Edição 97
O HSBC entra firme na disputa pelo mercado brasileiro de custódia, planejando um crescimento de cerca de 50% nos volumes até o final do ano. Num almoço acontecido na última semana de abril, que reuniu cerca de duas dúzias de dirigentes de fundos de pensão, o responsável mundial pela área de ativos globais do HSBC, John Gubert, falou sobre as perspectivas desse novo negócio para o banco. Segundo ele, “o Brasil é um mercado promissor, o principal para nós na América do Sul”.
Gubert veio ao Brasil especialmente para conhecer a estratégia que o banco estava montando para conquistar as carteiras dos fundos de pensão, obrigados pela nova legislação de investimento a terceirizarem a custódia dos seus investimentos. É nessa obrigação que o HSBC, assim como um seleto grupo de grandes bancos que atuam no país, está vendo a oportunidade de dar um salto no ranking.
Hoje, o HSBC é o sexto do ranking de custódia da Anbid, com R$ 20,8 bilhões. O problema para o banco é que, desse total, apenas R$ 996,4 milhões são provenientes de terceiros. A maior parte, quase R$ 20 bilhões, são ativos que compõem a carteira dos produtos da própria instituição, como fundos, carteiras, seguros e previdência aberta.
Para Gubert, as novas regras vão colocar os fundos de pensão brasileiros em linha com o que acontece nos países mais desenvolvidos, embora neles não exista a exigência legal da contratação de um custodiante único. Porém, pelo volume significativo de investimentos dos investidores institucionais nesses países, inclusive fora de suas fronteiras, a figura do custodiante unificado tornou-se comum, uma vez que o controle das operações é bastante complexo. “Não conheço nenhum investidor que tenha mais do que um custodiante lá fora, não por obrigação, mas sim pela prática de mercado. Isso porque esse é um trabalho do qual depende a confiança dos participantes e patrocinadora, e um pequeno erro pode multiplicar-se infinitamente”, comenta.
Embora tenha uma posição modesta no Brasil, o HSBC custodia nada menos do que US$ 1,4 trilhão em todo o mundo. Com a experiência de quem responde por esse negócio internacional, Gubert disse aos seus comensais reunidos em torno de característicos pratos franceses, mas com diminutas porções, que na área de custódia ser o maior não significa necessariamente ser o melhor. Ao contrário, para ele, o melhor custodiante é aquele que não está no topo do ranking.
“Em quase todos os países, os maiores não conseguem oferecer a melhor qualidade de serviços”, diz ele, que coordena a atividade de custódia do HSBC em 72 países. “O custodiante pode desenvolver uma gama de serviços muito grande para o cliente, mas para isso é necessário um acompanhamento personalizado do cliente, para que os dois possam desenhar esses serviços”, acrescenta.
Ele explicou aos convidados que a custódia é um dos core business do HSBC. Embora já tivesse presença no Brasil há alguns anos, o banco só decidiu atacar o mercado de custódia agora, com a obrigatoriedade estabelecida pela nova resolução de investimentos para os fundos de pensão. Para isso, pesou o relacionamento que o CCF, adquirido no ano passado, mantém com os fundos de pensão. Gubert garante que haverá poucas mudanças no serviço de custódia que já vinha sendo feito pelo CCF.
Em termos de preços, ele acredita que o Brasil ficará dentro de uma média mundial de remuneração, mas evitou citar valores. Segundo ele, o preço dependerá dos volumes e da complexidade da regulamentação, assim como da diversificação da carteira de investimentos. “Um exemplo é a proibição para os investidores institucionais brasileiros de investir no exterior. Infelizmente essa proibição existe, do ponto de vista do investimento, mas do ponto de vista da custódia isso simplifica o serviço”, diz.
Outro ponto que baratearia este tipo de serviço no mercado local é o fato de a maioria das entidades ter uma parcela significativa dos seus recursos aplicados em renda fixa, cuja custódia é mais simples que o mercado de ações.
Mas, para ele, o preço não é o fator mais importante na escolha de um custodiante, e sim a qualidade dos serviços. “Só daqui a um ano é que os investidores se darão conta da quantidade de serviços que o custodiante global pode desenvolver para ele; é uma gama muito grande. E certamente o Brasil, que possui um mercado sofisticado, terá cada vez mais a necessidade de serviços especializados”.
BB vai custodiar para terceiros
O Banco do Brasil é outro peso pesado que está entrando na disputa pela custódia dos recursos das fundações. Para isso, acaba de criar uma área específica para prospecção e operacionalização da custódia para terceiros, que já começa com recursos da ordem de R$ 30 bilhões da Previ.
De acordo com o diretor da nova área, Vinícius Balbino Bouhid, o BB tem hoje R$ 112 bilhões, dos quais uma parte já corresponde a recursos que a Previ aplicava na empresa de asset e que agora estão migrando para a área segregada.
Assim, o BB, que não participava até então do ranking de custódia da Anbid, pretende estrear no próximo ranking já ameaçando a liderança do Itaú, que no total tem sob sua responsabilidade R$ 104 bilhões.
“Já temos alguns outros clientes fora a Previ, e acreditamos que a solidez do Banco do Brasil irá atrair muitos outros”, diz Bouhid.