Procuram-se consultores | Demanda dos fundos de pensão aquecem se...

MONDELLI: executivos alçam voo soloBENITES: fundos médios são os mais interessados

Edição 242

Para bater as metas atuariais em um cenário desafiador, os fundos de pensão têm aumentado a procura por consultores de investimentos. As consultorias comemoram o aumento da demanda de serviços, porém enfrentam dificuldades para atrair e reter profissionais de ponta. Vários consultores, que antes estavam nas principais empresas do segmento como Risk Office, PPS, Mercer e Luz Engenharia, deixaram as casas e aproveitaram para montar escritórios próprios ou migraram para instituições financeiras e até mesmo para fundos de pensão.

Nomes como Felipe Giorgi (ex-Mercer), Mário Amigo (ex-PPS), Viviane Werneck (ex-Luz) são alguns exemplos de consultores que deixaram seus postos recentemente em direção a outros lugares. Outras consultorias de maior porte como a Risk Office e a Aditus fazem planos para aumentar seus quadros de profissionais, mas ao que tudo indica, não está fácil para ampliar a equipe com a disputa pelos melhores talentos.

Há quase dois anos, a Risk Office teve que repensar seu organograma por conta da saída de alguns de seus sócios que deixaram a empresa para criar a concorrente Aditus. “Na época contratamos oito pessoas para suprir a ausência deles (antigos sócios). Tínhamos uma estrutura baseada em pessoas, mas agora estamos centralizando nossas atividades em processos, partindo de uma lógica institucional e não pessoal”, explica o diretor executivo da Risk Office, Gustavo Melo. Segundo ele, o investimento na qualificação da equipe tem sido constante para melhorar a retenção de profissionais. “Vários funcionários estão em programas de aperfeiçoamento, estamos pagando bolsas de estudo em MBAs, mestrado e doutorado, no Brasil e no exterior”, diz. Hoje, a equipe de investimentos da casa conta com 30 profissionais.

Ainda detentora do posto de maior consultoria do segmento, a empresa, que conta com 160 clientes institucionais, confirma o aquecimento do mercado. Apesar de não registrar aumento quantitativo do número de clientes, a casa vem verificando maior demanda por estudos de alocação de carteiras (reposicionamento e balanceamento), análise de risco de crédito e avaliações sobre garantias e governança de fundos estruturados.

“Neste momento, os investimentos imobiliários e os fundos de participações têm se destacado no interesse dos fundos de pensão”, afirma Melo. Por isso, o grupo tem procurado reforçar a equipe de investimentos com profissionais com experiência na área e está em fase de contratação de mais um analista sênior para atuar no segmento de crédito, além de outros dois profissionais para outros setores.

O responsável pela Mercer na Argentina, Brasil e Chile, Alberto Mondelli, também ratifica o aquecimento do serviço de consultoria de investimentos voltado para fundos de pensão. “Por causa das novas condições econômicas e da preocupação dos fundos de pensão em garantir um equilíbrio entre ativos e passivos, estamos registrando maior procura de serviços de nossa área de investimentos.”

De acordo com Mondelli, muitos executivos estão deixando grandes consultorias para abrir suas próprias empresas. “Eles sabem que mesmo que seus negócios fracassem poderão voltar ao mercado de trabalho sem dificuldades”, conta. Ele admite que a consultoria têm perdido profissionais, principalmente para o setor de investimentos das assets e bancos. É o caso do consultor de investimentos Felipe Giorgi, que deixou a Mercer e foi para o HSBC.

Estratégias sofisticadas – O diretor-presidente da PPS Portfólio Performance, Everaldo França detalha que registrou um aumento de 50% na procura por estratégias mais sofisticadas desde o final do ano passado e pondera que a queda dos juros tem se manifestado de maneiras variadas. “Até pouco tempo o jogo era outro, a demanda era restrita e a avaliação de performance não levava em conta a governança como forte instrumento de gestão”, diz.

Em função da mudança do ambiente econômico, a PPS contou ainda com um aumento da procura pelo serviço de seleção de novos gestores e da revisão de políticas de investimento mesmo antes do último semestre do ano, período em que a movimentação tende a ocorrer.
A consultoria tem contratado novos profissionais de nível júnior e pretende aumentar ainda mais a equipe até dezembro deste ano. A PPS também perdeu um de seus principais consultores, Mário Amigo, que também foi para o HSBC. Em compensação, contratou Alexandre Bravin, da UBBPrev (fundo de pensão do Itaú Unibanco – ver seção carreiras).

Nichos – O sócio da Aditus Consultoria Financeira, Guilherme Benites, tambem defende o aquecimento de serviços voltados para fundos de pensão. “Conforme o cenário foi mudando com o corte nos juros, a gente foi sentindo o aumento da demanda. Houve maior procura por análises qualitativas, seleção de produtos estruturados e diversificação na renda variável.”

Ele explica que as fundações estão procurando uma gestão diferenciada realizada por assets especializadas em nichos específicos. Porém, na análise e seleção dos gestores, acaba recorrendo cada vez mais para a figura do consultor.

Benites comenta que foram os fundos médios que manifestaram maior interesse por uma gestão mais estrategista. “As instituições maiores já trabalham com suas equipes internas e estão na vanguarda de mudanças, buscando sempre outras classes de ativos e estudos mais elaborados”, diz. Criada há um ano e meio, a Aditus atende 35 fundos de pensão. O grupo de sócios saiu da Risk Office para criar a nova consultoria.

Na Luz Engenharia Financeira, o diretor de clientes institucionais, Paul van Neerven, afirma que a consultoria contou com um salto qualitativo da demanda, o que por enquanto não ocasionou a contratação de novos consultores na empresa. “Reconhecemos o crescimento do interesse do setor como um movimento lógico do ambiente atual, nossos clientes têm buscado mais indicações de novos gestores, novas avaliações de risco, mas, principalmente, querem entender melhor como poderão alcançar suas metas atuariais”, afirma. Atualmente, a consultoria atende 25 fundos de pensão.

A Luz Engenharia perdeu uma de suas consultoras, Viviane Werneck, que foi para a fundo de pensão Petros e ainda não contratou ninguém para o lugar dela.

Consultor estrategista – Na Towers Watson, Evandro Oliveira, diz que houve aumento na procura de clientes de menor porte e que faziam um acompanhamento dos ativos de forma “caseira”. “Vejo este movimento como o início de um processo que tende a ficar muito mais profissionalizado”, diz. Oliveira conta que o número de empresas concorrentes na área cresceu, assim como a quantidade de consultores independentes, mas que a Towers não passou pela perda de profissionais.

Além da assessoria tradicional de monitoramento de carteiras, seleção de gestores, assessoria na elaboração da política de investimentos e análise de risco, os fundos de pensão estão mirando a figura de um consultor estrategista, perfil que o país ainda não oferece, segundo o executivo. “Não conheço nenhuma consultoria de grande porte que disponibilize esta opção”, afirma.

Ele explica que a partir do momento em que as consultorias recomendam carteiras específicas, elas passam a ter mais responsabilidade nos resultados daquela ação e, que por isso muitos ainda não estão neste negócio, pois não possuem governança protegida e preparada para assumir tal risco e desempenhar uma presença mais sofisticada junto às fundações.
Fora do país, além de indicar as melhores opções de mercado, muitos consultores também realizam o papel de gestor das ações. A Towers estuda a possibilidade de oferecer o novo serviço no Brasil.