Bradesco na liderança | Empresas que atuam no segmento aceleram i...

Edição 356

Manter a primeira posição no ranking de custódia de 2022 até 2023, período conturbado e de alta volatilidade no mercado frente à fuga do investidor das classes de risco e à reviravolta no crédito privado no primeiro trimestre deste ano, foi o resultado de uma estratégia que, para o Bradesco, está centrada em olhar para todos os segmentos para não perder clientes, segundo explica Fabiano Bottignon Kosaka, superintendente executivo responsável pela área comercial, produtos e tecnologia. “O foco é nos clientes, para atender de perto suas demandas, assim como na transparência e nos processos. Temos conseguido manter a base e crescemos em número de clientes”, diz.
A instituição segue com investimentos em tecnologia e na adequação de seus serviços aos impactos da Resolução CVM nº 175 sobre a indústria de fundos de investimentos, afirma Kosaka. O objetivo é ter tudo pronto em sistemas e processos na custódia até os prazos de 02 de outubro próximo, quando entra em vigor a primeira etapa do novo marco regulatório, e na segunda etapa, em 01 de abril de 2024.
Entre os pontos específicos para o público de fundos de pensão, ilustra Kosaka, está a adequação dos serviços à nova regra que estabelece o CNPJ por plano de benefício e cujo prazo final é o próximo dia 30 de junho. “Estamos bem adiantados, até porque alguns clientes já haviam antecipado a segregação virtual de patrimônio em seus planos. Nós nos antecipamos nesse processo e todas as contas de clearing já foram abertas, agora estamos fazendo o tombamento das posições”, afirma.
O Bradesco segue em primeiro lugar no ranking de custódia total divulgado em março pela Anbima mas, além disso, saltou do terceiro para o segundo posto na custódia de operações para o mercado externo, com 15,74% de participação relativa – praticamente inalterada em relação à de março de 2022, que era de 15,8%, mas agora passando à frente do JP Morgan, que recuou do segundo para o terceiro lugar nesse segmento.
“A estratégia para manter a liderança no mercado de custódia e seguir crescendo reflete o nosso investimento em pessoas, sistemas e processos, o que nos permitiu fazer, por exemplo, a adequação dos serviços ao movimento de migração dos investimentos para a renda fixa, que conseguimos antever”, explica Gervásio Agustinho de Oliveira, superintendente executivo responsável pela área operacional, produtos e serviços.
Dentro da classe de renda fixa, que segue no centro das estratégias dos investidores, houve também mudanças na precificação e na percepção de risco impostas pelos episódios que abalaram o mercado de crédito privado logo no início de 2023. Oliveira lembra que os eventos da Americanas, da Light e de outras empresas, que levaram a uma remarcação de preços e à fuga do investidor, drenaram recursos das alocações nessa classe. “Perdemos em volume nos fundos por causa do crédito privado mas, por outro lado, ganhamos no mercado de emissões de crédito isento, que atrai os nossos investidores”, afirma.
O crescimento da custódia para o mercado externo, com a segunda posição obtida pelo banco, vem da soma entre as operações de ADRs, nas quais já detinha a liderança, e das operações que seguem a Resolução nº 4.373, relativa aos investimentos de não-residentes, informa Francisco Borges Neto, superintendente executivo do banco responsável pela área de operações internacionais. Embora não haja uma meta definida de crescimento para 2023, um objetivo está bem claro: “Não queremos perder esse segundo lugar e pretendemos ir aumentando os volumes ao longo deste ano”, avisa.
No caso dos ADRs, ele explica que a instituição já é, há algum tempo, uma referência para esses programas, mas em 2022 conseguiu acrescentar mais três deles ao seu portfólio, o que ajudou a consolidar sua nova posição no ranking.
“No segmento da 4.373, a maioria ainda é de investidores institucionais mas temos visto também um crescimento expressivo de pessoas físicas que utilizam essa regra. Temos feito isso de forma muito coordenada com a unidade de pessoas físicas do banco aqui e, lá fora, usamos a estrutura internacional do banco para atuar junto a esse público”, diz.
Esse modelo, que sempre foi mais utilizado pelas pessoas jurídicas institucionais, passou a ser interessante para as pessoas físicas em função de uma série de mudanças feitas pelo Banco Central do Brasil para facilitar a vida dos não-residentes, “Em 2022, os volumes de investimentos das pessoas físicas cresceram 70% aqui e isso decorre também do fato de termos capilaridade e verticalização para atender esses clientes, com corretagem, custódia, investimentos e inclusive fechamento de câmbio para eles”, diz.

