Disputa entre os grandes | Bradesco ultrapassa R$ 1 trilhão e lid...

Edição 282

 

O mercado de custódia doméstica continua dominado pelas maiores instituições financeiras privadas do país. O destaque ficou para o Bradesco que superou a marca de R$ 1 trilhão em ativos de custódia do mercado interno, seguido de perto pelo Itaú (ver tabela), que ficou em segundo lugar. No ranking geral, porém, o Itaú mantém a liderança por causa da soma dos ativos do mercado doméstico com o externo (ver pág. 18). Outro destaque foi o crescimento do Santander que saiu de R$ 176,79 bilhões em novembro de 2014 para R$ 225,04 bilhões em março de 2016, segundo a Anbima.
Os bancos públicos mantiveram suas posições no ranking do mercado doméstico, com o Banco do Brasil na terceira posição, e a Caixa na quinta colocação. A principal mudança entre os dez maiores foi a queda do BTG Pactual da sétima posição, no final de 2014 para a nona colocação em março de 2016. A queda ocorreu, na verdade, entre o final de 2015 e início deste ano, após a crise que afetou a instituição devido às investigações da operação Lava Jato.
O Bradesco deve ganhar maior volume de ativos custodiados devido à aquisição do HSBC, voltando a disputar a liderança do ranking geral com o Itaú. “O ano de 2015 e o início de 2016 foram bem complicados para a economia brasileira, mas o Bradesco, como um grande player do segmento, tem conseguido manter suas posições. Não tivemos perda de patrimônio, apesar de termos passado por um período com muitos ajustes econômicos. Pelo contrário, até crescemos um pouco no ano passado, o que também tem ocorrido neste ano”, afirma André Bernardino, diretor de custódia do Bradesco, que encerrou março passado com R$ 1,003 trilhão em ativos sob custódia no mercado interno.
Uma perda sentida no ano passado no mercado de custódia na renda variável, acompanhando a própria queda de 13,3% do Ibovespa em 2015, foi compensada pelo fluxo de entradas em ativos de renda fixa, impulsionados pela elevada taxa de juros. “Não tivemos nenhum movimento brusco nem de entrada nem de saída. O ano passado foi um período em que andamos um pouco de lado”, comenta o executivo do Bradesco. Ele nota que, em momentos de recessão, com queda dos investimentos, os investidores preferem não realizar grandes movimentações de seus ativos. “Foi um ano difícil para o mercado de forma geral. A inadimplência afetou de maneira importante o cenário, e os bancos tiveram queda em seus resultados por conta da crise de crédito focada nos grandes grupos empresariais”, diz.
Entre o público fundo de pensão, Bernardino avalia que o período dos doze meses até março de 2016 também foi marcado mais pela manutenção do que por variações que mereçam algum destaque maior – o Bradesco encerrou com R$ 216,28 bilhões de entidades fechadas de previdência complementar, com folga em relação ao segundo colocado, o Itaú, que aparece com R$ 179,48 bilhões nesse nicho do mercado (ver tabela). “Fala-se muito do déficit da ordem de R$ 70 bilhões do sistema de fundos de pensão, e os gestores têm trabalhado na busca pela recomposição, mas diante da conjuntura do período, as posições foram mantidas”.

Mudanças – Pelos dados do ranking da Anbima, com a compra do HSBC pelo Bradesco, a posição somada preliminarmente das instituições financeiras no mercado doméstico de custódia vai alcançar R$ 1,079 trilhão. No ranking geral, o Bradesco deve somar R$ 1,197 trilhão com a incorporação do HSBC. As posições ainda não foram consolidadas pois a autorização do negócio ainda dependia da aprovação do Cade, que veio somente no início de junho e ainda deve levar alguns meses.
O diretor de custódia afirma também que a crise do BTG Pactual, deflagrada a partir de novembro de 2015, fez com que o Bradesco conquistasse alguns clientes. “Sempre que ocorrem eventos como o do ano passado com o BTG Pactual há um movimento de busca dos investidores por outras instituições financeiras”, ressalta Bernardino. “O Bradesco percebeu esse movimento, e algumas contas foram migradas”, acrescenta o executivo, que diz ainda que esse fluxo de clientes oriundos do BTG Pactual veio principalmente da base de wealth e asset management.
Já em relação ao Deutsche Bank, outro player relevante do mercado de custódia, que anunciou em outubro a redução de suas operações no país, Bernardino afirma que o Bradesco não sentiu uma migração dos clientes originários da instituição estrangeira (ver matéria pág. 27). “O Deutsche Bank já vinha em um movimento de redução há um bom tempo. Além disso, eles têm uma estrutura um pouco diferenciada, mais focada na parte de fundos de direitos creditórios. Nesse caso especificamente não percebemos movimento para o Bradesco”, comenta.
Santander Securities – O Santander Securities Services no Brasil anunciou em junho a chegada do executivo Joaquin Alfaro para comandar a área, segregada do resto do banco em dezembro de 2014 dentro de uma estratégia global do grupo espanhol de dar um foco específico para esse nicho do mercado. Alfaro, que está no Santander desde 1994, será o diretor-geral da área de securities services no país, e veio de Madri para substituir Danilo Christófaro Barbieri, que deixou a instituição para se tornar sócio da concorrente BRL Trust Investimentos.
“A área de securities services foi constituída com o intuito de dar maior foco na prestação de serviços ao mercado de capitais, e pensamos que a melhor forma de oferecer o serviço seria com uma instituição especializada, com recursos dedicados à área”, diz Alfaro. “Ao longo desses 18 meses, nossa principal preocupação foi manter os clientes atuais, e em paralelo temos feito muitos investimentos em tecnologia, com automação dos processos, e também em pessoas”. Quando a área de serviços financeiros foi segregada, o Santander vendeu o controle desse segmento para os fundos de private equity.
De acordo com os dados do executivo, desde a segregação da área de securities services, o banco cresceu 22% no segmento, contra um crescimento médio da indústria de 14,4%. Para Alfaro, o que proporcionou esse crescimento acima da média da indústria foi a estratégia de oferecer soluções personalizadas para cada perfil de clientes de maneira diferente. “Temos de nos adaptar às especificidades de cada cliente de maneira flexivel. Não pode ser um modelo para todos”, pondera o executivo da área de serviços financeiros do Santander no Brasil.
A mudança de comando na região, diz Alfaro, não altera em nada a estratégia do Santander na área de securities services em termos locais. “Do ponto de vista global do Santander Securities Services, o Brasil é o nosso segundo principal mercado”. Somadas as três principais posições do Santander no mercado global de custódia, que são Espanha, Brasil e México, o banco tem R$ 2,5 trilhões em ativos custodiados.

