Edição 282
Na disputa pela liderança geral do mercado de custódia, os dois principais concorrentes do mercado financeiro nacional têm se alternado na primeira posição. No final de 2014, o Bradesco era o líder, seguido de perto pelo Itaú. Agora, o Itaú retomou a liderança ao atingir R$ 1,125 trilhão, segundo dados da Anbima referentes a março de 2016. O Bradesco não ficou muito distante, com R$ 1,080 trilhão e promete retomar a posição perdida, sobretudo após a incorporação do HSBC, prevista iniciar nos próximos meses. Na terceira posição aparece o Banco do Brasil, seguido pelo Citibank, que se destaca na custódia para o mercado externo.
Assim como seu concorrente direto, o Itaú teve uma ligeira queda no mercado externo de custódia, fechando com R$ 150,53 bilhões – em novembro de 2014 tinha R$ 170,52 bilhões. Porém, compensou a queda com o avanço no mercado doméstico, tendo atingido R$ 974,68 bilhões. Na soma dos dois mercados, o Itaú ficou a frente do Bradesco, apesar que este continua liderando o mercado doméstico (ver matéria pág 22). Já o Bradesco tem posição menor no mercado externo, com R$ 77,39 bilhões – situação que pode melhorar com a incorporação do HSBC.
As quedas tanto do Itaú quanto do Bradesco no mercado externo se devem principalmente à desvalorização das ADRs (recibos de empresas brasileiras listadas nas bolsas dos EUA) nos últimos dois anos. Não houve grandes movimentações neste mercado, porém, os investimentos sofreram desvalorização de mercado devido à crise da economia brasileira nos últimos meses. Além dos ADRs, outro segmento que movimenta o mercado externo são os investimentos realizados através da Resolução 4373, que são provenientes de estrangeiros que investem em ativos no Brasil. Neste segmento, as instituições brasileiras não são tão fortes quanto outros concorrentes globais, como por exemplo, o Citibank e o JP Morgan (ver matéria pág. 27).
O Santander aparece na quinta posição e, apesar de ainda continuar distante dos dois principais líderes do mercado de custódia, o banco vem fortalecendo sua atuação neste mercado. Após a venda do controle da empresa de securities services que atua na Espanha, México e Brasil para os fundos de private equity Warburg Pincus e Temasek, a área de serviços financeiros do Santander, que ainda ficou com 50% do negócio, ganhou voo próprio. Com novo comando no Brasil, do espanhol Joaquin Alfaro, o Santander pretende disputar uma fatia maior desse mercado com os concorrentes (ver matéria na pag. 22).
Novidades para o mercado externo – O Itaú não pretende ficar quieto quando o assunto é mercado externo. “Estamos reforçando nossa atuação através de uma plataforma regional, agora com cinco países da América Latina”, diz Ricardo Soares, diretor de securities services do Itaú. Com a incorporação do banco Corpbanca, o Itaú reforçou sua atuação no Chile, além de incluir um novo país na região, a Colômbia – completam os países de atuação na região o Peru e a Argentina.
Além disso, o Itaú está reforçando a atuação no mercado externo a partir de uma parceria com um custodiante global. “Estamos com uma nova parceria com um dos três maiores players de custódia global, cujo nome ainda não podemos revelar, para oferecer serviços financeiros nos mercados externos”, comenta Soares. Com a parceria, o Itaú passa a oferecer uma gama mais completa de serviços de custódia e controladoria para os clientes locais que pretendem abrir fundos offshore.
“O cliente local pode acessar com mais facilidade o mercado externo para abrir fundos offshore com todos os serviços necessários, como custódia e controladoria de passivos, compra de ativos, entre outros”, explica Lai Yen Ling, chefe comercial da área de securities services do Itaú e responsável pela custódia internacional. A executiva assumiu recentemente o comando de toda a área comercial de securities services do Itaú, que inclui custódia, controladoria e administração fiduciária, além de gestão de garantias e escrituração de ativos.
Com o fortalecimento da atuação no mercado externo, o Itaú pretende acompanhar o movimento de aumento de investimento no exterior. “O investidor brasileiro está começando a investir cada vez mais no exterior, mas ainda é um movimento tímido. Os fundos de pensão começaram esse movimento, mas em geral, os investidores locais devem acessar com maiores volumes os mercados internacionais quando ocorrer um novo ciclo de corte dos juros do mercado doméstico”, prevê Soares.
Crise na concorrência – No mercado doméstico, o Itaú conseguiu se beneficiar de problemas enfrentados por alguns de seus concorrentes locais. A crise que atingiu o BTG Pactual no final de 2015, devido ao envolvimento nas investigações da operação Lava Jato, provocou uma queda dos ativos custodiados e administrados pela instituição. A instituição comandada anteriormente por André Esteves chegou a contar com mais de R$ 100 bilhões em ativos custodiados no final de 2014. Em março de 2015, esse volume tinha caído para menos da metade – R$ 46,58 bilhões.
Outro concorrente direto do Itaú, o HSBC não passou por uma crise no Brasil, porém, sua operação foi afetada pela venda do controle para o Bradesco. Se não se pode dizer que o volume de ativos custodiados sofreu forte queda no HSBC, porém, é possível verificar que não houve crescimento no ano passado e início de 2016. Com isso, o Itaú buscou capturar uma parte dos clientes que anteriormente iriam para a carteira destes concorrentes. “Percebemos oportunidades importantes no final do ano passado e início de 2016 devido a problemas enfrentados pela concorrência. Nos últimos doze meses capturamos cerca de 34% do crescimento de todo o mercado de custódia”, diz o diretor do Itaú.
