Edição 282
O rebaixamento do rating do Brasil, primeiro pela S&P, em setembro de 2015, seguida pela Fitch e pela Moody’s, gerou um fluxo de saída dos recursos de investidores estrangeiros do país. Com isso, os bancos que prestam o serviço de custódia local para investidores internacionais, através da Resolução 4373 (antiga 2689) como por exemplo o Citibank, líder do ranking, e o HSBC, sexto colocado, viram uma redução do volume de ativos custodiados. A custódia externa do Citibank caiu de R$ R$ 605,69 bilhões em novembro de 2014 para R$ 537,68 bilhões em março de 2016, segundo dados da Anbima.
A exceção ficou por conta do JP Morgan que registrou crescimento desde o final de 2014, quando contava com R$ 148,74 bilhões, e saltou para R$ 187,67 bilhões em março de 2016. Procurados pela reportagem, Citibank e JP Morgan preferiram não se pronunciar. Outro impacto no segmento ficou por conta da desvalorização dos ADRs (recibos de companhias brasileiras negociados nas bolsas dos EUA), que afetou o volume de ativos custodiados pelas grandes instituições domésticas. O Itaú viu os ativos de custódia externa caírem de R$ 170, 52 bilhões no final de 2014 para R$ 150,53 bilhões em março de 2016. Fenômeno parecido aconteceu também com o Bradesco.
O aumento do risco país que culminou com a perda do grau de investimento foi o fator de maior impacto no segmento de custódia externa. “Considerando o rebaixamento que o Brasil sofreu das agências de classificação de risco, houve uma preocupação do mercado nos últimos doze meses sobre uma diminuição da aplicação de ativos do investidor externo no Brasil, já que existe um problema de concentração máxima de alocações em mercados que não têm grau de investimento”, afirma Andrea Cattaneo, diretor responsável pela área de securities services do BNP Paribas no Brasil. O executivo explica que não houve uma saída em massa de recursos, mas que ocorreu uma redução do apetite do estrangeiro pelos ativos no país.
Já nos primeiros três meses de 2016 começou a ocorrer a reversão dessa tendência que predominou no ano passado. “O grau de investimento ainda não foi recuperado, mas os últimos movimentos políticos estão criando uma confiança maior nos investidores institucionais no exterior, especialmente nos alocadores de fundos de fundos”, pontua Cattaneo. Esses clientes, em geral assets management, comenta o especialista, estão tentando antecipar uma eventual tendência de recuperação do mercado brasileiro para os próximos meses. Os estrangeiros que tem retornado ao Brasil, acrescenta o diretor do BNP Paribas, têm olhado mais para a classe de renda variável do que para renda fixa. “A busca maior pela renda fixa de 2015 mudou para um interesse mais destacado pela renda variável por parte dos estrangeiros”.
David Rodrigues, diretor comercial da área de securities services do BNP Paribas no Brasil responsável pelo relacionamento com bancos e corretoras, nota que, em janeiro de 2016, o estoque de investimento estrangeiro em ações estava em R$ 392 bilhões, volume que saltou para R$ 517 bilhões em abril. “O BNP Paribas talvez tenha experimentado o maior crescimento entre os custodiantes brasileiros no que diz respeito aos ativos de investidores estrangeiros”. De abril de 2015 a abril de 2016 o banco teve um aumento de 64% em seus ativos custodiados de estrangeiros, segundo Rodrigues, por duas razões.
A primeira delas é o retorno de estrangeiros ao país, animados com eventuais melhorias na economia e no mercado por conta das mudanças ocorridas no ambiente político. “O segundo motivo, também importante, foi a saída ou diminuição da presença de bancos estrangeiros no Brasil. Na maioria das vezes o investidor estrangeiro procura uma outra bandeira internacional para custodiar seus ativos”, afirma Rodrigues, que cita a venda da unidade brasileira do HSBC para o Bradesco como exemplo de reestruturação que impactou o segmento.
“Conseguimos alguns mandatos globais expressivos no mercado brasileiro por conta do movimento de outros bancos estrangeiros que diminuíram o ritmo de expansão no mercado local”, pontua o diretor comercial do BNP Paribas. Entre os mandatos conquistados pelo banco, Rodrigues cita o do Royal Bank of Canada, que mantinha a custódia com o HSBC até o anúncio de sua venda no país. “Eles precisaram mudar de custodiante, e pelas diretrizes globais, selecionaram outro custodiante com placa internacional”.
Outro mandato recentemente obtido pelo BNP Paribas na área de securities services, mas que nesse caso estava com um banco brasileiro, foi o da asset da seguradora espanhola Mapfre. No mercado local, a crise do BTG Pactual ocorrida a partir de novembro de 2015 também rendeu frutos ao BNP Paribas. “O final do ano passado foi um momento bem animado do mercado, que nos abriram algumas janelas de oportunidade com clientes de terceiros”, afirma o executivo. Dois clientes oriundos do BTG Pactual passaram a ser atendidos em julho pela área de serviços financeiros do BNP Paribas.
Administração fiduciária – Além da custódia, a área de securities services do BNP Paribas também passou a oferecer desde o início de 2014 os serviços de administração fiduciária aos investidores. “Tomamos essa iniciativa dentro de uma estratégia comercial agressiva para entregar um serviço de qualidade no mercado brasileiro”, comenta Andrea Cattaneo. Com o novo serviço, a área de securities services, que antes fazia a prospecção junto a bancos e corretoras estrangeiros, passou a buscar novos clientes também entre gestoras e seguradoras.
A Mapfre foi um dos clientes que passou a utilizar a administração fiduciária do BNP Paribas, assim como a gestora de origem escocesa Aberdeen, e uma outra asset italiana que não pode ter o nome divulgado. Hoje o banco contabiliza cerca de 220 fundos sob sua administração.
Cattaneo destaca ainda que um outro possível nicho que tende a crescer dentro do segmento de serviços financeiros do banco é o de investidores locais com aplicações em ativos internacionais. “A implementação da Instrução número 555 da CVM abre a possibilidade de investidores locais alocarem fora do Brasil, o que deve ser uma tendência para o mercado para os próximos anos”.
Deutsche Bank – O Deutsche Bank anunciou em outubro do ano passado seu programa global ‘Strategy 2020’, que visa reduzir a estrutura global e os custos do banco, e envolve a diminuição das operações no Brasil. Essa redução, no entanto, não inclui a área de ‘investor services’ do banco alemão no país, responsável pela prestação de serviços de custódia para investidores domésticos e não residentes. “Até o momento, esta redução não tem trazido ruído entre os clientes da custódia”, explica a área de ‘investor services’ do Deutsche Bank, por meio de nota.
“O Investor Services é uma área de prestação de serviços para terceiros que continua sendo um dos pilares do Global Transaction Bank (GTB) no Brasil e globalmente”. Os profissionais da área de serviços financeiros do Deutsche Bank afirmam também que foi perceptível o reflexo do cenário político e econômico do país sob a ótica dos investidores não residentes atendidos pelo banco no ano passado. “Durante o ano de 2015 verificamos uma sensível redução das posições mantidas no Brasil, as quais se mantiveram estáveis nos primeiros meses de 2016, a partir de quando notamos uma redução do volume de transações”.
Os especialistas dizem ainda que investidores que já possuíam posições no Brasil, embora tenham reduzido sua alocação, continuam presentes. “Em contrapartida, não temos notado um volume significativo de abertura de novas contas”.