Por trás da compra da Russell | Aumento da regulação do mercado d...

London Stock Exchange adquire Russell e fortalece negócio de índicesLuiz Mário de Farias, da Towers WatsonEdição 261

 

O mercado de benchmarks que são utilizados pela indústria de gestão de recursos, em produtos como os ETFs (Exchange Traded Funds) e outros tipos de fundos passivos ou ativos, está passando por um processo de reestruturação. O anúncio da aquisição da Russell Investments pelo London Stock Exchange Group (LSEG) é a principal amostra desse processo que deve afetar também as empresas menores. Especialistas apontam que a tendência de concentração de empresas é impulsionada pelo aumento da regulação do mercado de índices imposta pela Iosco – International Organization of Securities Commission – e demais autoridades regulatórias de cada país.

A tendência de maior regulação do mercado foi impulsionada após o surgimento de evidências de manipulação da taxa Libor. Em junho de 2010, foi revelado que o índice de empréstimos interbancários de instituições inglesas (uma espécie de CDI do mercado europeu) era manipulado, possivelmente desde o início da década de 90. A Iosco, que é uma associação que congrega as comissões de valores mobiliários de diversos países, começou a preparar uma série de propostas para regular o mercado de índices a partir do segundo semestre de 2012. Já no ano passado, foram realizadas uma série de orientações para normatizar a elaboração de índices nos principais mercados mundiais.
“O aumento da regulação está gerando crescimento nos custos na elaboração e manutenção dos índices. Por isso, várias empresas estão vendendo seus negócios de índices ou simplesmente saindo do mercado”, explica Fernando Lifsic, responsável pelo escritório da FTSE Rafi no Brasil. O executivo disse que não poderia comentar especificamente a aquisição da Russell pela LSEG, mas concordou em explicar o contexto de reestruturação do setor. Ele ainda lembra que o mercado de índices de renda fixa, que eram elaborados pelos principais bancos globais também passou por uma forte mudança. “É um modelo com claros conflitos de interesses, que não tinha regras claras”, diz Lifsic.
Nos últimos anos, grandes instituições como Goldman Sachs, J. P. Morgan, entre outras, estão saindo desse mercado. Em consequência, as empresas como S&P, MSCI e FTSE Rafi, que não estão ligadas aos bancos, estão ganhando cada vez maior espaço. E como os custos e as exigências regulatórias são maiores, essas empresas tendem a concentrar a maior parte do mercado, além de incorporar outras do setor. É o que aconteceu com a aquisição da Russell Investments pela LSEG.
A Russell é uma empresa com destacada atuação no mercado de elaboração de benchmarks. Seus índices são utilizados por carteiras que somam cerca de US$ 5,2 trilhões de ativos. Já os índices da FTSE Rafi (controlada pela LSEG) totalizam cerca de US$ 4 trilhões. Com a aquisição, a FTSE deve ultrapassar a marca de US$ 9 trilhões, ficando com a liderança do mercado de índices, à frente da MSCI e da S&P.
O mercado de índices é um negócio que a escala vem falando mais alto. “É um negócio de alto investimento com taxas baixas. A saída é o ganho com volume de escala, é semelhante com o que ocorreu com o mercado de custódia”, explica Luiz Mário de Farias, responsável da área de investimentos da Towers Watson. O consultor esclarece que assim como no negócio de custódia, o mercado de índices requer uma forte estrutura operacional e tecnológica e, por isso, é necessário ter grande escala para sobreviver. “É preciso investir pesado em tecnologia”, diz o consultor da Towers Watson.
O especialista enxerga o aumento da regulação do mercado como um processo natural e necessário que tem ganhado força depois da crise financeira mundial de 2008. “O volume de ativos sob gestão dos ETFs que seguem os índices vem crescendo rapidamente nos últimos anos. É importante que os agentes reguladores se preocupem com as práticas do mercado, principalmente, com os ETFs que possuem componentes de alavancagem”, diz Farias.
