Queda em ações da Towers | Negócio de fusão com o Willis Group de...

Edição 273

 

Investidores da Towers Watson não encararam com tanto otimismo a fusão do Willis Group, que resultou na criação da Willis Towers Watson, empresa que possui um valor de mercado combinado avaliado em US$ 18 bilhões. O negócio foi anunciado oficialmente como uma “fusão entre iguais”, mas não foi esse o entendimento do mercado. No dia em que a transação foi anunciada, as ações da Towers Watson tiveram queda de 8,8%.
O problema para os investidores é que a Willis, que tem menor capitalização de mercado que a Towers Watson, saiu ganhando na transação. A partir da fusão, a Willis ficará com 50,1% da nova companhia, enquanto a Towers deterá 49,9%. Questionado por analistas sobre como as bases da transação foram estabelecidas, o diretor financeiro da Towers Watson, Roger Millay, disse à Forbes que as companhias iniciaram suas negociações em abril, quando suas capitalizações de mercado eram praticamente as mesmas.
Devido ao controle acionário, a Willis ainda ficou com o posto de chairman (presidente do conselho) que será ocupado por James McCann. O executivo já era o chairman do Willis Group e passa a ocupar o posto mais importante da nova companhia. Coube à Towers indicar John Haley como diretor executivo da nova empresa. A Willis ainda terá o posto de vice-diretor executivo, que será ocupado por Dominic Casserley. Roger Millay, diretor financeiro da Towers, se manterá no cargo na nova companhia.
Para os investidores da Towers, o pacote de ações e o dividendo especial a ser distribuído com a transação, totalizados no valor de US$ 125,13 por ação, é um montante bem abaixo do valor do dia anterior ao negócio. A avaliação era de US$ 137,89 pelo pacote de ação mais dividendos da Towers Watson antes da fusão das empresas.
Por outro lado, com a transação, os investidores vão compartilhar uma poupança fiscal combinada de 20%. De acordo com as publicações, isso beneficia principalmente os acionistas da Towers Watson, já que a empresa registrou uma taxa de imposto média de 32% nos últimos três anos, contra 23% da Willis. A combinação entre as duas gerará uma economia para todos os acionistas.

Expansão – Os executivos de ambas as companhia perceberam a oportunidade de expandir seus negócios a partir da plataforma da Towers Watson de planos de saúde One Exchange. A Willis já havia adquirido o sistema para vendê-lo para seus clientes, o que pode ter levado as empresas a iniciarem as conversas sobre a fusão. Com a combinação das duas empresas, é criado um serviço que conta com 39 mil funcionários espalhados em 120 países. A receita projetada da Willis Towers Watson será de US$ 8,2 bilhões e seu lucro de US$ 1,7 bilhão por ano.
A combinação das companhias gerará no futuro uma diversificação à base da Willis para além do mercado de seguro e resseguros, além de dar à Towers Watson maior acesso a uma rede global de distribuição. Além disso, a negociação deve gerar corte de custos entre US$ 100 milhões e US$ 125 milhões anualmente, sem contar os benefícios fiscais. Ainda assim, os investidores da Towers Watson não ficaram animados com as estimativas.
Segundo o diretor executivo da companhia, John Haley, disse ao The Wall Street Journal, de fato as estimativas podem estar um pouco baixas, mas “é melhor superá-las do que ficar abaixo delas”. O executivo disse ainda que a rede das duas empresas alavancará o crescimento orgânico da companhia tanto no mercado doméstico quanto no internacional.

Corretagem de seguros – Com a transação, a Towers Watson passa a contar com um braço forte de corretagem de seguros para grandes companhias, que é o foco do Willis Group, inclusive no Brasil. Desta forma, a Towers segue o caminho trilhado pelas principais concorrentes na área de benefícios, a Mercer e a Hewitt. A primeira é controlada pelo grupo MMC, que também controla uma corretora de seguros, a Marsh. Já a Hewitt possui associação com a corretora AON, formando a empresa AON Hewitt.

Empresas terão que definir destino de áreas concorrentes no Brasil

A Towers Watson e o Willis Group terão que definir o modelo de atuação e reestruturação para as duas empresas no Brasil. A principal questão é traçar o destino para áreas concorrentes das duas companhias, como por exemplo, a atuação na corretagem de seguros. A Willis tem o foco principal como corretora de seguros no mercado brasileiro e a Towers Watson também possui atuação nesta área no país. A Towers atua através de uma corretora própria no mercado brasileiro desde 2010. Na área de saúde e vida em grupo, as duas empresas também são concorrentes no segmento corporativo.
Com dois escritório no Brasil, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro, a Towers Watson é uma das principais consultorias globais de benefícios, talentos e remuneração que atuam no Brasil. Suas principais concorrentes são a Mercer e a Aon Hewitt, com destaque para a concorrência acirrada com a primeira. Quando o assunto é aposentadoria (retirement) e fundos de pensão, as principais consultorias lembradas são mesmo a Towers e a Mercer, que oferecem soluções completas, atuarial, investimentos e administração de passivo, para fundos de pensão, principalmente para multinacionais do setor privado. Mas tanto Towers quanto Mercer também possuem clientes nacionais.
A Towers Watson tem entre 200 e 250 funcionários no Brasil, onde atua desde 1978. No mundo inteiro, a consultoria global tem 16 mil funcionários e escritórios em 38 países. Além do mercado brasileiro, possui também escritórios em outros cinco capitais de diferentes países da América Latina: Buenos Aires (Argentina), Santiago (Chile), Cidade do México (México), Bogotá (Colômbia) e Montevidéu (Uruguai). Além da forte atuação com aposentadoria, a Towers também se destaca em consultoria de riscos e investimentos e fusões e aquisições de empresas. Outra área de atuação é talentos e remuneração.
No Brasil desde 1958, a Willis possui 2,2 mil clientes corporativos no país e mais de 500 funcionários. Sob o comando de José Otávio Sampaio, a Willis possui presença física em seis cidades do país, com escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e Volta Redonda.
A empresa divide seus segmentos de atuação em riscos corporativos, capital humano/benefícios e affinity. Esses segmentos representam 50%, 42% e 8% dos negócios da empresa, respectivamente. Carro-chefe da empresa, a área de riscos corporativos inclui diversas frentes, desde transporte e logística até sequestro, resgate e extorsão.
Já capital humano e benefícios inclui plano de saúde, plano odontológico, benefício farmácia, seguro de pessoas e previdência privada, enquanto affinity é responsável por estruturar e gerenciar uma gama de produtos e serviços massificados para diversos setores.
A Willis se destaca no mercado em termos de volume de negócios fechados na linha de seguros financeiros, com destaque em seguros de crédito, garantia, D&O e propriedade. Além disso, possui uma porcentagem grande de participação no mercado de seguros para portos e ferrovias, que são riscos que demandam atendimento personalizado. Nessa área, a empresa possui atuação mais forte como consultora de risco, e não apenas como corretora.
Procurada pela reportagem, a direção da Towers Watson no Brasil não quis se pronunciar. “Temos regras muito restritas que devem ser observadas para falar sobre a fusão enquanto tramita o processo de aprovação nas instâncias de acionistas e reguladores de mercado nos EUA e Europa. Terei a satisfação em contribuir com a Investidor [Institucional] quado tiver autorização da corporação”, disse Felinto Sernache, diretor geral da Towers Watson no Brasil, em resposta por e-mail.