias do mercado financeiro do segmento de investidores institucionais. A Aditus já tinha cerca de 70 a 80 clientes fundos de pensão e agora, passa a deter uma carteira de cerca de 130 fundações. Além disso, recebe mais um grupo de clientes corporate, seguradoras e regimes próprios de previdência, que estavam na Risk Office, que se somam ao restante da carteira da Aditus, formada por family offices e outros investidores.
Os sócios da Aditus assumiram de imediato, a partir do início de setembro, a direção da empresa adquirida com o objetivo de evitar a perda de clientes. “Hoje mesmo começamos a conversar com os clientes da Risk Office. A rapidez é essencial para manter todos os clientes”, disse Guilherme Benites em entrevista exclusiva para a Investidor Institucional no próprio dia 1 de setembro às 8h30 da manhã, primeiro dia a frente da empresa adquirida.
Ironicamente, os compradores nasceram profissionalmente na própria Risk Office, onde atuaram até 2011, quando deixaram a empresa para fundar a Aditus. Eles eram remanescentes da época em que a consultoria era comandada por Marcelo Rabbat e Fernando Lovisotto, que venderam a empresa em 2007 para a canadense Algorithmics. Questionado se havia um sabor especial comprar uma empresa em que havia trabalhado antes, Benites desconversa. “Não tem nenhum revanchismo, o que vimos na aquisição foi uma oportunidade única de adquirir uma empresa com uma base complementar de clientes e sistemas”, disse. Ele explica que o mais importante foi a oportunidade de forte expansão da base de clientes, que era algo muito difícil de ser realizado pelo crescimento orgânico por se tratar de um mercado altamente consolidado.
Além dos clientes, o segundo ponto importante de ganho de sinergia é a incorporação de sistemas, tecnologias e processos. “A Risk Office tem uma área de sistemas bastante desenvolvida que pode se integrar ao nosso banco de dados. Essa integração vai permitir a ampliação do leque de serviços e produtos que poderemos oferecer ao mercado”, falou Benites. Ele acredita que o aumento do porte da empresa permitirá um ganho de capacidade para oferecer soluções mais completas para as organizações.
A integração de sistemas e processos deve durar pelo menos seis meses e deve ser concluído apenas no primeiro semestre de 2017. Mais rápida será a incorporação da estrutura física das duas empresas, que devem ficar na sede da Aditus, em São Paulo. O mesmo deve ocorrer com o nome das empresas, que ficará apenas com a denominação da Aditus. Ou seja, a marca Risk Office será descontinuada.
Benites descartou algumas versões que surgiram a respeito de o negócio ter sido feito com o objetivo de apoderar-se do caixa da empresa. O caixa ficou, segundo ele, com os antigos donos. “Nós pegamos a empresa com o caixa zerado”, explicou.

Sem tempo a perder – Ainda de acordo com ele, a Aditus assumiu a empresa imediatamente uma vez que os antigos diretores, Alberto Jacobsen, Gustavo Melo e outros, já tinham deixado a consultoria e apenas o quadro operacional mantinha as atividades. À esse quadro, de 50 profissionais no momento da aquisição, somaram-se os 40 funcionários e sócios da Aditus.
No início do ano, a Risk Office já tinha perdido seis profissionais, que deixaram a consultoria para montar a I9, uma concorrente no mesmo segmento. Então, não é por acaso que o pessoal da Aditus se apressou para assumir a direção e tomar contato com os clientes da Risk.
Ainda não foram definidos alguns pontos da atuação da consultoria adquirida. Um desses pontos de dúvida é o atendimento aos clientes regimes próprios de previdência. “Ainda não sabemos se vamos assumir o atendimento aos regimes próprios, estamos avaliando a viabilidade dessa carteira”, revelou Benites. A Aditus não tem histórico de atuação com os institutos de previdência estaduais e municipais.
O que está mais certo é que a Aditus não vai atuar no projeto de criação de uma nova bolsa de valores brasileira, que vem sendo desenvolvido por empresas ligadas a Arthur Pinheiro Machado (ver Box).

