Vai uma ação aí? | Previ, desenquadrada no limite de exposição em...

Edição 150

Que os operadores e investidores do mercado acionário se preparem. Até o final do ano, o maior fundo de pensão da América Latina, a Previ, irá se desfazer de um montante entre R$ 100 milhões a R$ 250 milhões em ações na Bolsa de Valores. De janeiro a junho, a fundação de servidores do Banco do Brasil (BB) já realizou vendas líquidas de R$ 450 milhões neste mercado. Nada, entretanto, que a enquadre no limite de 50% de exposição em renda variável permitido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Hoje, a Previ aloca no setor 55,6% do seu patrimônio, de nada menos que R$ 60 bilhões.
Algumas empresas estão na mira da fundação. Cinco delas devem ser despachadas do seu portfólio neste ano – inteiramente ou em parte –, de um total de cerca de 50 companhias que formam o chamado grupo de Gestão Especial. Esse grupo combina ações com baixa liquidez e/ou fraca performance e é sob ele que a Previ tem se debruçado. O intuito, explica o diretor de investimentos da fundação Luiz Carlos Aguiar, é equacionar essas posições ou, então, buscar a porta de saída.
Se o problema é baixa liquidez, a Previ tem tentado pactuar a venda de parte de suas ações para ampliar a base de acionistas da empresa e, de quebra, ganhar com a valorização das ações. Essa tática foi usada com a Weg e com a Suzano Papel e Celulose e será, segundo Aguiar, adotada ainda este ano com a CPFL. A Suzano Petroquímica também pode seguir a mesma rota. E, embora Aguiar afirme que a operação está em análise, o vice-presidente executivo da Suzano, João Nogueira Batista, já conta com a venda de parte das ações da Previ.
Além dessas ofertas secundárias, o fundo de pensão do BB tem incentivado a contratação de Formadores de Mercado, os market makers. Porém, se a empresa não demonstra interesse no mercado, a solução tem sido torcer por um fechamento de capital, como ocorreu com a Bunge. Outra empresa que atravancava o balanço da Previ e que resolveu sair do mercado é a Electrolux. Essa, ao contrário da Bunge, tinha ainda fraca performance.
Como não dá para contar com o fechamento de capital de uma companhia, e tendo a Previ posições pouco modestas no mercado acionário, o jeito foi contratar um serviço terceirizado para dar fluxo aos papéis “problemáticos”. O Fator, o Bradesco Templeton, a Dynamo e a Investidor Profissional foram chamados pela Previ para fornecer esse suporte. Algumas decisões já foram tomadas pelo time: a Previ irá vender integralmente sua posição na Embratel (R$ 86 milhões) e se desfazer de parte das ações ordinárias da Embraer (R$ 50 milhões).
Quem pensa que Brasil Ferrovia e Paranapanema também estão nessa lista de corte, engana-se. Segundo Aguiar, a Previ optou por trocar a diretoria financeira de ambas empresas e tem buscado o alongamento de suas dívidas. Outra companhia que, por ora, deve seguir firme no portfólio da fundação é a Usiminas. Apesar do interesse do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em comprar as ações da siderúrgica, a Previ garante que não há ainda uma proposta formal. “Estamos contentes com a empresa e nossa posição não é de controle”, informa Aguiar.
Mais uma siderúrgica de peso no balanço da Previ que está na chamada zona cinzenta é a européia Arcelor, que controla a Acesita, a Belgo Mineira e a CST. Sérgio Rosa, presidente da Previ, confirmou que a companhia expôs um planejamento para criar uma holding, mas de uma maneira genérica. “A disposição foi manifestada apenas em tese. Podemos vender ou não dependendo do que nos apresentarem de fato”, diz Rosa.
Segundo ele, as vendas de empresas que a Previ detém participação serão feitas de acordo com a necessidade de pagamentos de benefícios e não há, a priori, nenhum setor do qual a fundação queira sair definitivamente. Aguiar, por sua vez, avalia que o critério para as vendas dessas companhias não é baseado no setor, mas sim na liquidez, na performance, nos dividendos e na governança corporativa da companhia. Ainda assim, avalia o diretor de investimentos, a Previ trabalha com uma exposição considerável em setores como mineração, elétricas e bebidas.
PPPs – Dada a sua elevada concentração em renda variável, a fundação encontra limitações até para entrar nos projetos de Parceira Público-Privada (PPP). “Nós temos uma ótima experiência em infra-estrutura. Tanto sobre o que fazer, como o sobre que não fazer, mas o nosso apetite é pequeno”, diz Aguiar, informando que a Previ aloca em torno de R$ 5,5 bilhões em infra-estrutura de um total de R$ 32,5 bilhões em renda variável – categoria em que, a princípio, entrariam as PPPs. Para o executivo, há espaço para outros fundos entrarem nesses projetos, desde que já comecem a se preparar.
Os recursos da Previ que forem saindo da renda variável devem migrar para a renda fixa, sobretudo para os papéis prefixados e para os corrigidos pela inflação. Segundo Aguiar, a fundação também está olhando com atenção para o mercado de risco corporativo, como os Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC) com lastro imobiliário, os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e as próprias debêntures.
No setor de imóveis, diz o diretor de investimentos, a Previ deve aumentar a participação em shopping centers, ao tempo em que seguirá vendendo os imóveis com valor inferior a R$ 3 milhões. No ano passado, a fundação vendeu 108 desses imóveis e, até meados de 2004, outros 45. A Previ já traçou um plano estratégico para os seus investimentos até 2020 e nele considera um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,5% a 3% ao ano.
A Revista Investidor Institucional ouviu os executivos acima no 6º Encontro de Conselheiros da Previ, realizado no início de setembro em Mata de São João (BA). O encontrou reuniu cerca de 250 conselheiros, que participaram de diversos painéis sobre temas que debateram desde governança corporativa, Lei de Falências, responsabilidade social, risco corporativo até reuniões setoriais de energia elétrica, telecomunicações, mineração, transportes, entre outros.
Andréa Cordioli – a repórter viajou a Mata do São João (BA) a convite da Previ