O executivo mostra que dos R$ 624 bilhões que entraram no mercado como um todo, R$ 210 bilhões foram capturados pelo Itaú. Soares se refere tanto aos novos recursos quanto à migração de carteiras de fundos que foram parar nas mãos do Itaú. Outra instituição que tem perdido algumas carteiras para os concorrentes é o BNY Mellon, que tinha enfrentado uma crise um pouco mais antigo, entre 2013 e 2014, envolvendo o conflito com o fundo de pensão dos Correios, o Postalis. Depois de mudar seu comando no Brasil, o BNY Mellon tem atuado com maior seletividade na prestação de serviços financeiros para assets independentes. Em todo o caso, os grandes bancos tem aproveitado o espaço para crescer e concentrar ainda mais a fatia do mercado não só de custódia, mas também de administração fiduciária.
O Itaú tem atuado no segmento de administração através de um empresa do grupo, a Intrag, voltada para oferecer esse serviço para gestoras independentes. A empresa já acumula R$ 108,76 bilhões em ativos sob administração, ocupando a sétima posição do mercado, um posto acima do BTG Pactual. No final de 2014, a Intrag ocupava apenas a décima posição deste mercado. Um fato importante é que o Itaú tem oferecido os serviços de administração junto com custódia e controladoria. Por isso, o crescimento em administração fiduciária também reflete no crescimento da custódia para o banco.
Seletividade – Apesar do crescimento do Itaú com migração de carteiras dos concorrentes, o banco tem atuado com seletividade tanto para receber tanto fundos já existentes quanto novos clientes. A postura é mais seletiva ainda quando se trata de produtos estruturados como FIDCs (direitos creditórios), FIPs (participações) e FIIs (imobiliários). O Itaú continua atuando com produtos estruturados, porém, tem utilizado um severo filtro de risco para analisar os clientes terceiros. “Olhamos para o cliente para verificar se estamos dispostos a aceitar o risco. Não capturamos todas as oportunidades”, diz Soares.
O Itaú realiza uma análise de risco mais criteriosa antes de aceitar um novo cliente de fora. “Verificamos quem é o gestor, se tem segregação de funções e áreas, se tem todas as qualificações necessárias. Somos bem seletivos no mercado de estruturados”, diz Stephan Krajcer, chefe da área de administração fiduciária do Itaú.
Investimentos em TI – Uma das prioridades do Itaú no ano passado foi aumentar os investimentos e aperfeiçoar a plataforma tecnológica das áreas de custódia e controladoria. Os investimentos foram necessários devido ao intenso processo de mudanças na regulação do mercado de fundos de investimentos e custódia produzidas pelos órgãos reguladores. Desde 2014, uma série de instruções da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) trouxe um conjunto de novas regras que mudaram o funcionamento da indústria de fundos no país.
“Começou com a instrução 542, que definiu um papel mais claro para o custodiante, depois veio a 555 que tratou do funcionamento dos fundos de investimento e dos investidores e finalmente, a 558, que regulou a participação de gestores e administradores, apenas para citar as principais regulamentações”, diz Krajcer. As novas instruções provocaram uma necessidade de adaptação dos serviços de cutódia e controladoria por parte das instituições que atuam nesse mercado. Atualmente os prestadores de serviços de custódia correm para se adaptar às mudanças definidas pela instrução 558, que redefinem os papeis do gestor, administrador e distribuidor de fundos de investimentos.
Atuação regional – Assim como tem feito o Itaú, o BNY Mellon tem fortalecido sua atuação regional na América Latina. O escritório no Brasil é o centro das operações do banco para a América do Sul, México e Caribe. A instituição aumentou o volume de ativos custodiados em comparação com o final de 2014. Agora, o BNY Mellon fechou com R$ 34,90 bilhões, na décima primeira posição. “Temos oferecido dois serviços principais ao mercado, a custódia qualificada e a carteira administrada”, diz Carlos Augusto Salamonde, CEO da área de asset servicing do BNY Mellon. O executivo explica que tem aumentado a demanda pelo serviço de custódia também para carteiras administradas a partir da entrada em vigência da instrução 555, que alterou o limite mínimo para R$ 10 milhões para os fundos exclusivos. Com isso, diversos investidores private e famílias decidiram migrar as aplicações para o veículo das carteiras.
O BNY Mellon continua com o foco também no segmento de custódia para fundos de pensão. Para isso, contratou Marcus Moraes (ex-Itaú) no início do ano para o relacionamento com clientes institucionais e fundações. “Temos procurado novas oportunidades no segmento de fundos de pensão tanto de empresas privadas quanto públicas. Temos também aumentado o relacionamento com clientes que já fazem parte de nossa carteira”, diz Carlos Salamonde.
Outro nicho explorado pelo BNY Mellon é o serviço de suporte para a distribuição realizada pelas assets independentes. O banco tem oferecido apoio na parte operacional para as gestoras que pretendem realizar a distribuição de seus produtos. “É um serviço novo que estamos oferecendo a partir das novidades da instrução 558, para as gestoras que querem se tornar distribuidoras, mas que preferem terceirizar a parte operacional”, diz Salamonde. O executivo acredita que é um nicho que deve crescer bastante nos próximos meses.