Novas áreas – O aumento do tamanho da consultoria, propiciado pela incorporação da Risk Office, permitirá à empresa a atuação em novos segmentos. A Aditus pretende atender, por exemplo, investidores estrangeiros que aplicam recursos no Brasil. “Seremos uma consultoria de maior porte e temos a pretensão de atender novos segmentos, como por exemplo, os estrangeiros que estão investindo cada vez mais em ativos no Brasil”, disse Benites.
Outra frente de atuação são os investidores domésticos que investem no exterior, que é uma área que a Aditus já vinha ensaiando a entrada. A ideia é reforçar a consultoria e serviço de informações referentes aos investimentos fora do país.
Benites acredita que o aumento do porte da empresa faz com que as questões regulatórias e exigências dos órgãos fiscalizadores sejam atendidas com menor esforço. Com isso, sobra mais energia para abrir novas frentes. O consultor acredita que o mercado estará cada vez mais desafiador para as consultorias de pequeno porte, que terão que atender exigências e cobrir custos cada vez maiores para sobreviver.
Outra vantagem da nova situação da consultoria é a possibilidade de oferecer soluções mais completas para os clientes. O fenômeno é visto também no mercado de consultorias atuariais, que vem passando por processo de reestruturação. Algumas empresas locais de menor porte foram incorporadas por grandes consultorias globais. São os casos da Gama Consultores Associados, de Antônio Fernando Gazzoni, que foi comprada pela Mercer e da Consult Mais, Miguel Leôncio Pereira, que foi adquirida pela corretora Lockton. O mesmo movimento deve afetar o segmento de consultorias de risco e de investimentos.
Segundo Benites, a Aditus não está em busca de associação com parceiros globais, mas também não descarta a idéia. “No momento não temos nada de concreto, mas isso pode fazer sentido no futuro”, disse Benites. A entrada de novo sócio, seja global ou local, não foi necessária para a concretização da compra da Risk Office. Os valores da aquisição não foram divulgados. Em todo caso, o pagamento será realizado com base no fluxo de receita da empresa em um período “não muito longo”, disse Benites sem dar mais detalhes.
Foco em fundos de pensão – Apesar da ideia de expansão para outros segmentos, a Aditus pretende manter o foco principal de atuação junto aos fundos de pensão. Se por um lado, o mercado de previdência fechada encontra-se estagnado nos últimos anos, por outro, continua sendo um grande mercado. “É verdade, tem crescido pouco, mas temos que prever outras formas de crescimento, por exemplo, com os fundos multipatrocinados e com a previdência aberta”, analisa Benites.
Além disso, por se tratar de um mercado amplo, o novo ciclo de corte dos juros deve produzir um retorno da necessidade de controle de risco e de diversificação. “Mesmo que o mercado de fundos de pensão não cresça, um pequeno movimento de corte dos juros produzirá novamente um movimento de sofisticação das estratégias de investimentos, a exemplo do que ocorreu em 2011 e 2012”, disse Benites. Com tudo isso, o consultor acredita que ainda tem muito espaço para crescer no segmento de investidores institucionais.

RO Participações mantém foco na Nova Bolsa

A RO Participações vendeu toda a parte de consultoria e a base de clientes da Risk Office para a Aditus, mas ficou com os sistemas relacionados ao projeto da nova Bolsa. “A RO Participações ficou com a parte tecnológica que poderá ser agregada ao projeto de estruturação da plataforma de clearing que foi transferido para a Americas Clearing System (ACS)”, disse Arthur Pinheiro Machado, através de comunicado.
Aliás a motivação para a venda da Risk Office foi justamente a manutençãdo do foco da RO Participações e das empresas ligadas à Machado na continuidade do projeto de criação de outra bolsa de valores que seria concorrente da BM&FBovespa. “A motivação para o negócio [de venda da Risk Office] se encontra no fato do acionista do grupo querer estar dedicado à implementação e aprovação dos negócios relativos à nova bolsa que se encontra em estágio avançado”, diz o comunicado.
Machado vinha travando uma disputa pelos ativos e pelo controle da Risk Office com Marcos Jacobsen. A RO Participações tinha captado R$ 72 milhões em debêntures para investir no projeto. A captação foi realizada com recursos do fundo de pensão Postalis. A maior parte deste montante, cerca de R$ 60 milhões, foi investida para a capitalização da Risk Office, que era a parceira da RO no projeto. Porém, Machado e Jacobsen se desentenderam e começaram um litígio que foi parar em uma câmara de arbitragem. Os termos do acordo e o negócio de mudança de controle da Risk Office não foram divulgados.
O que se sabe é que a Risk Office ainda tinha um montante de R$ 35 milhões em caixa, segundo balanço de 2015, proveniente da capitalização para o projeto da nova Bolsa. A RO Participações informou ainda que quitou as debêntures que foram adquiridas pelo Postalis no primeiro semestre de 2015.