Do campo para os fundos | Prestes a completar dez anos em agosto,...

Edição 148

De olho no crescimento exponencial do agronegócio brasileiro, o Banco Santos lança, dentro de dois meses, o primeiro Fundo de Investimento Financeiro (FIF) com lastro em Cédulas de Produto Rural (CPR) direcionado a investidores institucionais. Criadas em 1994 para financiar a produção rural, as CPRs têm grande potencial de crescimento e podem, ainda este ano, ganhar um empurrãozinho do governo com a regulamentação do Certificado de Recebível do Agronegócio (CRA). O novo papel permitirá a securitização dos vários instrumentos de financiamento agrícola, como a CPR, o que estimulará o mercado secundário desses títulos.
Atento às condições de mercado, o FIF do Banco Santos – em fase de estruturação – já deve nascer com liquidez garantida: estuda-se que a retirada possa ser feita de 90 em 90 dias. Outro ponto de atratividade para os fundos será a sua remuneração de referência (benchmark) baseada no Certificado de Depósito Interbancário (CDI). “A rentabilidade deve ficar em torno de 108% a 110% do CDI”, diz o diretor de agronegócios da instituição, Moacir Teixeira.
O FIF do Banco Santos, que deverá se chamar Agro Institucional, agrupará as mais diversas CPRs originadas do agronegócio, como café, açúcar e soja, entre outros insumos. Para comporem o fundo, as Cédulas deverão receber rating A das agências classificadoras e trabalharem com demais instrumentos que garantam a mitigação do risco, como contratos com seguradoras. Ainda não está definido o valor mínimo de investimento. “Este é um grande mercado, ainda pouco explorado. O País tem clima, relevo, mão-de-obra, tudo. Só falta financiamento ao setor”, diz Teixeira.
O Banco Santos já tem um FIF lastreado em CPRs, porém voltado, basicamente, para profissionais liberais e para aqueles que têm um perfil investidor de moderado a agressivo. Neste fundo já existente só entram as CPRs de boi gordo e a retirada é feita apenas uma vez por ano, para que não haja possibilidade de um investidor entrar e sair durante a entressafra. Com aplicação mínima de R$ 50 mil, o Santos Pecuário FIF foi criado em fevereiro deste ano e tem 52,17% do seu patrimônio alocado em CPRs e o restante, em CDI. Desde então, ele acumula rentabilidade de 6,47%.
A Unibanco Asset Management (UAM) também estuda a possibilidade de criar um FIF lastreado em Cédulas de Produto Rural. “Várias assets estão estudando o assunto. O mercado está evoluindo e vai caminhar para atender os investidores institucionais, que têm horizonte de longo prazo e estão buscando outras fontes de investimento à medida que a meta Selic cai. Não dá para aplicar só em título público”, diz o diretor executivo da UAM, Paulo Vaz.

Aval do BB – Não é à toa que os bancos estão atentos a esse nicho. O agronegócio brasileiro responde por 33% do Produto Interno Bruto (PIB) e, em 2003, apresentou o maior saldo comercial agrícola do mundo: mais de US$ 25 bilhões. Por conta disso, o Banco do Brasil (BB), principal agente de CPRs do País, estima avalizar este ano cerca de 40 mil Cédulas no valor de R$ 3 bilhões – quase o dobro de todo o ano passado, quando o BB avalizou um total de R$ 1,53 bilhão em 30 mil CPRs. Até 20 de julho, o banco dava o seu aval para nada menos que 25 mil CPRs. O aval garante ao comprador a entrega do produto em até dez dias do vencimento da Cédula, se o vendedor não o fizer.
“Com o aumento da produtividade, da área plantada e dos preços, a tendência é de que esse mercado cresça. Até porque não há burocracia na CPR, cujo próprio produto é a garantia”, diz o gerente executivo de agronegócios do BB, Ives Fülber. O prazo médio da CPR é de 180 dias e o juro oscila em torno de 1,37% a 1,48% ao mês, com taxa de inadimplência inferior a 2%.
O BB optou por não criar um fundo formado majoritariamente por CPRs, como o do Banco Santos, mas a instituição costuma comprar parte das Cédulas avalizadas para colocar na carteira dos fundos da BB DTVM. As demais CPRs vão para o serviço de comércio eletrônico do banco, o Balcão de Agronegócios, onde podem ser adquiridas por todos os interessados, inclusive pessoas físicas. As CPRs do Banco do Brasil são registradas na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o que ajuda o Banco a realizar operações no mercado futuro já que elas são aceitas pela Bolsa como margem de garantia.

A economia rural
Instituída pela Lei 8.929/94, a CPR Física é um contrato a termo no qual o emitente (produtor rural, associações ou cooperativas do campo) se compromete a vender antecipadamente a sua produção agropecuária e se obriga a entregar o produto negociado na quantidade, qualidade, local e data estipulados. Em 2001, a Lei 10.200 criou a CPR Financeira, o que possibilitou a desobrigação da entrega física do produto e as liquidações passaram a ser feitas através de liquidação financeira. Calcula-se que, hoje, 70% da necessidade de capital de giro dos produtores é atendida via recursos próprios dos produtores ou por intermédio de tradings e CPRs, ao passo que o restante é suprido por meio de crédito rural oficial.