Ter a agilidade necessária para adequar os sistemas à regulação da indústria é um diferencial importante nos serviços de custódia. Um exemplo disso, diz Oliveira, foi a preparação para a entrada em vigor da Resolução CVM nº 175, cuja primeira etapa passará a valer a partir de outubro próximo. “Prevíamos a entrada da nova regulação em abril passado, mas ela foi postergada para outubro e já havíamos nos preparado para isso em relação aos sistemas, então estamos um a dois passos à frente, tanto em custódia e controladoria como em administração fiduciária”, afirma. O banco tem hoje cinco mil fundos de investimento atendidos por esses serviços.
De acordo com a nova regra, a partir de outubro os fundos já existentes terão prazos diversos para adequação – os FIDCs até o dia 01 de abril de 2024 e o restante até dezembro de 2024, mas os novos fundos criados a partir de outubro já nascerão com a estrutura de classes e subclasses. A convivência dessas duas esteiras de fundos será um desafio que exigirá atenção especial da custódia. “O arcabouço traz maior responsabilidade, agora melhor dividida entre o administrador e o gestor dos fundos, que passará até mesmo a contratar outros prestadores de serviços, então é uma divisão que traz mais segurança ao mercado mas não tira a responsabilidade do administrador porque teremos que fiscalizar os serviços de todos”, observa.
Com a mudança, fica muito claro o que é responsabilidade do administrador e do gestor. “O administrador fica em papel secundário, porém não menos importante, que é o de fiscalizar o enquadramento do gestor em relação às políticas de investimento”, aponta Kosaka. Como resultado, ele acredita que deverão surgir várias oportunidades e até mesmo aumentar o número de administradores fiduciários na indústria porque hoje a responsabilidade recai apenas sobre o administrador. “O novo marco segue a Lei da Liberdade Econômica. Eu vou me responsabilizar só pela minha parte, então haverá mais oportunidades atraentes para os administradores e para os prestadores de serviços em geral. Para nós, no banco, trabalhar na estrutura de classes e subclasses não é novidade, porque já fazemos isso nos fundos estruturados”, diz Kosaka.
Ele observa que haverá maior complexidade para fazer a adaptação dos estoques de fundos, mas a segregação das taxas cobradas será um avanço porque trará maior transparência, principalmente para os distribuidores, porque para cada distribuidor haverá uma subclasse. Além disso, ele lembra que o projeto em estudo pela CVM, que prevê a portabilidade de custódia, trará também maior transparência, caminhando na mesma linha da Resolução 175. “O investidor saberá o que é cobrado pelos diferentes prestadores de serviços e poderá pedir sua portabilidade, comparando esses prestadores de acordo com as taxas segregadas. Isso significará maior competitividade para a indústria, em especial para a distribuição”, diz Kosaka. Isso porque os feeder funds e os fundos-espelho passarão a ser enquadrados na estrutura de subclasses, ou seja, em lugar de criar um novo fundo para cada um, haverá uma subclasse. “Do ponto de vista operacional, o fundo passa a ser uma subclasse. Vamos rodar o passivo para calcular as cotas, como acontece hoje, porém ficará melhor organizado”, afirma.

Ativos Custodiados (em pdf)