Câmbio bem comportado… | A redução do risco País, o aumento...

Edição 133

O câmbio, que chegou a valer perto dos R$ 4,00 por dólar no final do ano passado, em conseqüência principalmente das incertezas da eleição presidencial, vem caindo consistentemente desde que o candidato vitorioso, Luiz Inácio Lula da Silva, começou a anunciar o nome das pessoas que comporiam a sua equipe de governo e as diretrizes que adotaria na área econômica. De lá para cá, o câmbio desabou e chegou ao fim do mês de março abaixo da marca de R$ 3,40.
Para muitos, é surpreendente o que está acontecendo, principalmente em razão da guerra que está em pleno curso, dos Estados Unidos contra o Iraque. Os manuais clássicos indicam que numa situação de conflito internacional dessa magnitude, os capitais secam para os países em desenvolvimento. Durante muitas semanas, a equipe do presidente Lula temeu os efeitos da guerra, que poderia desencadear algum tipo de ataque especulativo contra a moeda brasileira, como aconteceu nas crises passadas do México, Ásia, Rússia, Turquia e Argentina.
Por enquanto, nada disso ocorreu. E a relativa estabilidade da moeda no final de março mostra que grande parte das incertezas geradas pela eleição de um presidente vindo de um partido de esquerda estão superadas. O índice do JP Morgan Chase que mede o risco Brasil, que chegou a ser de 2.400 pontos na fase mais aguda da desconfiança com relação ao Brasil, caiu para menos de 1.050 pontos recentemente. Analistas avaliam que esse índice poderá descer abaixo da barreira dos 1.000 pontos nas próximas semanas.
Uma das razões para essa consistente queda do risco Brasil e da taxa de câmbio são as excelentes performances que o Brasil vem conseguindo marcar na área de exportação. O superávit comercial brasileiro está sendo projetado entre R$ 12 e 15 bilhões para 2003, mas alguns analistas chegam a falar que poderá chegar aos R$ 20 bilhões. Com isso, e com a firme atuação do Ministério da Fazenda em manter elevados superávits fiscais, o país fica muito menos dependente de recursos externos para fechar o balanço de pagamentos.
Confiantes na situação, os investidores externos voltam a comprar papéis de empresas privadas brasileiras, fazendo com que o ingresso de dólares aumente e pressione para baixo as taxas de câmbio. Uma das últimas emissões de bônus de empresas brasileiras foi feita pela Petrobras, no valor de US$ 400 milhões. Mas até pequenos bancos, como o Modal, que fez uma colocação de US$ 23 milhões, estão conseguindo colocar seus papéis no mercado internacional. Até o final de março, as empresas brasileiras já tinham emitido um total de US$ 3,4 bilhões.

Pequena apreciação – Com isso, a questão cambial está no centro das preocupações do governo. Em recente entrevista ao jornal “Valor Econômico”, o ministro do Planejamento, Guido Mantega, disse que as empresas estrangeiras voltam a ter interesse em investir em ativos brasileiros, cujos valores estão depreciados em dólar. Uma possível apreciação do câmbio, para R$ 3,30 ou R$ 3,20 por dólar, poderia gerar significativos lucros em moeda forte para essas empresas, defende Mantega.
Mas, será que o câmbio ainda pode apreciar-se? Para o economista chefe do HSBC Bank Brasil, Alexandre Bassoli, “não se deve excluir a possibilidade de alguma apreciação, talvez na casa dos R$ 3,30 por dólar, mas não muito mais do que isso pois o governo teme que uma queda exagerada possa comprometer o balanço de pagamentos”.
Ainda de acordo com Bassoli, caso a apreciação do câmbio avance além do que o governo considera saudável, ele teria a opção de não rolar integralmente a dívida interna indexada ao câmbio, resgatando esses papéis. “O governo tem mencionado que a parcela da dívida interna indexada ao câmbio é muito elevada, então ele poderia usar esse momento para reduzir essa dívida cambial”, diz o economista chefe do HSBC.
Para o analista de câmbio do Citigroup, Paulo Tenani, o atual descolamento entre as taxas domésticas de juros e a rentabilidade do mercado externo acabam provocando uma sensação de instabilidade. “Para que o câmbio chegue a uma situação estável, essa diferença de rentabilidade precisaria estar entre 4,5 a 5 pontos percentuais, mas hoje está em torno de 13 pontos percentuais”, explica Tenani. “Essa diferença é absurda”.
Tenani também acredita que há espaço para que o câmbio se aprecie, mas não acredita que o governo vá permitir isso num nível elevado. “O governo está segurando o câmbio no peito, através de uma política monetária super apertada”, diz ele. “Ele não iria permitir nenhuma apreciação muito significativa”.