Vestibular para conselheiro
Não chega a ser concorrido como um vestibular de medicina, nem rentável como uma cadeira no Congresso, mas há que se suar a camisa para ser conselheiro de Administração ou Fiscal das empresas da Previ. Mais de mil candidatos disputam um dos 413 assentos, entre titulares e suplentes, que a Previ tem em companhias brasileiras.
E a remuneração é bem inferior a de todos os concursos públicos do País para nível superior. Os funcionários da ativa no BB que integram Conselhos da Previ recebem R$ 2.016. Para quem é remunerado pela empresa em um valor abaixo deste, a fundação completa a diferença. Para o conselheiro que ganha mais, há uma “doação compulsória” para a Fundação Banco do Brasil ou para uma instituição social idônea de escolha do conselheiro ou indicada pela empresa da qual ele participa.
O BB entende que o funcionário não pode receber mais do que os executivos do seu próprio Conselho de Administração – daí os R$ 2.016 representarem cerca de 10% dessa remuneração. Alguns conselheiros da Previ, entretanto, não são afeitos à idéia e já há quem guarde o documento no qual o BB condiciona o cargo à ‘doação compulsória’ para, futuramente, entrar com ação na Justiça – o que poderá causar um passivo para o banco e, eventualmente, para a própria Previ.
Para o diretor de Participações da fundação, Renato Chaves, a doação é comum em empresas privadas. “Muitas vezes, o empregado abre mão de 100% dessa remuneração, porque a empresa entende que a participação dele em um Conselho faz parte do trabalho. Ele já é remunerado para isso e, normalmente, muito bem remunerado”. Há outros casos, disse Chavez, em que a empresa faz questão de pagar o mínimo para minar o interesse do conselheiro na empresa. Se não fosse a complementação da Previ, alguns conselheiros receberiam menos do que dois salários mínimos por mês. “Isso ocorre normalmente em empresas problemáticas e o conselheiro pesa se vale dispor de tempo e ainda ter seu CPF em risco”.
A Previ tem 189 conselheiros aposentados, 63 na ativa, 18 externos (que não têm vínculo algum com o BB), 128 da própria Previ e 15 no chamado quadro suplementar. Por esses números, nota-se uma busca de profissionalização da fundação que, até algum tempo atrás, trabalhava com poucos conselheiros externos. A fundação tem assento em 104 empresas, das 160 de seu portfólio.