Compra da Russell – Diversos private equities e empresas financeiras, como o Blackstone, Bain Capital, Carlyle, entre outros, estavam disputando a aquisição da Russell nos últimos meses, mas foi o grupo LSEG que conseguiu arrematar o negócio por US$ 2,7 bilhões. O acordo foi fechado com a controladora da asset, a Northwestern Mutual e com o grupo de acionistas minoritários e a expectativa é o processo de incorporação que deve ser finalizado até o início de 2015. Além do negócio de índices, a Russell também atua como empresa de asset, com US$ 256 bilhões de ativos sob gestão e forte penetração no mercado de fundos de pensão e demais investidores institucionais, principalmente no mercado americano.
“A Russell tem atuação complementar à FTSE em termos de conhecimento de produtos e geograficamente”, disse Xavier Rolet, CEO da LSEG em uma conferência de imprensa. Len Brennan, presidente e CEO da Russell Investments, irá se juntar ao comitê executivo da LSEG após a conclusão do negócio.
A complementação geográfica é uma referência aos pontos de atuação das duas empresas. Enquanto a LSEG tem uma penetração maior no mercado europeu, a Russell tem destacada atuação na indústria americana de gestão de recursos. A London Stock vinha traçando planos para se enraizar no mercado americano nos últimos anos, e viu na aquisição da Russell uma oportunidade única para entrar com força na principal indústria do mercado global de gestão.
Além disso, a LSEG aproveita o negócio para ganhar espaço junto aos fundos de pensão americanos e canadenses, com quem a Russell é identificada como um dos principais provedores de serviços financeiros e de gestão de ativos. A empresa cresce ainda na gestão de fundos do tipo ETFs, que a Russell também possui destacada atuação no mercado americano. Um último segmento que a LSEG deve crescer ainda no mercado dos EUA é o de índices alternativos, também conhecidos como smart betas. É um tipo de produto que a Russell vinha se especializando e crescendo nos últimos anos, principalmente, depois da crise de 2008, quando os investidores institucionais e demais atores do mercado, vinham buscando benchmarks não tradicionais para orientar a gestão de seus recursos.
Foco nos índices – Os especialistas apontam que o principal interesse da LSEG pela Russell está focado no negócio de índices. Tanto é que o mercado já cogita a possibilidade que a London Stock Exchange deve vender a parte da asset e da consultoria da Russell para outro comprador. Segundo projeções do mercado, levantadas pela publicação americana Pensions and Investments, o preço das duas unidades a serem vendidas pode ficar entre US$ 700 milhões e US$ 1 bilhão.
Entre as possíveis compradoras estão a State Street, provedora internacional de serviços financeiros baseada em Boston; o Vanguard Group, gestora de investimentos da Pensilvânia; o Legal & General Group, provedora de serviços financeiro baseada em Londres; e o escritório de Londres da SEI Investments, provedora de serviços financeiro baseada na Pensilvânia.
Mercado brasileiro – A aquisição da Russell não deve trazer impacto direto para os negócios da LSEG no Brasil. É que a Russell Investments não possui atuação direta no mercado brasileiro. Uma das poucas referências da asset no Brasil é a parceria que mantém com a Jardim Botânico Investimentos (JBI). A Russell selecionou os fundos da JBI para alocar parte dos recursos de um de seus fundos de mercados emergentes.
Já a LSEG mantém um escritório da FTSE Rafi no Rio de Janeiro desde o início de 2013. Recentemente, a empresa fechou uma parceria com a Itaú Asset Management para fornecer índices alternativos, também conhecidos como smart betas, para dois fundos da gestora. O índices Brasil 50 e BDR 20 são os primeiros índices alternativos a ser utilizados por fundos do mercado brasileiro.
Existe a expectativa que os índices alternativos comecem a ganhar maior espaço na indústria de gestão de recursos no Brasil. Com isso, a FTSE Rafi se apresenta como um dos principais players. O outro concorrente direto é a MSCI Barra, uma empresa com foco em sistema de gestão de riscos para instituições financeiras, mas que também está fortalecendo sua atuação no segmento de índices do mercado brasileiro (ver matéria pág 55).