Novos clientes – Entre a base de clientes do Santander Securities Services no Brasil, Alfaro afirma que nos últimos meses houve um fluxo significativo de fundos estruturados de private equity. O executivo afirma ainda que o público de fundos de pensão e institutos de previdência passou a ser um dos principais focos da estratégia de crescimento no país desde a segregação da área. “Estamos aprimorando nossas capacidades operacionais e tecnológicas para focar mais nesse público institucional”, comenta Alfaro.
O Santander teve um crescimento da ordem de 20% entre as fundações e RPPS desde que a área de securities services foi separada. “Estamos aprimorando nosso conjunto de soluções para agregar valor ao dia a dia das fundações”. Hoje o banco atende quase vinte fundos de pensão por meio de sua área de serviços financeiros. “Sabemos que para atender as fundações é necessário um cuidado especial, com soluções diferenciadas para atender as exigências dos conselhos e da Previc. É preciso entender a rotina desse tipo de cliente, com relatórios especificos, onde o atendimento personalizado é muito importante”, afirma o diretor.
Além do crescimento entre os institucionais, Alfaro nota que o público estrangeiro, que em alguns casos já trabalha com o banco em outras regiões, é outro filão importante dentro da carteira no Brasil. “Nossa estratégia é ser o melhor provedor local dos serviços de custódia não só para os clientes domésticos mas também para os estrangeiros que queiram fazer investimentos no país”. O banco tem R$ 61,74 bilhões em ativos custodiados do mercado externo.
Crescimento entre os estruturados – A Instrução número 542 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que rege o segmento de custódia trouxe uma série de novas obrigações, com custos adicionais, às instituições que atuam neste mercado. Com isso, alguns bancos reduziram suas operações, em um movimento que ocorreu com maior intensidade no segmento de estruturados, no qual é necessário do custodiante uma especialidade voltada para essa classe de ativos. Os maiores beneficiários desse cenário foram algumas casas de médio e pequeno porte que voltaram seus esforços para atender a esse tipo estruturado de demanda do mercado.
“Alguns bancos grandes optaram por não fazer mais o serviço de custódia após a Instrução 542, o que abriu espaço para instituições médias entrarem no segmento”, avalia José Alexandre Freitas, sócio-diretor da Oliveira Trust. Desde a última edição do especial de custódia da Investidor Institucional, a Oliveira Trust mais do que dobrou os ativos sob custódia em sua carteira, e encerrou março com R$ 14,14 bilhões. “A nova instrução da CVM foi um dos motivos pelo qual aumentamos o percentual de participação desse segmento em nossas operações”.
Desde a criação da Oliveira Trust, há 25 anos, a casa sempre manteve o foco nos investimentos estruturados, comenta Freitas, o que ajudou na captação de novos recursos quando essa classe de ativo foi preterida por players de maior porte.
A dinâmica de acompanhamento de uma carteira de um FIDC é muito diferente da estrutura de controle de ativos de um fundo tradicional, pontua o diretor “Em um fundo tradicional, de ações ou renda fixa, os ativos são custodiados na Cetip ou alguma outra câmara de liquidação. Quando se fala de um FIDC, os ativos são duplicatas, e os direitos creditórios não tem necessariamente uma câmara para liquidação”. A Oliveira Trust tem atualmente R$ 8,89 bilhões em custódia para FIDCs (ver tabela).
Outras casas que vem crescendo no nicho de FIDCs são, por exemplo, o Banco Paulista, que possui R$ 6,14 bilhões em ativos no segmento, e o Banco Petra, com R$ 4,91 bilhões.